No meu último dia na clínica tive uma espécie de festa de despedida com todos que cuidaram de mim. Cada um deles, um por um, falou sobre como eu havia chegado. Que tinham medo de mim. Mas que hoje sou o maior orgulho deles. Eu chorei em muitos momentos, principalmente na minha despedida com a Dr. Danvers. Sem ela, eu não passaria de três horas naquele lugar. Ela me dava esporros, puxava minha orelha e falava coisas que eu não queria ouvir, mas tudo isso me levou a onde estou hoje. Três meses completos de liberdade do mundo de fugir da realidade, dos problemas... Em cada sessão da terapia, eu falava de um deles e o que eu poderia fazer para resolvê-los. Eu tinha vários planos em mente, mas o primeiro deles era me perdoar. Me perdoar por jogar anos da minha vida no lixo, vivendo chapada em quartos de hotel sem nem olhar o céu pela janela. Me perdoar por me drogar até sofrer um aborto instantâneo de uma gravidez que eu sabia que existia, mas que preferi ignorar. Me perdoar por preferir minhas alucinações com heroína a encarar o câncer da minha mãe junto com ela. Me perdoar por ser fraca, masoquista e egoísta. Tudo isso ficaria para trás.
Quando cheguei na frente da porta do meu apartamento, respirei fundo para me preparar para uma nova vida. Mas, quando abri a porta, a primeira coisa que vi foram móveis queimados, cinzas no chão da minha sala, do dia que eu queimei todos os pertences materiais que me atormentavam. Aquilo embrulhou meu estômago, fazendo minha cabeça retomar as noites que passava jogada no sofá alimentando meus vícios.
Então estava decidido. Eu ia comprar uma casa. Uma casa grande, com vários quartos para receber visitas e os amigos que eu pretendia fazer, com um quintal grande para churrascos brasileiros e uma piscina para os domingos de sol.
Sol. Eu sentia saudade dele, principalmente o meu sol brasileiro... Tinha certeza que estava uns três tons mais branca que o normal, realmente queria o meu bronze de volta.
Então, Califórnia. Eu vou me mudar para Califórnia.
Coloquei minhas malas no chão, desviando o olhar daquela sala deplorável acinzentada, e fui em direção à cozinha. Sabia que Maria estava lá preparando algo bem brasileiro para a minha volta, pois o cheiro a denunciava. Ela era a única pessoa com quem eu podia contar nesse mundo, a pessoa que cuidou de mim desde que comecei a morar fora e aturou todas as minhas fases, principalmente as piores. Já cheguei a jogar um copo de vidro nela quando ela tentou me impedir de injetar heroína um dia, e quis me matar por isso. Ela era a pessoa mais doce e forte que eu conhecia. Era imigrante mexicana ilegal que fazia trabalho de faxineira nos nojentos ricos daquele país, e quando a conheci a primeira coisa que fizemos foi legalizar sua estadia aqui. Ela mandava dinheiro para os três filhos mexicanos, que estavam vivendo demasiadamente bem lá. Mas ela sentia a falta deles. E toda essa saudade de cuidar de alguém era sanada comigo. Já me deu banhos gelados quando cheguei quase inconsciente de festas, me dava conselhos amorosos e perguntava toda vez que eu acordava com um cara em casa se aquele era o que conseguiria me domar. Eu senti falta dela, também.
-MARIA, HOJE NÓS VAMOS COMPRAR BIQUÍNIS!
Entrei na cozinha gritando, vendo a senhora de quarenta e poucos, baixinha, morena, dando um pulo de susto. O sorriso que ela me deu quando me reconheceu era impagável.
-Díos mio, chica! Cuase murí del corazón!
Corri para o abraço dela. Aquela era a minha segunda mudança: agradecer. Maria logo entendeu que aquele abraço significava uma mudança gigantesca, pois nunca me viu fazendo isso antes. Enquanto relembrava tudo que ela já havia passado comigo, algumas lágrimas escorreram entre meus "gracias por todo" e "perdón por todo". Maria logo começou a chorar comigo, dizendo coisas em espanhol que eu ainda não conseguia identificar, além de "mi hija". Eu sorria e chorava no abraço da pessoa que, de hoje em diante, só receberia o melhor de mim.
Liguei para minha corretora de imóveis e pedi que ela encontrasse a casa dos meus sonhos em Los Angeles. O bairro, o mais caro dos Estados Unidos, seria Bel Air. Além dos quatro apartamentos que tenho nas cidades que mais faço trabalhos, como New York, Boston, Atlanta e Chicago, esse quinto imóvel seria diferente. Quero trazer os ares brasileiros de volta para a minha vida. Mas essa mudança só aconteceria de verdade quando terminasse de gravar o filme que eu estrearia como a Agente 0. Vou para o set em cinco dias, começaremos a gravar em sete e terminaremos em três meses. A ansiedade sempre me visitava quando eu pensava nisso, mas não era uma ansiedade ruim. É como estar tão animada para algo que você sonha acordada... Essa ansiedade era para conhecer os atores que mais gosto nesse mundo.
Tirando Chris Evans. Porque ele é um babaca.
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addicted to you {chris evans/adriana lima}
FanfictionUma supermodelo brasileira que carrega cicatrizes e overdoses em sua história. Um contrato que proíbe seu envolvimento com os atores que tanto a atraem. Uma aposta sobre o início de uma paixão. Como não se viciar?