A conversa

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Meus pés pareciam grudados no chão para sempre, eu não podia sair do lugar. Meu coração batia como nos desenhos animados, quase saindo do peito levando até a roupa junto. Minhas mãos estavam suadas e eu sentia as pernas tremerem.

Zack abriu o envelope e eu encarei o chão, logo um vazio tomou conta de mim e eu não pude ouvir nada por rápidos segundos. Até sentir um leve toque em meu ombro e então Amanda Wilson parecia sorrir e Bill Hanson me abraçou. Olhei para Zack e era verdade.

Eu havia vencido.

Eles gostaram de mim e das minhas apresentações. Eu venci. A casa era nossa.

Eu venci.

Perdi a conta de quantas pessoas me parabenizaram e de quantas eu abracei, explodindo de felicidade. Fui chamada para os bastidores mais uma vez e já havia uma câmera me filmando, era uma transmissão ao vivo para a internet e eu sequer sabia, estava atordoada de alegria. Era impossível colocar em palavras a sensação que aquilo tudo me trazia.

Logo em seguida mais pessoas falaram comigo e agora tudo parecia acontecer enquanto eu assistia de fora. Uma experiência extracorpórea. Eu só queria poder dizer à minha família que tudo ficaria bem. Mas então ele apareceu e interrompeu tudo.

Só consegui sorrir e praticamente correr em sua direção, agora que minhas pernas não tremiam mais. Esqueci de seu estado pós-acidente e o apertei demais em meu abraço grosseiro, logo pedi desculpas e imaginei se ele havia entendido entre tantas conversas paralelas e meu choro e riso misturados.

- Obrigada. Muito obrigada por acreditar tanto em mim. Obrigada, Steve. - não resisti e segurei seu rosto e o beijei na bochecha como aquelas tias pegajosas que não te deixam fugir de seus beijos.

Ele me apertou num abraço completo, daqueles tão confortáveis que parecem até um encaixe de almas.

- Eu sabia que isso ia acontecer. Parabéns, Samantha. Você mereceu demais. - sua voz vibrou diferente perto do meu ouvido.

- Aposto que nem assistiu as outras apresentações.

- Como pode saber?

- Não sei. - eu não conseguia parar de rir.

Steve ainda tinha os braços ao meu redor quando disse algo que me fez parar de repente e nem mesmo eu sabia o porquê.

- O que posso fazer? Sou seu fã número um.

Apenas me afastei para vê-lo e agora eu não achava mais graça no que ele dizia. Havia algo naquela frase. Meu fã número um.

Eu estava abraçada ao meu fã número um e era o centro de sua atenção, pois seus olhos não desviavam dos meus. E como se no único momento de lucidez entre muitos dias ordinariamente vividos, notei algo de diferente. Ou talvez aquilo sempre esteve ali e eu não percebi antes. A energia entre nós era estranhamente positiva. Estranha porque eu não esperava aquilo ser tão forte.

Seu rosto estava tão perto do meu. Eu podia ver os risquinhos de sua íris castanha, e os lábios levemente ressecados que sorriam para mim, e o início de uma barba despontando inicialmente no queixo e na linha do maxilar. Uma vontade súbita de tocar cada detalhe de seu rosto me tomou.

- Caipira!

Senti os braços finos de Wendy me abraçarem apertado e logo Josh se juntou e estávamos os quatro num abraço coletivo. Uma certeza que esse momento me deu era de que ali não me faltava amor. Não mesmo.

Steve protestou e nos afastamos, porém Wendy logo me abraçou de novo.

- Caipira, você é tão talentosa! Parabéns! Foi incrível! Não se esqueça de mim quando ficar famosa. Quero todos os vestidos de grife que você usar nas premiações.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora