Fã número um

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Eu faria minha melhor atuação e convenceria a todos de que estava bem, mas principalmente Carmen. Ela era meu passe de liberdade. Se acreditasse em mim, me daria cobertura.

A enfermeira estava em seu intervalo, e essa era minha deixa. Pedi para Alfred, o jardineiro, chamar Carmen. Ela veio minutos depois.

— Precisa de algo? — veio toda atenciosa como sempre, deixando uma mão cair sobre meu ombro.

— Sim, preciso da sua ajuda. — tentei soar o mais tranqüilo possível e, ao mesmo tempo, discreto. Talvez a enfermeira não me liberasse, ou ainda, ligasse para o meu pai e ele poderia vir até aqui e me barrar.

Eu não podia ficar em casa e perder a final do NY Talent.

— Eu preciso sair daqui, Carmen.

— Quer voltar ao quarto? Ora Steven, você precisa pedir ajuda a sua enfermeira, não a mim, garoto.

— Não, não é para o quarto. Eu preciso sair de casa. Preciso ir até Manhattan.

— O quê? Ficou maluco?

— Shh! Carmen, fale mais baixo. Você é a única que pode me ajudar. Pode me dar cobertura.

— E por que raios eu te daria cobertura quando o que deve fazer é ficar de repouso? Você acabou de voltar do hospital, por que quer ir até Manhattan?

Eu não sabia se devia dizer. Aquilo poderia gerar perguntas demais que eu queria evitar.

Carmen me olhava com seus olhos escuros e incisivos demais, acusadores.

— A Samantha vai se apresentar hoje e eu quero estar lá.

Ela franziu a testa e quase o rosto todo.

— Mas que apresentação? E por que Manhattan?

Respirei fundo e reuni forças o suficiente para me levantar sozinho e até consegui ser rápido. Carmen continuava me observando, e agora mais acusadora.

— Carmen, eu vou te contar a verdade.

— Ótimo! Vamos lá, diga antes que eu chame a enfermeira ou seu pai.

Eu tinha que fazer aquilo funcionar.

— Eu preciso estar lá quando a Samantha se apresentar. Eu a ajudei por todo esse tempo e... — minha respiração ficou levemente ofegante e eu não queria que Carmen notasse ou se preocuparia demais e não me ajudaria. — Eu a ajudei e...

— E o que, menino? Steven, você está bem?

— Eu sou apaixonado por ela.

O alívio que senti por finalmente dizer isso em voz alta e a alguém de confiança foi enorme. Carmen ficou me encarando em choque e depois com um sorriso gigante nos lábios até seus olhos se encherem de lágrimas, o que podia ser constrangedor.

— Minha nossa, eu não creio que esse dia chegou. Você, apaixonado. E pela Samantha. Ah, minha nossa!

— Eu sei que acha fofo, Carmen, mas não tenho muito tempo. Você precisa me ajudar, por favor. — segurei suas duas mãos com firmeza e supliquei com os olhos, mas não me deixei parecer fraco o suficiente para ser mantido preso em cativeiro, como eu me sentia.

Ela ficou me olhando com seus olhos redondos e absurdamente escuros com uma pincelada de compaixão. Era óbvio que queria me ajudar, mas ainda estava na dúvida se faria ou não. Suspirei pesado e relaxei os ombros em derrota e soltei suas mãos, desviei dela e comecei o caminho de volta para a casa.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora