Planos em risco

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Eu estava parado em frente ao notebook esperando uma inspiração cair do céu para ao menos começar minha história para o trabalho de final de semestre, mas estava muito difícil. Qualquer coisa me fazia perder a atenção, e quando Carmen bateu à minha porta eu perdi qualquer resto de paciência.

- Entre.

Vi Carmen abrir a porta e entrar apenas com metade do corpo.

- Oi, Steven. Pode me desejar sorte para hoje? - ela ainda ria quando me levantei e fui em sua direção.

- Sorte? Por quê? - saí do quarto com ela me acompanhando.

- Hoje é sexta-feira e já são quase duas da tarde. Vou encontrar sua amiga e comprar o vestido de amanhã. Pelo que você me fala dela, a garota deve ser uma fera. - ela riu de novo, muito tranquila para quem estava perto de lidar com Samantha.

- Ela está mais para um dragão cuspindo fogo nas pessoas. - não evitei rir com a comparação. Era exagero, mas não era totalmente mentira.

- Steven! Não fale isso da garota. Ela me pareceu um doce de pessoa. - Carmen me repreendeu enquanto descíamos a escada principal.

- Um doce de limão sem açúcar, só se for. - virei para Carmen e a fiz parar por um instante quando já havíamos descido e estávamos perto da porta. - E eu não vou te desejar sorte porque não quero que dê certo. Não quero ir a esse leilão estúpido e muito menos ao lado dela.

- E por que se sente assim? - Carmen me fitou com seus olhos escuros e suas sobrancelhas grossas arquearam. Hoje ela estava com uma trança que caía para o lado e vestia roupas informais que, definitivamente, a deixavam mais bonita.

Respirei fundo e soltei o ar pela boca, cansado.

- Carmen, meu pai nunca me chama para esses eventos. Nunca. De repente ele exige minha presença só porque é um dos patrocinadores e ainda exige que eu leve a Samantha Granada quando eu podia muito bem escolher uma acompanhante da minha preferência.

Eu vi que ela segurou a risada, mas não se aguentou por muito tempo.

- Eu disse algo engraçado?

- Granada? De onde tirou isso?

- Fico aqui falando do meu pai e você se concentra na parte que eu falo daquela louca? - relaxei os ombros, desanimado.

- E não passou pela sua cabeça que ele pode querer fazer algo para você? Talvez ele esteja tentando se aproximar. - ela não ria mais.

- Não. - enfiei as mãos nos bolsos da calça. - Ele nunca tentou se aproximar, não acha que vai ser agora, não é?

- E por que não? Steven, você conhece o seu pai.

- Conheço? - senti o coração apertar ao pensar na possibilidade que ela levantou.

- Não fale assim, filho... - Carmen me chamava assim às vezes. E também fez uma cara meio triste que eu detestava. - A gente já conversou tanto sobre isso...

- Acho que já está na hora de você ir encontrar com a Samantha. - falei sem olhar para ela.

- Tudo bem. Não vai mesmo me desejar sorte? - ela sorriu e estava quase abrindo a porta.

- Não, Carmen. Sinto muito por estar com esse humor hoje. - falei saindo para qualquer outro lugar da casa.

Ouvi quando ela fechou a porta e andei até parar na segunda sala de estar, onde geralmente tinha música, principalmente no piano. O mesmo piano que toquei para Samantha cantar.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora