Pós-show

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Samantha


Minha banda estava feliz por mim, Robyn e Jared não paravam de brindar e dizer que eu seria um sucesso absoluto. Eu estava na primeira taça e a verdade era que nem queria comemorar nada. A adrenalina baixou e meu corpo parecia fraco. Na realidade, era meu peito que parecia fraco, como se meu coração batesse forte demais e começasse a sugar toda a energia que ia para o resto do corpo.

De repente o camarim ficou pequeno demais e o ar não me era suficiente. Tentei ser o mais educada possível e sorri quando me levantei, pedindo licença, prestes a sair. Mas quando minha mão tocou a maçaneta da porta, senti alguém tocar meu ombro. Virei e Barbara me encarava desconfiada. Ela ficou me olhando e apenas sorriu, e eu juro que foi estranho e, ao mesmo tempo, normal. Era como se soubesse pelo que eu estava passando e eu não havia dito uma palavra sequer.

Tentei sorrir de volta e aposto que foi terrível, em seguida saí do camarim e segui pelo corredor até a porta de saída de emergência. Empurrei-a e senti a lufada de ar fresco levar todo meu cabelo para trás de uma vez. Andei até a beira da calçada, onde, mais para frente, ficava o estacionamento que hoje estava repleto de carrões caríssimos que eu nem os nomes sabia. Meus pés estavam gelados com o toque no chão de concreto, mas pouco importava.

Dei um gole no champanhe que nem havia notado que ainda estava comigo e o líquido desceu pesado. O nó na garganta era real. Pensei que havia deixado meu coração no palco, mas não, foi Steve quem ficou com ele e eu não conseguia mais pegar de volta.

Quase saltei para trás com o barulho da porta se abrindo. Virei no mesmo segundo, com os ombros encolhidos e o coração acelerado. E que acelerou ainda mais quando vi o próprio Steve me encarando com aquela cara pálida de espanto. Ou seria desespero?

Ou era eu quem estava desesperada?

Ele ficou ali parado me olhando e foi só quando o vento bateu forte demais e trouxe meu cabelo ao rosto que me mexi, para tirar os fios que incomodavam.

- Oi.

Steve ainda podia parecer o cara de nerd e psicopata que não tinha muito jeito em falar com as pessoas. Ele não era nerd, muito menos psicopata, e sabia como falar com as pessoas, mas agora estava tímido e contido daquele jeito que só ele fazia ser fofo.

Lutei para conter meu sorriso diante dele. De alguma maneira que eu não sabia explicar ainda sentia que precisava ser a Samantha Granada, durona e implacável.

Então não respondi nada e continuei fitando-o de volta.



Steven


Eu queria ter começado com um "volta para mim, por favor", mas só o que saiu foi um discreto "oi". Ela estava tão linda, e sua apresentação foi tão emocionante... será mesmo que a última música havia sido para mim?

Aqueles grandes olhos azuis me fitavam de volta e eu só queria poder ficar ali por um tempo, mergulhando até me perder de vez em seu olhar.

- Por acaso cantou aquela música para mim?

Ah, droga. Droga, droga, droga!

Por que aquela pergunta saiu da minha boca? Era para eu ter apenas pensado naquilo, não dito. Ela fez uma cara de choque e franziu o cenho, mas demorou demais a fazer isso. Será que havia algo de verdade na minha pergunta.

- Anos passarão e você continuará lerdo.

Sua voz cortou o silêncio sepulcral entre nós e eu não entendi absolutamente nada. Ser lerdo era cansativo.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora