Os bons dias chegaram

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A imagem da câmera não era lá muito boa, mas consegui ver a cara de pateta que Jack fez quando contei a verdade sobre os dez mil dólares que "milagrosamente" apareceram em sua conta bancária. Em seguida veio minha mãe, quando pedi a ele que a chamasse, e ela demorou ainda mais a entender tudo.

Porém não demorou muito a começar a chorar, para minha surpresa, e Jack cedeu seu lugar na cadeira a ela. Ele voltou com outra e sentou-se ao seu lado, chorando junto logo depois.

- Eles querem até um contrato comigo. Ainda não sei quando será a reunião, mas tem uma gravadora interessada em mim. - e então foi minha vez de começar a chorar.

- Meu Deus, minha irmã vai ficar famosa antes de eu me tornar um astro de Hollywood. - Jack riu alto entre lágrimas e minha mãe lhe deu um tapa e logo o abraçou de lado.

Vi-o beijar o topo de sua cabeça e então secar o rosto.

- E tudo isso graças àquele garoto que veio até aqui com você? É isso? - perguntou ela.

- A senhora também achou que eles eram mais que amigos? - Jack perguntou a ela somente e eu comecei a rir.

A matriarca dos Walker sorriu e olhou para a tela do computador, para mim. Seu olhar era tão terno e calmante que eu mal acreditava que era a mesma mulher com quem havia discutido meses atrás.

Ainda não havíamos conversado sobre isso. A verdade é que depois daquela discussão não nos falamos mais, e a conversa pelo Skype com ela e Jack foi a primeira vez que falamos depois da morte do meu pai. Eu ainda sentia como se um elefante enorme e branco estivesse na sala, mesmo ela estando a milhas de distância. Só que agora não era o momento de falar sobre isso, mas sim de celebrar o pagamento da dívida e ter nossa casa de volta.

Ninguém ia tirar aquela casa de nós. Eu ainda voltaria lá e relembraria de tudo, as vezes que briguei com Jack e saí correndo atrás dele na escada. Ou quando minha mãe gritava conosco, nos mandando parar de brigar, e subíamos correndo de volta. Ela nos ameaçava dizendo que contaria tudo ao nosso pai, e era aí que corríamos de verdade e o fogo cessava. Se meu pai soubesse sobre qualquer briga entre nós nos obrigava a pedir desculpa um para o outro e ainda vestir uma blusa gigante que cabia Jack e eu e então ficaríamos abraçados até as desculpas serem sinceras.

Evitar isso era a única coisa que meu irmão e eu concordávamos.

- Vou chegar naquele banco, abrir a porta da sala do gerente, e esfregar o dinheiro todo na cara dele. - Jack começou e minha mãe caiu na risada. - Se eu fosse a Samantha seria exatamente o que faria.

Gargalhei com aquilo, era a mais pura verdade.

- Filha, ainda não acredito que isso está acontecendo. Os bons dias finalmente parecem ter chegado.

- É mãe, eles chegaram.

Eu mal podia esperar pelo dia que nos veríamos novamente. Eu só queria abraçá-los e então preparar um jantar na nossa cozinha brega e antiga e então me jogar no sofá enquanto Jack e minha mãe discutem sobre qual filme cult devemos assistir e eu decido que veremos uma comédia boba qualquer.

Era isso que eu e meu pai fazíamos. Sempre foram Jack e minha mãe de um lado, os cultos e elegantes, e eu e meu pai, os desleixados e despreocupados.

A saudade doía, mas eu sabia que com o tempo a dor iria embora. De alguma forma, eu sabia.

...

Pensei que a reunião com a gravadora seria no dia seguinte à final do NY Talent, mas não recebi nenhuma ligação ou qualquer outro tipo de contato. Parte de mim entrou em desespero imaginando que tudo não passava do mais belo sonho que minha humilde mente inventara. Contudo, bastou pesquisar sobre o NY Talent no Google e li dezenas de notícias que me confirmaram como a grande vencedora.

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