Promessa

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Um hábito que adquiri com o tempo foi o de rodar de moto pela cidade, sem destino em mente, sempre que me sentia incomodado com alguma coisa. Eu não queria acreditar, mas a discussão com Samantha me afetou mais do que o que parecia possível. E dessa vez eu poderia ir de NY até o Alabama e meu humor não melhoraria nem em um décimo sequer. E nem mesmo a rápida conversa com Natalie na saída da biblioteca melhorou, eu olhava para ela e lembrava do que Samantha dissera sobre Brad ter ficado com ela.

Eu tinha raiva dessa hipótese e do que ela significava, que eu era um completo idiota. Eu tinha raiva de Brad por ficar com todas as garotas da faculdade, exceto a Samantha e... Ah, ela. Ela tinha que estar envolvida. Por que ela precisava ser tão incisiva e ácida? Eu sei que é preciso ouvir a verdade, mas não há nada que confirme que Natalie e Brad já se pegaram pelos caminhos escuros da NYU, e Samantha não precisava falar daquele jeito como se esquecesse do que fiz por ela.

Eu só queria que ela me apoiasse, mas já não me importava. Logo depois que deixei Samantha falando sozinha nas escadas da biblioteca, eu podia sentir meu sangue ferver como nunca. Em seguida encontrei Natalie e aquilo só piorou, e então depois de rodar pela cidade por um tempo que não me importei em contar, eu já havia esfriado a cabeça e me acalmado a ponto de não me importar mais.

Fui para casa e só então me dei conta de que o plano inicial de coletar mais informações sobre Samantha para o meu trabalho foi por água abaixo. Eu nem devia insistir nessa história, ela não me parecia valer a pena agora. Podia pensar em qualquer outra coisa e me dedicar a fazer um bom trabalho. Talvez uma história de superação de alguém marcado por uma fatalidade emocional. Aquilo poderia me dar uma boa nota e de quebra emocionar o leitor.

Aquela me parecia a melhor opção no momento.

Minha casa estava, como sempre, completamente vazia. Só havia o eco dos meus passos. E pela primeira vez agradeci por isso. Fui em direção ao meu quarto desejando dormir e passar por aquela mágica de acordar no dia seguinte e se sentir melhor. Contudo, a cena se repetiu: meu pai me chamou em sua sala.

É sério quando dizem que algo nunca está ruim o suficiente, sempre pode piorar.

Parei na porta e olhei para o meu pai, hoje de pé, encostado na beira da mesa e com uma pasta daquelas de arquivo na mão. Sério como sempre.

- Carmen me disse que estava na faculdade. Presumo que tenha acabado de chegar. - disse ele.

- Sim. - aquele não parecia um bom dia para uma conversa com meu pai. Definitivamente.

- Parece que vou precisar insistir mais para você abandonar essa ideia de ser jornalista, não é?

- Essa conversa de novo? - minha voz saiu mais alta do que o normal. - Já é a milésima vez que vem com essa ideia de me fazer abandonar a faculdade. Chega a ser engraçado ver a maioria dos pais pensarem o contrário do senhor.

- E você de novo com esse comportamento. - ele permaneceu inabalável, mas sua voz entregou certo incômodo.

- Se isso te incomoda, eu não me importo.

- É claro que me incomoda, minha criação foi para que você fosse uma pessoa educada e que, certamente, não responde o próprio pai dessa maneira. - ele inclinou o queixo, mostrando seu melhor ângulo que todo mundo via nas fotos que saíam nos sites e revistas de negócios e em algumas edições da Rolling Stone.

Eu odiava aquela pose também. O milionário, poderoso, inatingível. Inatingível até para o filho, que ele adorava lembrar que era seu único herdeiro. Pouco me importava essa história de único herdeiro, não pedi para ter nada daquilo.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora