Ressaca

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Meu braço direito estava adormecido e eu tentei me virar. Minha cabeça de repente doeu e eu apertei os olhos antes de começar a abri-los lentamente. Minha visão ainda estava um pouco embaçada quando me dei conta de onde e como estava. Demorei até assimilar tudo.

Em movimentos lentos me sentei e senti um dor horrível na testa, levei a mão até o que eu queria que não fosse uma ferida e senti um pequeno machucado protuberante. O que diabos aconteceu?

Respirei fundo tentando me lembrar e me virei, sentando agora com as pernas para fora do sofá. E foi então quando fiquei extremamente surpreso ao ver Samantha ali ao meu lado, dormindo. Ela estava com a cabeça deitada no encosto do sofá, respirando calmamente. Soltei um grunhido quando minha cabeça começou a latejar e ela se mexeu, e então acordou.

- É você mesmo? - sua voz era mais rouca ao acordar, e mesmo assim adorável.

- É claro que sou eu. - tentei me lembrar do que me causou aquela dor de cabeça horrível. - Que dor de cabeça horrível. Por que você dormiu aqui? Eu dormi... - apontei para a almofada em seu colo.

- Sim. E olha só, é você mesmo. - ela fingiu um sorriso e tirou a almofada do colo e ficou de pé tão rápido que quase não acompanhei.

- Mas por quê? E você ficou aqui? - pisquei os olhos várias vezes e cometi o erro de virar a cabeça rápido demais para ver Samantha, e tudo começou a girar. - Por que minha cabeça dói tanto?

- A bebida foi culpa sua, mas a ferida na testa fui eu, te empurrei para dentro do táxi com força demais e você bateu a cabeça na porta.

- Não me lembro disso, mas acredito. - passei a mão na testa de novo e doeu mais dessa vez.

- E também implorou para que eu ficasse. Pediu diversas vezes e dizia que eu era... - a rouquidão diminuiu e ela parou de falar.

- O que eu disse? Não foi nada demais, foi?

Espera, ontem à noite, a festa, Brad e Natalie...

Samantha encarou o chão e balançou a cabeça em negativa.

- Mesmo? Eu não disse nada que te chateou? - perguntei de novo, pois não me lembrava de nada que parecia ter acontecido.

Não me lembrar de tudo, certamente, me deixou um pouco apavorado.

- Relaxe, você não disse nada demais. Só foi um tanto pegajoso, nada preocupante. - ela me olhou meio sem jeito e começou a andar até a porta enquanto alisava sua roupa com as mãos. - Acho que já posso ir, finalmente.

Minha cabeça doía e agora parecia que eu sabia o real significado da palavra ressaca, mas saber que Samantha ficou ali a noite toda foi mais do surpreendente. E eu dormi no colo dela? Mas como...?

- Não precisa ir agora. - falei e ela parou, mas não me olhou de volta. - Se me aguentou bêbado merece pelo menos um café da manhã em recompensa, não acha? - dei risada e minha cabeça latejou.

Eu precisava de um remédio. De vários remédios.

- É, acho que mereço. - ela concordou um pouco hesitante. Será que mentiu quando disse que eu não falei nada demais?

Afastei esse pensamento e me levantei lentamente. Samantha andou comigo pelo corredor, descemos os degraus quase infinitos e chegamos até a cozinha, em silêncio. Em silêncio. Eu podia jurar que ela faria alguma piada sobre minha bebedeira da noite passada ou então me xingar por tê-la feito passar a noite aqui e que dormi em seu colo, mas não, ela ficou calada durante todo o caminho.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora