Éramos nós

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- Acho que tudo começou quando a gente se conheceu.

Não pude evitar me lembrar do dia que nos conhecemos. Eu estava tão imersa no drama da minha família com o banco e a hipoteca que ignorei Steve completamente. Ele só parecia mais um aluno esquisito.

- Quando você me ouviu conversando com meu irmão no telefone. Parecendo um psicopata bisbilhotando. - respondi.

- É, você se lembra. - ele estava estranho. - Tudo começou no ano passado, na festa de Halloween. Eu nunca participo das brincadeiras em grupos, mas naquela noite eu participei e brincamos de verdade ou desafio.

Eu não estava entendendo nada daquela história toda, mas de alguma forma gostava de ouvi-lo contar. Podia ficar parada ali ouvindo sua voz narrar qualquer coisa. E, de fato, ouvi-o contar sobre um desafio idiota proposto por alguém ainda mais idiota, Brad. E quando ele mencionou a garota notei a semelhança com outra história, a minha.

E então ele disse Cleópatra.

- Era como ser transportado para outro lugar bem longe dali, ela me capturou até a alma e me jogou de volta no mundo de qualquer jeito quando se soltou de mim.

Ah, minha nossa!

Espera, foi assim que ele se sentiu? Eu o fiz sentir isso?

Não, isso não podia ser verdade. O meu melhor amigo era o garoto que beijei na festa enquanto vi Natalie usando a mesma fantasia que a minha? Ele procurou por mim. Ele não procuraria por todo esse tempo se soubesse que era eu.

Eu!

- Steve...

Não consegui dizer mais, minha voz sumiu.

Continuei ouvindo a história e tudo só me perturbava mais. Eu sabia sobre aquilo porque eu era a garota! Eu me lembrava de Brad e seus cabelos loiros me chamando e de como o achei bonito e atraente. E então eu estava beijando alguém que não vi o rosto, mas que, antes de sair correndo, vi o sorriso iluminado que parecia ser de satisfação. Eu não queria ter saído, nunca quis, mas Natalie me veria se eu continuasse ali, e um confronto por causa da mesma fantasia que a dela era algo que eu, definitivamente, queria evitar.

Aquele garoto era Steve.

O mesmo que se tornou meu melhor amigo e protagonista na minha vida. O mesmo que a cada vez que me olhava por tempo demais me deixava tímida, ou que me arrancava um sorriso quando me chamava de granada ou caipira.

Já nos conhecíamos, mas não havíamos sido apresentados.

Eu mal conseguia respirar direito diante daquela revelação.

- Steve... essa história..

- Espere, por favor. Ainda não cheguei na parte que realmente importa.

O que mais poderia haver? E de tão importante assim? Aquilo já era suficiente para me virar do avesso.

- Você trouxe a luz de volta. O acordo nunca funcionaria, e tudo por sua causa.

Meu coração saltou.

- Minha causa?

Não aguentei e fiquei de pé, andei até a janela e queria poder abri-la para que o vento forte que parecia fazer lá fora me atingisse e me desse o ar de volta para respirar. E só o que pude fazer foi me apoiar sobre o parapeito da enorme janela e encostar na testa no vidro, de olhos fechados, tentando me controlar ao me concentrar em respirar fundo e devagar.

- Eu jamais poderia tentar me aproximar da Natalie porque jamais estive apaixonado por ela, mas por você.

E então meu coração parou. Virei e olhei para ele e devia estar parecendo uma maluca. Ou era ele quem estava maluco. O que havia acabado de dizer?

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora