as reflexões diárias necessárias e as esclarecedoras declarações para tony stark

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como vão, mi bebezinhes?

esse é o capítulo que eu havia postado sem querer, mas agora editado, completo e com título novo, pois vivo pelo benefício da surpresa rs

qualquer dúvida, sobre qualquer questão, não se sinta acanhade e deixe-a nos comentários, que tentarei esclarecer o máximo possível. tenham em mente que Steve é uma pessoa gênero-fluido, mas o gênero-fluido tem diversos outros subtipos que estarei explorando mais ao longo da história. apenas deixando isso claro caso alguém venha a se confundir com as palavras de Esteves durante o capítulo

beijos e boa leitura

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Steven Grant Rogers

Provavelmente não sei o que estou escrevendo aqui, mas Loki diz que é eficaz desabafar por meio de textos. Então tudo bem.

Vamos tentar.

Eu nunca me senti um menino. Não estou falando de não gostar de jogar bola ou não gostar de azul — até porque eu sempre gostei. Eu nunca, de fato, me olhei no espelho enquanto criança e pensei: esse, esse é Steve Rogers. Porque não é esse Steve. É apenas Steve e sempre foi, só lamento não ter tido a oportunidade de descobrir (perceber) isso mais cedo na vida. Também nunca me senti uma garota, apesar de gostar também do que a sociedade ocidental esteriotipa como “feminilidade” — brincar de bonecas, gostar de rosa, ser delicada, usar saias e vestidos etc —, ainda que minha mãe nunca houvesse me deixado explorar mais esse meu lado por “não querer que eu fosse para o caminho do homossexualismo”. O fato é que nunca me senti realmente “homem” ou realmente “mulher”. Tem dias que sinto não fazer nem parte desse planeta, quem dirá dessa normatividade social tão binária, tão restrita, tão desproporcional ao que há dentro da cabeça do ser humano.

Ser quem eu sou, desde que me lembro, sempre foi como um peso, como um pecado que cometi sem sequer estar consciente e algo que eu deveria a todo custo esconder, reprimir, destruir. A pressão externa teve sua parte no que diz respeito à minha falta de autoconfiança, mas sem dúvidas minha própria relutância em aceitar e respeitar minha natureza teve um papel muito mais letal durante todo esse processo de “me assumir”. De vez em quando me vem à cabeça quanto da minha vida perdi apenas por ter um pênis, e ainda assim, não ser um homem — que é o certo, o socialmente aceito.

Minha identidade de gênero é fluida. Não me sinto um homem, nem uma mulher, mas sinto variações — as mudanças podem ser lentas, mas geralmente são ligeiras. É como um flash, algo que mesmo se tentasse, eu não conseguiria explicar em palavras. E não entender o seu gênero já é um problema e tanto, agora imagine receber todo o esporro do mundo e da sociedade quando ousa reivindicar e ser tratado com dignidade e respeito, apenas por não fazer parte do binarismo de gênero? O mundo é tão imensamente injusto que se deu ao direito de nos identificar sem ao menos o nosso consentimento. E o pior de tudo é que mesmo depois de anos de evolução, a humanidade se prende à ideia deturpada de moralidade, ética e identidade indivual. Abrem nossas pernas e determinam nossa vida inteira a partir da nossa genitália — e ai dela se não condisser com o padrão binário de vagina e pênis, pois a pena para tal afronta é mutilação por pressão social.

Teve momentos em que senti de verdade que meu gênero não era um problema, ou sequer algo a se debater, simplesmente porque passei a vida toda praticando a auto-opressão da minha individualidade, dos meus sentimentos, da minha identidade. Por anos da minha vida tentei (às vezes até com sucesso) reprimir quem eu era/sou, mas no final do dia, sempre me olhava no espelho e não me reconhecia. Não me conhecia, e isso mexe com a sua mente. Não saber o que é você é doloroso e ao mesmo tempo uma angústia dormente, afinal, você de todas as formas a tenta reprimir. Só que no final das contas, a natureza vence. A sua natureza vence. A sua identidade vence, e então começam as dores mais fortes.

AUTOACEITAÇÃO | 𝘀𝘁𝗼𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora