a insuficiência não implica incompetência

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quem é vivo sempre aparece, né?

eu me sinto muito mal não ter conseguido terminar essa fic, então deixo aqui uma breve despedida. obrigada a quem deu uma chance a ela, vcs estarão sempre no meu coração.

boa leitura,

lay.

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Uma vez que você entende a premissa básica das relações humanas, desde mesmo a pré-história, é muito mais fácil lidar com as mudanças de rotina repentinas ou mesmo a ausência de alguns hábitos irritantes que você se vê dando por falta eventualmente. A premissa é clara, simples, curta e grossa (alguns podem argumentar): ninguém fica. Nem mesmo quem esteve aqui desde o seu nascimento, nem mesmo quem você escolheu trazer pro seu lado por uma questão de afinidade.

Por vezes, se não sempre, nunca é algo que se pode controlar. Uma vez entendendo isso, plenamente, é possível alcançar ao menos o mínimo de “paz interior”. As pessoas não ficam e não há nada que se possa fazer pra reverter isso se elas mesmas não estiverem dispostas a mudar esse quadro. Nós entendemos isso na marra, contudo. Depois de muito passar pela mesma situação, de muito ver-se sozinhe quando outrora você teve a quem recorrer e com quem compartilhar suas conquistas que você entende que no final, sempre vai ser assim.

Por isso é importante se cuidar.

Por isso é importante ter apreço por si mesme, é importante olhar para si com o mesmo afeto e carinho e zelo com o qual se olha para um animalzinho de estimação, ou para uma criança que se gosta muito, ou para pais ou responsáveis que cuidaram de nós desde pequenos. É importante que seu amor não se estenda somente ao exterior, mas ao interior, à pessoa que você é. Porque no fim do dia, quem enxuga suas lágrimas molhando o travesseiro é você. Quem ouve seus soluços agonizados e abafados e sufocados pela fronha é você. Quem olha pro teto e tenta ajudar seus pulmões a recuperarem o ar e a respiração regrada novamente é você.

Você é a pessoa mais importante da sua vida, em primeiro lugar. Porque tudo começa daí, de um comando do seu cérebro. Somos os autores da nossa própria história, temos que estar ok pra terminar um capítulo e começar o outro. É essa a premissa básica que você tem que entender, e vai entender eventualmente. É uma mera questão de tempo. Quem somos é causa e onde estamos, como estamos, com quem estamos, é efeito. Esse pequeno delírio é um efeito de quem eu tive que ser em determinadas situações, vê?

Tudo se conecta e ainda assim, nunca realmente sabemos onde começa a conexão, sendo que está bem debaixo do nosso nariz. Somos nós, o começo de tudo, e do fundo do meu coração espero que a humanidade descubra isso o quanto antes.

Olho para o ventilador de teto do meu escritório e suspiro, isso daria uma ótima coluna. Opa, aposto que você achou que era uma coluna, não é? A propósito, aposto que está se perguntando quando foi que essa história passou a ser narrada na primeira pessoa. Bem, a partir de agora. Bem-vinde à mente brilhante de Anthony Edward Stark, sinta-se lisonjeade e sortude por ter acesso à minha genialidade de perto!

Eu tentaria explicar o porquê da autora ter desistido de narrar essa história na terceira pessoa, claro, mas aí entraríamos em uma outra gigante problemática de adolescência conturbada, família emocionalmente desfuncional, drama de identidade de gênero e sexualidade e romanticidade piegas. Acho que o que precisamos saber é que apesar de tudo, continuamos todes respirando e acordando a cada dia. Tudo bem que as noites de sono não são lá as melhores e os dias passam num piscar de olhos de tão monótonos, mas é a vida sob o neocapitalismo, creio eu. Nos resta aceitar.

Adaptar.

Mas essa história não é e nunca foi sobre ela—na verdade, nem é sobre mim. Quer dizer, é sobre mim também, mas sou apenas um instrumento pelo qual você pôde entender melhor a conduta errática e orgânica de snowflakes e millenials em geral. Ainda que eu não faça parte, teoricamente, de nenhum dos grupos acima. Muito menos Steve. Talvez Peter se encaixe, mas não vou me aprofundar nisso.

O fato é que quero que você, leitore, guarde essas minhas considerações para o resto da vida. Em algum universo eu posso ser um super herói que se sacrificou para salvar o dia, mas nesse, sou um mero jornalista tentando tocar seu coração com a arte das palavras. Não conseguiria fazê-lo, contudo, se não cuidasse de mim de vez em quando. E sou péssimo nisso, como você deve ter percebido ao longo da minha história; todavia há tarefas que temos de aceitar nunca ser o suficiente.

Mas isso não quer dizer nem por um segundo que o sentimento de insuficiência implique incompetência. Como eu lhe disse antes: estamos vives, afinal. Esse por si só já é um esforço que merece um prêmio. Ademais, melhor do que estar meramente vivo, é existir no próprio corpo.

Exista, leitore.

Resista.

Colunista: Tony Stark

AUTOACEITAÇÃO | 𝘀𝘁𝗼𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora