Quando Steve encontra Tony no chão da sala, ele possui apenas milissegundos para recompor-se de seu breve ataque de pânico e ir em direção ao corpo do menor. Steve o ergue com cuidado e o põe delicadamente no sofá, sentindo suas mãos suarem e seu coração acelerar por conta da adrenalina. Em contrapartida, o rosto de Tony está adormecido, expressão desproporcionalmente serena diante da situação.
Se fosse sincero consigo mesmo, Steve já esperava que algo do tipo acontecesse — em silêncio ele observava quanto álcool Tony ingeria no mínimo espaço de dois dias, nunca se atrevendo a repreendê-lo. Ele sabia lidar com viciados, afinal, e sabia também que até que os mesmos não fossem buscar ajuda, eles não aceitariam ajuda. (Ainda que isso não o tenha impedido de esconder as bebidas de Tony sempre que via uma oportunidade, claro, pois ele não aguentava se sentir impotente àquele ponto). O fato é que fitando o rosto do mais baixo sobre seu colo, Steve percebe tarde demais que já deveria ter posto de lado a timidez e o desconforto com a amizade relativamente nova entre os dois e começado a agir de acordo com seus sentimentos —ou ímpetos, caso a escolha de palavras ajudasse a amenizar, de alguma maneira, a intensidade da realização.
Há alguns dias, possivelmente semanas, desde que Tony e ele se viram pela última vez. Eles trocavam mensagens frequentemente, claro, mas Tony andava ocupado demais com as várias entrevistas no projeto que estava fazendo para o jornal — uma espécie de documentário sobre algumas instituições, pelo que Steve entendeu. Sem contar que Steve mesmo tinha seus compromissos, apesar de nem de longe tão importantes quanto os de Tony; ele trabalhava duro para conseguir uma promoção e, quem sabe, achar um lugar melhor para morar (seu vizinho de cima passava três dias seguidos dando festas e ele realmente precisava de uma boa noite de sono desde o dia em que se mudou). Isso ocupava seu tempo, até porque “conhecer” a filha do patrão não exatamente o punha na lista dos favoritos para ser promovido — se é que de fato isso não piorava sua situação, diante do pensamento retrógrado que senhor Romanoff visivelmente possuía em relação à sua filha.
Mas embora eles não houvessem tido muito contato ultimamente, Steve aproveitou a oportunidade (porque esses dias era só isso que ele fazia) e pediu as “coordenadas” para seguir um relacionamento saudável com Tony Stark para Bruce, que simpaticamente o ajudou e descreveu de forma objetiva e prática quase todas as nuances de sua trajetória com o menor. Desde quando se conheceram, à sua posição profissional, à sua posição como pessoa e amigo. Steve o agradecia profundamente por isso, uma vez ele não tinha os recursos para conhecer Tony Stark, o jornalista™ — além das colunas, é claro.
O que o chamou atenção, contudo, fora o cuidado explícito com que Bruce tratou de certos tópicos; Stephen Strange, por exemplo. Elu o deu mais detalhes sobre o que realmente havia acontecido e deixou claro que Tony ainda não havia superado as atitudes estúpidas do “ex”, indo mais além e mesmo desabafando sobre sua preocupação devido ao alcoolismo excessivo do menor dando as caras novamente, depois de tantos anos desde a última recaída com a morte de seus pais. Ouvir a história de Tony quase fazia com que Steve sentisse que seus próprios problemas com a família eram os mais banais, pois apesar de tudo, ele ainda tinha uma família, ainda tinha um amigo de longa data que o apoiava, e nunca fora maltratado por nenhum interesse romântico (não diretamente — ou propositadamente, de qualquer forma).
Por isso, quando Steve o encontra no chão da sala, ele se permite apenas milissegundos para entrar em pânico e então ajudar Tony a ficar mais confortável para quando acordasse e vomitasse o que quer que houvesse sido seu almoço mais cedo. Ele lembra-se vagamente das vezes em que fez isso com seu pai — o levantou do chão da sala, ou da cozinha, muitas vezes até mesmo do banheiro, esperando que ele eventualmente acordasse e Steve pudesse ajudá-lo a se limpar para fazê-lo dormir de novo, na esperança de tirá-lo do estado embriagado. Com Tony é diferente, entretanto, ainda que sejam situações semelhantes.
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AUTOACEITAÇÃO | 𝘀𝘁𝗼𝗻𝘆
FanficTony é um jornalista. Steve é um evangélico. *incompleta e provavelmente nunca vou terminar; leia por sua própria conta e risco