capítulo 5

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(2010- primeiro semestre)

Levei o copo descartável de café até a boca, já estava frio, mas eu não me importava. Sobre a mesa vários livros de antropologia, eu precisava fazer uma pesquisa sobre a historia da linguagem e comunicação e há dias eu trabalhava naquilo. A garrafa de café era cor creme com alguns grãos de café desenhados nas cores marrom, preto e amarelo. Minha mente estava a todo vapor, meus dedos escreviam as palavras, desenhavam as letras com tanta velocidade que com certeza eu terminaria aquele trabalho ainda naquele dia.

A biblioteca repleta de alunos, todos fazendo o mesmo trabalho, era um exercício para todas as turmas do segundo ano e teria até mesmo votação para decidir qual era o melhor trabalho. Precisávamos fazer aquilo da melhor forma possível, iria contar pontos no nosso curriculum escolar e naquele colégio isso era importante, uma vez que quanto mais pontos o aluno adquiri maior são as chances de entrar na universidade Benjamim Hills. Exatamente, eles tinham uma universidade também. Ficava na Inglaterra e era o objetivo da maioria entre nós.

Alguns alunos estavam sentados nas mesas individuais, com seus fones de ouvido e seus notebooks redigindo textos complexos e cumpridos acreditando ser esse o segredo do sucesso do trabalho, outros faziam em grupinhos, conversavam entre si e elaboravam estratégias para alcançar a maior pontuação, eu por outro lado só precisava dos livros e de muito café.

O café produzia um efeito positivo em mim, a cafeína sendo mais especifico, ela me mantinha ativo, acordado e concentrado. Sempre que eu precisava fazer algo difícil essa era a primeira arma a qual eu recorria. A parte negativa é que eu chegava a ficar acordado mais tempo do que o necessário, meus pensamentos, minhas ideias, tudo vinha rápido demais e era até difícil acompanhar o turbilhão de informação que eu tentava filtrar quando estava sob efeito de cafeína.

De repente alguém pegou o copo de café sobre a mesa e levou a boca me deixando um pouco desconfortável.

-- Está frio. – Ele reclamou devolvendo o copo ao lugar.

Apertei os olhos e arqueei uma de minhas sobrancelhas, um gesto involuntário que eu fazia quando estava confuso sobre algo.

-- O que você está fazendo aqui? – Perguntei tentando não parecer rude.

Ele se sentou e cruzou os dedos sobre a mesa, apoiou-se sobre os cotovelos e me encarou enigmático.

-- Só estou aqui. – Falou me deixando ainda mais desconfortável.

Afinal, o que Gregory Allen estava fazendo na minha mesa?

-- Você deveria tomar menos café, isso faz mal. – Falou agora olhando para a minha garrafa.

Fechei o livro a minha frente agora interessado para saber os motivos de sua presença ali.

-- Ok! Agora você me deixou curioso, o que quer? – Fui direto, por que deixar a conversa se estender?

-- Calma cara. – Ele levantou as duas mãos no ar, como se dissesse que estava desarmado. – Eu só vim conversar.

Não contive meu sorriso, que veio em tom sarcástico. Gregory nunca havia falado comigo antes, qual seria o motivo de sua aproximação repentina? Lembrando que nesta época eu já achava ele um babaca, mas não o odiava, ainda.

-- Tudo bem, Gregory, vamos fazer do seu jeito. – Cruzei as mãos sobre a mesa imitando o que ele havia feito antes. – Sobre o que exatamente agente pode conversar?

Ele ficou calado com uma expressão divertida e intrigada, talvez tivesse tentando entender a forma desafiadora que tentava transmitir em nossa conversa. Eu não era nem um pouco perigoso naquela época, ao contrario de Gregory, que era temido por no mínimo um terço dos alunos, mas eu não podia parecer apreensivo, apesar de este ser o meu real estado. Gregory era o tipo de garoto com quem não se podia brincar, ele era violento e até certo ponto inconsequente. Eu sabia que naquele exato momento ele precisava de algum favor meu, era típico do seu grupinho coagir os colegas a fim de conseguir alguma nota melhor do que o máximo que eles podiam fazer e fosse lá o que fosse eu diria não.
E este era o problema, dizer não a Gregory Allen. Péssima ideia.

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