capítulo 8

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(2010- primeiro semestre)

As aulas de historia no primeiro ano eram terríveis e ficavam ainda pior quando o professor era o senhor Diego Sales, um homem alto e forte que falava mais sobre o quanto de peso conseguia levantar na academia do que sobre a matéria. Mas esse não era o principal motivo de sua aula ser ruim, o problema estava nas garotas, que em seus plenos quinze anos de idade e hormônios a flor da pele, não conseguiam parar de murmurar sobre o quanto o professor Diego era bonito.

A aula acabava se tornando insuportável, pois quanto mais ele exibia seus músculos mais e mais elas perguntavam como ele os conseguiu. E assim eram as aulas, pouca matéria e muito show particular.

Uma dessas garotas e talvez a mais ousada delas era Cléo Nogueira Sanches. Filha de um dos mais bem sucedidos empresários da cidade a menina de cabelos tingidos de loiro e olhos castanhos desfilava pelos corredores da escola como se ostentasse algum titulo de nobreza. Linda e inteligente fazia com que os alunos caíssem aos montes aos seus pés, cada um esperando pela mínima chance possível de ter ao menos um único beijo dela. Porem os olhos da garota, naquela época, estavam voltados ao nosso belo professor de historia o que eixava os meninos um tanto frustrados.

Em um fim de tarde chuvoso, em que eu recusara a carona de Gregory, saí mais tarde do colégio. De dentro da escola não dava para ter uma noção de o quanto a chuva estava forte lá fora, mas quando cheguei a recepção que me deparei com a rua alagada arrependi-me imediatamente de ter deixado o meu amigo ir sem mim.

As finas gotas de agua caiam aos milhares deixando o dia cinza, não havia vento, apenas a chuva. O caminho da porta da escola até o ponto de ônibus era de pouco mais de cem metros, mesmo se eu fosse rápido ainda me molharia.

-- Droga!

Não havia muito que se fazer, eu tinha que estar sentado naquele ponto de ônibus em oito minutos ou teria de esperar mais duas horas até o próximo veiculo chegar então apertei firme a alça da mochila e adentrei a chuva. Corri o mais depressa que pude enquanto as gotas violentas açoitavam o meu rosto. Em menos de três segundos meus sapatos já estavam encharcados e logo depois a roupa também.  Na metade do caminho havia uma elevação mínima, um erro simples ao colocar as lajotas sobre o cimento. Eu tropecei, cai de joelhos no chão e gemi de dor.

A chuva continuava a me surrar, mas minha mente já havia esquecido o frio, continuei lá de quatro sobre a calçada esperando a dor diminuir para que eu continuasse o meu caminho e por acaso meus olhos se voltaram para o outro lado da rua. Havia dois prédios, um deles era um mercado onde costumávamos ir as vezes no intervalo, o outro uma floricultura onde minha mãe comprava adubos mensalmente para manter o seu orquidário impecável, como ela costumava dizer. E entre um prédio e outro um beco esquecido, um espaço que ninguém utilizava a não ser para por o lixo que dali era retirado todas as manhas, um beco que por conta dos telhados de ambos os prédios, que quase se uniam ficava bem protegido da chuva e era lar de cães e gatos de rua, mas o que eu vi lá naquele não era nenhum cão ou gato.

No fundo do beco, que terminava com uma parede com tinta desgastada e úmida eu vi claramente as costas largas e fortes de um homem alto.  Ele estava sem camisa e as calças arriadas ate as coxas deixando as adegas a mostra, mas não estava sozinho, havia uma garota com ele, com as pernas enroscadas em seu quadril e os braços contornando os ombros dele, rapidamente pude reconhecer os cabelos loiros e também o homem.

Cléo estava fazendo sexo com o professor Diego no beco.
A dor foi esquecida e em minha mente a ideia de que havia algo errado naquela relação. Eu não sei por que, mas aquele sentimento de que aquilo não devia acontecer tomou conta de mim. Em minha cabeça professores e alunos não deveriam se relacionar, apesar de que depois de um tempo eu  deixei de pensar assim.

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