capítulo 11

274 36 2
                                    

(2011- seis meses antes da noite de segunda feira)

Gregory andava ao meu lado pelo corredor. Ele estava me ajudando a levar alguns livros para o jornal, eu tinha de fazer uma pesquisa sobre a historia do estado, pois iria escrever uma matéria sobre, mas não queria deixar faltar os detalhes mais importantes, então peguei um exemplar de cada livro de historia do colégio. Ele reclamava enquanto levava os cinco livros pesados, não estava contente em ter que carregar cinco livros enquanto eu levava apenas um e tagarelava pelos corredores enquanto o lia em voz alta.

-- Maldita hora que eu fui te procurar na biblioteca.

-- Você me encontrou. – Falei sem tirar os olhos do livro. – Devia estar feliz.

-- Eu não sabia que você me faria de burro de carga.

-- Exagero seu. – Coloquei o meu livro propositalmente sobre aqueles que ele carregava. – Nem estão tão pesados.

Ele me fuzilou com os olhos e eu continuei andando. Gregory era um rapaz forte, aquilo não era problema para ele.

Chegamos a sala do jornal em poucos minutos, ele soltou os livros sobre a mesa e sentou-se pesadamente na cadeira.

-- Tenho que aprender a dizer não para você. – Ele riu.

Sentei na cadeira a sua frente e já fui pegando um dos livros.

-- Por que você foi me procurar?

-- Eu só queria saber se você vai vir a escola amanha. – Ele falou deixando a pose relaxada e adotando uma postura estranhamente nervosa.

-- Sim, eu nunca falto, lembra?

-- Hum...

Pareceu pensativo.

-- Está tudo bem?

-- Sim, é que...

Ele estava nervoso e enrolando, coisa que Gregory nunca fazia. Ele sempre era decidido e confiante sobre as coisas que fazia, mas ele pareceu preocupado e isso me deixou preocupado.

-- Aconteceu alguma coisa?

-- Eu tenho que fazer dois trabalhos para entregar depois de amanhã, mas não vou conseguir faze-los a tempo...

-- Precisa de ajuda?

Ele me encarou como se procurasse por palavras, coçou a nuca.

-- Eu queria que fizesse um deles pra mim.

Relaxei na cadeira, então era apenas isso que ele queria?

-- Nós já conversamos sobre eu fazer...

-- Eu sei que já, mas... Por favor, eu preciso da nota.

Sua expressão demonstrava suplica e eu fiquei surpreso por aquilo, repentinamente Gregory Allen pareceu algo inofensivo e desprotegido.
Respirei fundo.

-- Tudo bem eu faço. - Parece que o mesmo efeito que causo nele, ele causa em mim.

Ele abriu um largo sorriso.

-- Eu vou te recompensar com o que você quiser.

Gregory se aproximou pronto para me beijar, mas eu o impedi.

-- Me fala o conteúdo e hoje a noite eu já faço.

-- Não!

Ele ficou serio novamente e mais uma vez eu estranhei.

-- Hoje nós temos compromisso. – Ele concluiu nervoso depois de pensar.

-- Nós quem?

-- Eu e você.

-- Eu não me lembro de termos combinado alguma coisa e se combinamos podemos desmarcar e fazer os trabalhos.

Ele pareceu pensar mais uma vez, Gregory estava me escondendo alguma coisa.

-- Ótimo. – Falou. – Eu vou à sua casa hoje à noite e agente faz os dois trabalhos.

Apenas assenti enquanto analisava a sua expressão de quem conseguiu contornar alguma coisa.

**********
(2011- noite de segunda feira)

Alguns minutos se passaram. Eu já havia saído do esconderijo anterior e agora estava sentado detrás de umas caixas empilhadas no vestiário, ou como costumavam chamar, camarim. Até o momento me sentia seguro, a porta estava trancada e não ouvia nenhuma movimentação lá fora.
Respirei aliviado, mas ainda tenso. Era questão de tempo até um deles tentar abrir a porta. Eu não me sentia preparado para um confronto e sabia que se acontecesse eu estaria em grandes apuros.

A imagem de Breno me vinha a memoria. O sangue que escorria do seu nariz e cabeça, as roupas manchadas e encharcadas, a sujeira. Tudo era tão mórbido. Por que chegamos a isso? Como chegamos até ali?

Nós nunca a vemos chegando, mas ela sempre nos espreita, espera o melhor momento para nos atingir. Em uma hora tudo esta bem e então não mais. Ela pode estar em qualquer lugar, em todos os lugares, o tempo todo. Faz parte da nossa existência, parte de tudo que podemos ser, a única coisa que podemos ter certeza.

Todos nós vamos morrer.

Talvez não seja hoje, talvez seja agora. Pode demorar, mas já esta acontecendo, sempre esteve acontecendo. Não importa o que você faça. Não importa como você faça, no fim o final sempre vai ser o mesmo.
Para todos.
Não há saída, não há outro destino possível.
Todos nós vamos morrer.

E lá estava eu, com a cabeça bagunçada e imagens medonhas me privando da sanidade. Naquele momento minha vida parecia não me pertencer, parecia pertencer a outro e quem sabe fosse mesmo isso.

Não.
Não.
Eu não pensaria assim. Eu não devia pensar assim.

Eu não deveria abrir mão da minha vida, na única coisa valiosa que temos. Eu tinha que lutar.
Eles chegariam, estavam me caçando.
Como detê-los?
Como detê-los?
Como eu poderia mata-los?
Essa era a única saída. As portas estavam trancadas, eu estava sozinho e eles eram muitos. Não importa para aonde eu pudesse correr eles estariam lá, estariam em todos os lugares daquele prédio. Não importa aonde eu me escondesse, o quanto eu corresse, eles me alcançariam.

Eram muitos caminhos, muitas possibilidades, porém um mesmo final para todas elas. A única maneira...
Única maneira?

Sim.

-- A única maneira de sobreviver a tudo isso é matando todos eles.

Um a um eles iriam cair.

Cafeína Onde histórias criam vida. Descubra agora