Cafeína

capítulo 10

(2011- dois meses antes da noite de segunda feira)

Sentado na cadeira de frente ao Doutor Ronald eu esperava ele abrir os exames que eu levei para ele. Minha mãe insistiu em me levar ao medico depois que eu desmaiei algumas vezes no terceiro ano, apenas alguns meses antes do ocorrido com Breno e Caio. Eu sabia qual era o problema, por causa do jornal e do teatro acabei me sufocando com os deveres e depois de alguns dias dormindo e comendo mal o corpo enfraqueceu.

Eu lembro de naqueles dias beber muito café, isso me mantinha acordado e atento, consegui fazer todas as minhas atividades, mas não resisti e acabei desmaiando na escola. Preocupada minha mãe me levou ao Doutor Ronald, ele cuidava da minha saúde desde pequeno e assim continua até hoje, basicamente é da família.

-- Você tem dormido muito mal. – Disse ele com um olhar de reprovação.

-- Deveres do colégio, você já foi aluno um dia, sabe como é?

-- Mas na minha época eu dormia.

Eu ri.

-- Você já pensou em deixar o jornal ou o teatro? Isso ajudaria.

-- E o que eu faria o dia todo?

-- Você teria mais tempo e poderia dormir mais.

-- Eu não preciso dormir mais, eu preciso de pontos para a faculdade.

-- Sim, você precisa dos pontos, mas também precisa dormir.

Ele voltou a olhar os papeis e depois de alguns segundos fez uma cara feia.

-- Achei que já havíamos conversado sobre o excesso de café.

Droga!

-- Eu bebo para ficar acordado.

-- E ficar acordado é o problema.

Ele fechou a pasta e cruzou os dedos me olhando seriamente.

-- A partir de hoje você vai reservar oito horas da sua noite para dormir e vai diminuir o consumo de café.

-- Mas...

-- Alex, tudo em excesso faz mal. Ficar muito tempo acordado, dormir demais, muito café, comer demais... Tudo deve ser na sua determinada medida.

-- Tudo bem eu posso fazer. – Disse ao perceber que aquilo não estava aberto a discussão.

-- certo.

Saí do consultório sonolento, ele tinha razão eu estava dormindo pouco. Eu estava determinado a seguir o seu conselho, ou pelo menos parte dele, ainda não havia decidido se compraria o remédio que me indicou para ajudar com o sono.

Assim que sai na recepção vi Cléo sentada em uma das cadeiras. Ela estava suja e em suas roupas havia rasgos, na sua testa um curativo que parecia ter sido feito a pouco tempo.  Torci para que ela não me visse ali, eu não queria ter que conversar com ela ou qualquer um de seu grupo, mas para o meu azar ela levantou os olhos na minha direção.

Ótimo, ela me viu! Eu teria de passar por ela e dizer no mínimo um oi.

-- Oi. – Falei forçadamente pensando em sair o mais rápido possível, eu me sentia tão desconfortável conversando com eles. Por que tinham que ser tão idiotas?

-- Oi. – Falou com a voz fraca.

Ela tinha os olhos vermelhos parecia ter chorado e em seus braços arranhões e hematomas enormes. Pensei em sair dali, mas ela parecia mal, muito mal.

-- Esta tudo bem? – Droga o que eu estava fazendo? – O que houve? – Não faça perguntas, apenas vá embora.

-- Um acidente. – Ela respondeu.