capítulo 25

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(2021)

A agua quente cai sobre minha pele e lava qualquer resquício de sangue que há em mim. Me certifiquei de que fiz meu trabalho da forma mais discreta possível. Eu sou bom no que faço, a policia nunca me encontrou, ninguém nunca suspeitou.

Saio do banheiro enrolado em uma toalha branca com os cabelos jogados para traz e agua pingando sobre o carpete. O sol já saiu lá fora, são sete da manha e não dormi um minuto se quer nesta noite. Não estou cansado. Sou uma pessoa noturna, ajo na escuridão por que o dia é delator. Sob a luz me sinto exposto demais, é como se qualquer coisa que eu faça possa ser visto, então só trabalho a noite.

O telefone toca. Vejo o nome de Caio no identificador.

-- Pode falar. – Atendo.

-- Bom dia.

-- Bom dia.

-- Está tudo bem?

-- Sim. Eu estou bem, obrigado.

-- Fiquei preocupado. – Ele parecia sonolento. – Nossa noite foi um completo desastre.

Eu rio.

-- É... A festa foi memorável.

Ouço uma risada do outro lado.

-- Eu ia te ligar mais tarde, pensei que estivesse dormindo, mas ai lembrei que você não dorme durante a noite, então pensei em te chamar pra tomar café.

-- Ah... – Penso em negar, inventar que já havia comido algo. Eu sabia que Gregory também estaria junto de nós. Conheço Caio o suficiente para saber que ele não vai desistir de nos reaproximar. – Tudo bem. Você vem me pegar? – Decidi ir, não poderia ser tão ruim assim, certo?

-- Claro, passo ai em meia hora.

-- Ok.

Desligo o telefone e me visto.
Quarenta minutos depois eu estou sentado em uma mesa de vidro com uma xicara de café sobre um bule branco. Caio está a minha frente e bebe suco.

-- Não sei como você consegue beber esta coisa. – Ele fala apontando para meu café. Caio nunca gostou de café e sempre fazia esses comentários apenas para me irritar.

-- A cafeína me ajuda a ficar acordado.

-- Acho que você precisa rever os seus hábitos. – Diz dando um gole no suco de laranja. – Digo, dormir mais, se alimentar melhor.

-- Dormir ocupa muito o meu tempo e eu me alimento bem sim.

-- Sei.

-- Ok. – Bebo o meu café amargo. – Vamos falar sobre você Caio. Adorei sua esposa e seu filho.

-- Eles realmente são adoráveis. – Fala orgulhoso. – Eu não sei se conseguiria viver sem ela ou meu pequeno.

Sorrio.

-- Vocês formam uma bela família.

-- Obrigado. – Ele sorri para mim. – E você quando pretende começar a formar a sua.

Olho para ele achando divertida a pergunta. Caio sempre me incentivou a fazer amizades, começar um relacionamento e toda esta baboseira, mas não sou o tipo de pessoa que serve para isso. Eu nasci para viver sozinho. Pessoas que fazem o que eu faço não podem constituir famílias, eu devo estar preparado o tempo todo para possíveis contratempos, ou para deixar tudo para traz e embarcar em uma fuga caso eu seja descoberto. Na minha vida não há espaço para outras pessoas além de mim mesmo.

-- Eu? Família? – Nego com a cabeça sutilmente. – Não.

-- Eu não gosto de ver você sozinho.

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