capítulo 18

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(2021)

As pessoas agora já estavam mais calmas, alguns sentados nas mesas e outros dançando na pista uma musica lenta, alguns conversavam no bar e as crianças perambulavam por toda parte.

-- Alex!

Me virei para ver quem era.

Uma mulher alta, magra de olhos verdes e cabelos na altura do ombro. Usava um vestido vermelho elegante e um colar dourado com pingente no formato de uma águia.

Olhei para ela tentando reconhecer, mas sua imagem não se formava em minha mente.

-- Sou eu a Keila.

Então as lembranças sobre ela vieram rapidamente e sem esforço.
Ela era uma das amigas de Breno e a chamavam de “a vadia de Benjamin hills”, apesar de sua péssima reputação no colegial, Keila era o tipo de pessoa que valia a pena ter como amiga.

-- Uau! – Arregalei os olhos impressionado. – Como você está diferente.

Nos abraçamos rapidamente, ela estava mais sorridente do que eu, mas geralmente todos eram.

-- Como você está? – Ela perguntou animada. – Já faz tanto tempo.

-- Dez anos.

-- Dez anos... E você não mudou nada.

Eu ri, irrevogavelmente ela estava errada, mas não a corrigi.

-- Está trabalhando? – Ela perguntou naturalmente.

-- Sim. Jornalista investigativo.

-- Nossa. – Ela continuou sorrindo, mas de forma controlada, não parecia nada a Keila do colegial. – Bem eu também me formei, atualmente estou trabalhando no escritório do meu pai, mas estou pensando em abrir o meu próprio escritório de advocacia.

Caio que conversava com alguns antigos colegas próximo a pista de dança me olhou. Ao ver Keila ali ele sorriu, para ele eu estar conversando com alguém era um grande passo, mas no fundo eu queria que ela me deixasse em paz. Para ser sincero, eu não queria nem mesmo estar ali.

Continuamos nossa conversa enquanto a festa fluía, eu tentava ser o mais convincente possível enquanto fingia interesse sobre a vida de Keila ou qualquer coisa sobre aquelas pessoas.

***********

(2011-noite de segunda feira)

Ouvi barulho vindo do banheiro no fim de um dos corredores, pelos quais eu perambulava a alguns minutos tentando encontrar algum deles. Entrei tentando fazer nenhum barulho, a porta estava aberta, isso facilitou.  O banheiro parecia vazio, as cabines fechadas, a torneira pingava e tinha machas vermelhas misturadas a agua acumulada sobre a pia. Alguém esteve ali e lavou o sangue das mãos.
Esperei mais alguns segundos, talvez um deles estivesse dentro de uma das cabines, eu apenas tinha que esperar até ele sair e atacar de surpresa.

Ninguém saiu depois de um minuto.

Baixei a guarda. Suspirei frustrado. Eu devia estar ficando louco, por que eu estava esperando alguém para mata-lo? Algo estava muito errado. Eu não devia ser assim.

Finalmente olhei no espelho.  A imagem refletia um Alex desconhecido e assustador. Minhas roupas cobertas de sangue, assim como o rosto e o cabelo. Não era meu sangue, mas isso não me deixou enojado, pelo contrario, senti orgulho e satisfação. Sorri para meu reflexo que parecia confiante, eu finalmente havia me encontrado. O espelho refletia uma verdade que eu ainda não pensava em esconder, mas o desejo já existia. Existia muito antes de eu saber o que significava.

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