capítulo 21

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(2021)

Gregory está afastado de mim, não muito. Está nervoso e os olhos brilham. Eu posso ver o arrependimento em seu rosto e isso me acalma. Mas ainda não sinto segurança, não sei se posso conter meus impulsos.

-- Diz alguma coisa. - Ele pediu ansioso.

Demorei em responder.

-- Eu não sei o que te falar, eu não estava preparado para isso.

Gregory é talvez, a pessoa que mais me conhece, mais até do que Caio ou qualquer outro. O que tivemos foi intenso no passado, trocamos segredos inconfessáveis e eu contei a ele sobre os meus mais sombrios desejos.

*************

(2010- primeiro semestre)

Ainda me lembro bem daquela noite. a primeira tempestade do ano chegou violenta e parecia querer arrancar a casa do chão. Eu estava nervoso com todo o barulho e a agua que caia em abundancia, mas fingia naturalidade. Ele por outro lado ignorava completamente os raios e trovões lá fora. Eu fui passar a tarde na sua casa, mas tive que ficar mais do que o esperado por causa da chuva repentina. Jogávamos videogame em seu quarto, ele sentado sobre a cama e eu no chão. Seu quarto era um cômodo não muito grande, pintado de branco com paredes lotadas de pôsteres de bandas e garotas seminuas. Em uma delas uma prateleira de madeira sustentava o peso de vários troféus e premiações que ele conquistara em vários esportes diferentes. Havia livros espalhados pelo chão, assim como algumas peças de roupas e outras coisas aleatórias. Me Lembro de ter comentado algo sobre ele ser bagunceiro e ele sorriu.

Ele vibrou quando me venceu no jogo pela, sabe-se lá qual vez e depois se levantou da cama pondo-se de pé a minha frente.

-- Vou buscar alguma coisa para agente comer. - Disse já saindo dali. Fiquei sozinho no seu quarto por, talvez quinze minutos e aproveitei o tempo para extravasar minhas emoções em relação a chuva fazendo todas as caretas de susto que eu queria fazer a horas.

Ele voltou com dois sanduiches e dois copos de suco. Agradeci e o acompanhei enquanto devorava o seu lanche com prazer. Depois de saciado reclamei sobre o jogo e sobre o quanto eu era ruim, ele apenas riu e zombou de mim confirmando o que eu havia dito. Ele se levantou mais uma vez e tomou da minha mão o copo de suco que eu nem mesmo havia terminado.

-- Vou buscar mais.

Olhei-o espantado enquanto ele ia em direção à porta, mas antes de chegar lá tropeçou em alguma coisa por ali e caiu. Levantei exasperado para ver se estava tudo bem, pois os copos quebraram quando ele caiu e talvez ele estivesse machucado. E estava.
Gregory se levantou antes mesmo de eu o alcançar e reclamou de dor.

Droga!
Respirei fundo.
Droga!

Gotas de sangue escorregavam entre seus dedos e despencavam em direção ao assoalho de madeira ocre. Ele falou alguns palavrões, mas eu não pude mais focar em nada além daquela cor.

Vermelho.

Meus sentidos se perderam por completo.

Eu acompanhava o sangue fluir do ferimento aberto entre seu polegar e o indicador. Era tão... Bonito. Cada gota que pingava no chão parecia ressoar no ambiente como os acordes de uma bela canção. Eu queria ouvir mais daquilo. A cor vibrava com intensidade e fazia a minha mente ferver em pensamentos terríveis. Eu queria tirar mais sangue dele, queria ver mais, queria mais.

Ouvi a sua voz ressoar distante enquanto os meus olhos fitavam todo aquele sangue com um desejo que eu já conhecia muito bem.

Sua voz ressoou mais próximo.

-- Alex!

Acordei do meu transe e me deparei com seu rosto confuso.

-- Está tudo bem? - Ele concluiu.

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