capítulo 13

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(2021)

Toc, toc, toc.

Vou até a porta e abro. Um enorme sorriso se abre no rosto dele a me ver. Sou envolvido em um abraço forte e me sinto pequeno perto dele.

Ele está usando um terno preto assim como o meu, os cabelos cortados socialmente e o rosto um pouco mais envelhecido, porém esses detalhes não diferem muito do Caio que eu conheci no colegial.

-- Senti sua falta. - Ele disse enquanto ainda me abraçava.

-- Também senti.

Ele me soltou e nós saímos imediatamente, não o convidei para entrar, pois era somente um quarto de hotel e não tenho muito a lhe oferecer ali.

Caio se formou em direito e é um dos melhores da cidade, eu não o via a dois anos. Caio insiste que devemos nos ver mais, estar em contato, coisas do tipo, eu não acho isso necessário, mas é bom tê-lo por perto.

-- Por que não me ligou quando chegou? - Ele me perguntou enquanto descíamos pelo elevador. - Eu teria ido te buscar no aeroporto.

-- Eu só não quis incomodar.

-- Não seria incomodo nenhum e você sabe disso. - Ele falou me repreendendo com os olhos. - E afinal de contas, o que você esta fazendo em um hotel.

-- E aonde mais eu estaria?

-- Na minha casa obviamente.

-- Eu só vou ficar na cidade por mais dois dias.

-- Exatamente por isso você devia ir para a minha casa. - Ele falou enquanto o carro já estava em movimento. - Esta tendo gastos desnecessários.

-- Você é muito insistente.

-- Isso quer dizer que você vai sair do Hotel e ir pra minha casa?

-- Não. - Eu ri. - Isso não quer dizer nada.

********

(2011- noite de segunda feira)

Caio estava em perigo.

Fraco, pálido, ensanguentado. O que eu devia fazer?

Oque?

Oque?

Ouço a buzina de um veiculo lá fora, a principio não dou a devida atenção, ainda penso sobre o próximo passo a ser dado.

Outra vez a buzina e outra, e depois de novo.

Droga! Eu não podia pensar com todo esse... Celia.

Não pode ser, ela devia ter passado aqui a vários minutos, ela estaria me esperando até agora? Não pensei duas vezes e segui pelo corredor que levava a saída, mesmo se eles estivessem lá, não me machucariam na frente dela. A porta era de vidro transparente ela podia ver tudo o que acontecia lá dentro. Celia era a minha salvação.

Cheguei rapidamente na recepção, mas o que eu encontrei não me animou nem um pouco, para ser sincero...

Foi chocante.

Todos eles estavam do lado de fora, sobre a o gramado a cerca de quinze metros da porta. O carro estava estacionado na rua com a porta escancarada, lá dentro Téd apertava a buzina me olhando debochado. E lá estava Celia, Roy a segurava firme e ela tinha um olhar de medo para mim, sua boca estava selada pela mão dele.

Então foi por esse motivo que desapareceram por tanto tempo, estavam torturando ela.

Ted saiu do carro.

Me aproximei um pouco mais da porta tentando pensar no que fazer.

Todos estavam confiantes, Ted conseguiu convence-los a fazer o que ele queria.

Gregory não estava com eles.

Com um movimento de Roy o pescoço da minha amiga foi quebrado. Deixei um grito escapar de minha garganta, tão intenso, tão doloroso. O corpo dela caiu sobre a grama verde mole. Soquei a porta de vidro com toda força que eu tinha e senti a dor. A chave balançou na fechadura, o tilintar de metal que a principio não me chamou a atenção, mas eles deixaram a chave ali.

Eu não podia identificar os sentimentos deles, seus rostos estavam inexpressíveis e eu sabia que aquilo era pra me provocar, estavam brincando comigo.

Senti raiva.

O desejo de matar cada um deles se intensificou.

-- Eu vou matar todos vocês. - Falei envolvido em pura fúria.

Eles correram na minha direção e só então o barulho das chaves me chamou a atenção. Fui rápido e girei-a até sentir que a porta estava trancada. Ted vinha sorrindo e tentou girar a maçaneta, mas foi em vão. Seus olhos mudaram instantaneamente de alegres para bravo. Ele começou a falar palavrões enquanto chutava a porta com força, mas não adiantou.

A porta não cedeu.

Pousei as duas mãos no vidro e fiquei de frente para ele.

-- Eu vou matar você. - Ele disse imitando minha postura, como um espelho, um de frente para o outro, um encarando o outro e a única coisa que nos separava era a porta de vidro.

Eu não pude ouvir bem a sua voz, mesmo ele gritando era como algo distante de se escutar lá de dentro, mas eu li pelos seus lábios a ameaça e não me senti intimidado. Eu iria matar ele primeiro.

-- Venha me pegar então. - Falei sem emitir som algum, eu sabia que ele não podia ouvir então só precisava que ele lesse. - Vamos ver até aonde você pode ir.

Seu punho fechado veio em direção ao meu rosto e acertou a barreira entre nós com tamanha força que senti a vibração nas palmas das minhas mãos.

Sai dali na esperança de que ele conseguisse entrar. Eu queria que ele viesse. Eu o queria lá dentro.

Eu iria matar todos eles.

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