capítulo 22

236 24 6
                                    

(2021)

Não é preciso muito para causar grandes estragos. As vezes as coisas mais simples são as mais destruidoras. Não existe uma maneira de se prevenir, as coisas apenas acontecem e decisões moldam caminhos irreversíveis. Já faz dez anos que eu não vejo Gregory Allen e devo confessar que não senti sua falta. As coisas mudaram muito desde a noite em que Breno morreu. Hoje eu sou mais forte e preparado, mas aqui frente mim ainda está a minha maior duvida.

-- Eu quero que me perdoe. Podemos concertar esses erros, começar de novo e fazer da forma certa. Assumo a minha parcela de culpa em tudo o que aconteceu, você não teria cedido aos seus instintos se eu não tivesse feito tudo o que fiz. – Gregory disse agora se aproximando novamente.

Breno não morreu pelas mãos dele, mas sim pelos atos que antecederam aquele dia. Ele é tão culpado quanto todos os outros e a sentença deve ser a mesma.

-- Eu não tenho porque perdoar você. – Falei e ele me olhou esperançoso.  – Não foi você quem me tornou um monstro, eu nasci assim. Não se culpe por eu ter matado aquelas pessoas, o desejo sempre esteve em mim eu apenas o saciei.

-- Você não queria mata-los. – Ele falou chegando mais perto, talvez estivesse esperando alguma forma de afeto, um abraço quem sabe. – Estava em perigo, apenas se defendeu.

-- Está errado, eu poderia ter parado. Eu podia apenas ter impedido eles, mas fui até o final, porque isso é o que sou. – Estou me sentindo vitorioso e me sinto na liberdade de contar qualquer coisa, pois sei que nada sairá daquela sala. – Por que eu me sinto bem fazendo isso. Nenhuma das mortes foi em vão e eu estou feliz por ter matado as pessoas certas.

-- Você não é assim. – Ele disse de maneira segura. – Está tentando me assustar, como fez a muito tempo, quer me proteger de você.

Eu rio.

-- Você acha mesmo que se eu quisesse apenas te assustar, você estaria aqui em minha frente tão próximo assim de mim? – Andei até a mesa onde havia um pote com algumas canetas. Peguei uma delas e fiquei brincando com o objeto entre os dedos enquanto falava. Ele me analisa curioso.

-- Você está diferente. – Gregory fala intrigado.

Sorri com o canto da boca.

-- De todas as formas possíveis. – Respondi. – Quanto a você. – O analiso de cima a baixo. – Ainda continua igualzinho como era. – Levanto e vou em sua direção lentamente. Eu já sei como vai ser e não estou nervoso. Irei mata-lo com a caneta. Um golpe na garganta, ou no olho, ou na têmpora, ainda não decidi. – Mas agora, eu imagino, você não agride  mais garotos indefesos.

Ele meneia a cabeça e me olha suplicante.

-- eu era jovem, éramos uma turma de garotos idiotas, não sabíamos o que fazíamos. – Ele se justifica.

-- Não, vocês não sabiam o que faziam, mas faziam muito bem. Pessoas morreram por causa dos atos de vocês.

-- Eu sei que o que houve com Breno não pode ser redimido, mas...

-- Mas você veio até mim para se desculpar.

-- Acredita em mim, eu me arrependo tanto.

Seus olhos estão marejados. Ele realmente está arrependido.

-- Eu acredito.

Ele levanta os olhos para mim, percebo que isso foi um alivio, mas ainda devo puni-lo. Estou próximo o suficiente e aperto a caneta entre os dedos.

A porta se abre abruptamente e nossa atenção é desviada. Caio aparece ofegante e nervoso.

-- Temos que sair daqui. – Fala aos gritos, percebo o cheiro diferente no ar e há fumaça no corredor. – É um incêndio.

Cafeína Onde histórias criam vida. Descubra agora