Capítulo 7

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Annelise acordara de extremo mau-humor na segunda-feira. Decidiu ignorar Malfoy até que o estresse se fosse, ou tinha certeza que lançaria uma azaração nele sem pensar duas vezes. Estava sentada na mesa da Sonserina tomando café da manhã, saboreando uma torta de maçã e ouvindo Blásio ler para ela sua redação para Poções quando algo chamou sua atenção.
— Zabini, quem é aquele?
O rapaz parou de ler e olhou para a porta de entrada do Grande Salão.
— Hagrid, o guarda-caça. Jurava que só voltaria ano que vem....
— Poderia. — Acrescentou Draco, empurrando Blásio para o lado e se sentando entre os dois. — Bom dia, Morgerstern. Como foi seu domingo? — O tom sarcástico que ele usara a irritou ainda mais.
Naturalmente, ela passara metade do domingo dormindo em seu quarto, e o restante dele sentada na cama lendo livros.
— Excelente. Então, Blásio — Ela esticou o pescoço para o lado e encarou o colega dando um sorriso simpático. — Parece que alguns alunos gostam dele.
— É. Bom, suas aulas são interessantes... Teve aquela vez que trouxe um hipogrifo....
— Que quase me matou. — Draco se intrometeu outra vez.
— Ouvi Potter dizer que você agiu como um idiota e ignorou as instruções do professor.
— Isso é verdade, Draco. — Zabini confirmou, mordendo uma torrada com geléia de framboesa.
— De que lado você está, afinal? — Perguntou com azedume. — Isso não importa.
— Claro que importa. Bom, espero que ele traga um material interessante. Adoraria estudar hipogrifos.
— Draco. — Crabbe veio balançando até onde eles estavam. Tinha três muffins na mão enorme. — Astoria Greengrass está procurando por você. O que quer que eu diga?
— Já vou atrás dela. — Respondeu ele, dando um aceno de cabeça. Crabbe voltou para a porta do salão, onde Goyle o esperava com mais muffins.
— Nova vítima? — Blásio deu um sorrisinho para ele, enquanto Annelise fingia que não estava prestando atenção. Notou pelo canto dos olhos que Pansy não estava sentada tão longe assim e que ela olhava tudo o que estava acontecendo, mas não fez nem menção de abrir a boca quando ouviu falar de Astoria.
— É. — Draco riu e se levantou, indo embora sem dizer mais nada.

Annelise desceu a pequena colina no outro dia com dificuldade. A neve estava tão alta que batia quase em suas coxas. Usava um monte de roupas e até mesmo o maldito gorro de Malfoy. O cachecol da Sonserina bem enrolado em seu pescoço balançava enquanto ela descia, abraçada a sua mochila. A maioria dos alunos que seguiam o mesmo caminho estavam tão cheios de roupas quanto ela.
Quando chegaram na orla da floresta, Annelise se assustou um pouco com a aparência do tão falado Hagrid. Parecia que havia acabado de levar uma surra, mas ela não sabia dizer quem seria tão corajoso para puxar uma briga com ele. Em cima do ombro, carregava o que parecia ser o resto de uma vaca morta.
— Vamos trabalhar aqui hoje! — A voz grossa retumbou alegremente para os alunos que se aproximavam, indicando as árvores às suas costas. — Um pouco mais protegidos! De qualquer maneira, eles preferem o escuro.
— Que é que prefere o escuro? — Perguntou Malfoy ao seu lado, com um leve indício de pânico em sua voz. Annelise o olhou e riu. — Que foi que ele disse que prefere o escuro? Vocês ouviram?
Ainda rindo para irritar Draco, ela se virou para frente e trocou um olhar cúmplice com Harry, que deu um pequeno sorriso para ela.
— Prontos? — Perguntou o professor, animado, olhando os alunos. — Bom, então, estive guardando uma viagem à floresta para o seu quinto ano. Pensei em irmos ver os bichos em seu hábitat natural. Agora, o que vamos estudar hoje é bem raro. Calculo que eu seja a única pessoa na Grã-Bretanha que conseguiu domesticá-los.
— Você tem mesmo certeza de que eles estão domesticados? — Draco interrompeu, o pânico em sua voz ainda mais evidente. Annelise o acotovelou nas costelas, mas ele nem ligou. — Não seria a primeira vez que você traz bichos selvagens para a aula, não é?
Alguns alunos, tanto da Sonserina quanto da Grifinória concordaram.
— É só seguir as instruções, Draco, e não entrar em pânico. — Annelise piscou para ele, forçando uma doçura na voz que lembrou Umbridge. Ela se aproximou do professor e de Potter e seus amigos.
— Claro que estão domesticados. — Garantiu Hagrid, olhando de Annelise para Malfoy e fechando a cara em seguida. Ajeitou a vaca no ombro.
— Então o que foi que aconteceu com seu rosto? — Insistiu Malfoy.
— Cuide da sua vida! — Retrucou o professor, zangado. — Agora, se acabaram de fazer perguntas bobas, me sigam.
Ele se virou e entrou na Floresta Proibida. Os alunos, no entanto, continuaram imóveis, ninguém realmente disposto a segui-lo. Annelise foi a primeira a se mexer e ir atrás do professor, vendo Harry, Rony e Hermione virem logo atrás.
Andaram por dez minutos em silêncio até chegarem num ponto em que as árvores cresciam tão juntas que era escuro como o anoitecer e não havia neve no chão. Hagrid colocou a meia-vaca no chão e se afastou, virando-se para olhar os alunos. Annelise encostou numa árvore alguns passos de distância do professor, sabendo que deveria manter a segurança em primeiro lugar e a curiosidade em segundo. Logo, Malfoy e Blásio se aproximaram dela, enquanto Crabbe e Goyle ficavam quase sozinhos de tão longe que estavam, olhando ao redor nervosamente. Ao virar a cabeça, ela viu Pansy a encarando com tanto afinco que sentiu um arrepio.
— Cheguem mais, cheguem mais! — Encorajou-os Hagrid. — Agora eles vão ser atraídos pelo cheiro de carne, mas de qualquer maneira vou chamá-los, porque vão gostar de saber que sou eu.
Annelise virou de costas para Draco, ainda encostada na árvore, mesmo que ainda pudesse senti-lo próximo das suas costas.
Hagrid, então, se virou e sacudiu a cabeça para tirar os cabelos desgrenhados do rosto e soltou um grito estranho e agudo que ecoou pelas árvores escuras como o chamado de uma ave. Ninguém riu.
Novamente, ele gritou. Por um minuto, a turma ficou olhando para os lados, esperando apreensivamente que alguma criatura selvagem pulasse em cima deles, então Annelise viu, no espaço vazio entre dois teixos nodosos, dois olhos vidrados, brancos, brilhantes que foram crescendo na penumbra, depois surgiu a cara draconina, pescoço e em seguida, o corpo esquelético de um enorme cavalo alado negro surguiu da escuridão. O animal passou os olhos pelos alunos, sem ligar muito, e começou a comer os pedaços da vaca morta.
— Ah! — Annelise suspirou, com uma pontinha de alívio. Todos se viraram para ela, curiosos. Eles não conseguiam ver. Ainda procuravam o bicho aos arredores.
— Ah, e aí vem mais um! — Anunciou Hagrid orguhoso, quando outro testrálio apareceu para comer. — Agora, levantem as mãos... quem consegue vê-los?
Harry Potter ergueu a mão, seguido por Annelise, Jackson da Sonserina e Neville Longbottom.
— Sim, eu sabia que você seria capaz de vê-los, Harry... E você também, Neville? — Falava Hagrid. Ele olhou para ela. — E você, não sei seu nome... É aluna nova?
— Annelise Morgerstern, professor. Transferida de Ilvermorny.
— Ah sim... E vo-
— Com licença — Pediu Draco, a voz desdenhosa. — mas o que é que eu exatamente deveria estar vendo?
Hagrid apontou para a carcaça da vaca no chão em resposta. Os alunos a olharam com espanto por alguns segundos, soltando exclamações surpresas. Provavelmente só o que viam eram pedaços de carne flutuando e sumindo no ar. Annelise sentiu Draco a puxar para trás levemente, fazendo com que ela esbarrase em seu peito. Ela virou a cabeça e o encarou, as sobrancelhas franzidas.
— Fique longe dessa coisa. — Murmurou ele, fazendo com que ela revirasse os olhos e se afastasse dele, sentindo as bochechas corarem.
— Que exagero! — Reclamou.
— Que é que está fazendo isso? — Perguntou uma menina aterrorizada, recuando para trás da árvore.
— Testrálios. — Anunciou Hagrid, orgulhoso. Hermione soltou uma exclamação de compreensão. — Hogwarts tem um rebanho deles aqui na Floresta. Agora, quem sabe-
— Mas eles realmente trazem má sorte! — A mesma menina interrompeu, assustada. — Dizem que dão todo tipo de azar às pessoas que os veem. A Prof. Trelawney me disse que...
— Não, não, não! — Hagrid riu. — Isso é pura surperstição, eles são muito inteligentes e úteis! É claro que esses aqui não trabalham muito, só puxam as carruagens da escola.... E aí vem mais dois, olhem....
Mais dois cavalos saíram silenciosamente de trás das árvores, um deles passando muito perto de Pansy, que se encostou na árvore mais próxima com um gemido.
— Senti alguma coisa, acho que está perto de mim!
— Não se preocupe, ele não vai machucar você. — Hagrid era um professor muito paciente e, aparentemente, dedicado. Annelise estava cada vez mais imersa na aula. — Certo, agora, quem é capaz de me dizer por que alguns de vocês veem os Testrálios e outros não? — Hermione ergueu a mão, mas Hagrid olhava Annelise. — Que tal você, Annelise?
Ela deu um sorriso simpático.
— Os testrálios só podem ser vistos por pessoas que testemunharam a morte. Ou seja, uma pessoa que viu alguém morrer na sua frente.
— Exatamente. Dez pontos para a Sonserina. Agora, os testrálios...
Hem, hem.
Annelise se sentiu desolada assim que colocou os olhos em Umbridge. Sabia que dali em diante, a aula iria desandar. O professor que nunca ouvira o pigarro fingido dela olhou para o testrálio mais próximo com preocupação.
Hem, hem. — Repetiu ela, fazendo com que ele virasse o pescoço.
— Ah, olá! — Hagrid sorriu com simpatia.
— Você recebeu o bilhete que mandei à sua cabana hoje pela manhã? — perguntou Umbridge, a prancheta e pena preparadas em seus braços. Ela falava anormalmente alto. — Avisando que eu viria inspecionar sua aula?
— Ah, sim. Fico satisfeito que tenha encontrado o local sem dificuldade! Bom, como pode ver, ou não sei, será que a senhora pode? Hoje estamos estudando testrálios...
— Desculpe? — Interrompeu Umbridge, fazendo uma concha com as mãos atrás da orelha. — Que foi que disse?
— Ah... testrálios! — Hagrid respondeu confuso, elevando a voz. — Cavalos alados... hum... grandes, sabe. — Ele agitou os braços.
Umbridge baixou os olhos para a prancheta e murmurou em alto e bom som enquanto escrevia.
Tem...de...recorrer...a...grosseira....gesticulação.
— Bom, em todo o caso... — O professor parecia ligeiramente atrapalhado. — Hum, o que é que eu ia dizendo?
Parece...esquecer...o...que...estava...dizendo.
Annelise fuzilou Umbridge com os olhos, sentindo o peito queimar de raiva. Aquela mulher era o pior tipo de gente. Draco, sorrindo largo, parecia que tinha acabado de ganhar um presente. Hermione estava vermelha.
— Ah, sim... — Hagrid lançou um olhar preocupado à prancheta, mas prosseguiu. — Eu ia contar a vocês como foi que formamos um rebanho. Então, começamos com um macho e cinco fêmeas. Este, de nome Tenebrus, meu grande favorito, foi o primeiro a nascer na floresta...
— Você tem ciência — Interrompeu Umbridge. — que o Ministério da Magia classificou os Testrálios como perigosos?
Annelise suspirou audivelmente, atraindo alguns olhares.
— Os testrálios não são perigosos! Tudo bem, são capazes de tirar um pedaço de alguém que realmente os importunar... — Retrucou Hagrid, desconcertado.
Manifesta...prazer...à...ideia...de...violência.
— Ora...vamos! Quero dzer, um cão morde se a pessoa o importuna, não? Mas os testrálios somente ganharam má reputação por causa dessa história de morte... As pessoas costumavam pensar que era má agouro...
— Por favor, continue sua aula como sempre. — Umbridge disse apõs terminar a última anotação. — Eu vou andar um pouco...entre os alunos...e fazer perguntas. — Ela fazia mimica de cada palavra que dizia, fazendo Draco e Pansy terem crises de riso. Annelise fechou a cara e cruzou os braços, se encostando numa árvore. Viu Hermione resmungar com raiva, os olhos cheios de lágrimas.
— Hum... Em todo caso — Continuou Hagrid, tentando recuperar a aula. — Então... os testrálios... Sim, há muitas coisas boas sobre eles..
Para a infelicidade de Annelise, Umbridge parou na frente dela com um falso sorriso meigo nos lábios, a prancheta e a pena a postos.

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