Ao chegar na porta do dormitório da Grifinória, Annelise soltou um suspiro audível. Como conseguiria falar com Potter se não podia entrar?
Quase como resposta, um menino que ela já vira antes apareceu. Usava o uniforme da casa do leão e carregava um sapo nas mãos. Ele a olhou, ficando com as bochechas vermelhas. Com uma careta de nojo, Annelise perguntou:
— Sabe me dizer se Harry Potter está aí?
— Eu..Ah...Vou-Vou olhar. — Gaguejou nervosamente, virando-se para o retrato. O garoto falou a senha sem parecer se lembrar de que ali estava uma aluna da casa inimiga, mas mesmo dizendo alto o suficiente Annelise não conseguiu entender. Enquanto o via desaparecer por trás do quadro, ela se encostou na parede e esperou. Minutos depois, Potter saiu.
— Oi, Potter. — Disse ela, sorrindo levemente.
— Oi. Queria falar comigo? — Perguntou. Seus cabelos estavam bagunçados e os óculos levemente tortos. Tinha o dorso de uma das mãos manchada de tinta preta.
— Bom, a Umbridge veio falar comigo. Fez umas perguntas bem diretas sobre seu clubinho.
— Armada de Dumbledore. — Corrigiu ele, sem parecer se irritar ou algo do tipo.
— Ela colocou Veritaserum no meu chá. — Falou com a voz mais baixa, sem rodeios.
As sobrancelhas de Harry se ergueram e os olhos espantosamente verdes se arregalaram diante da ousadia de Umbridge.
— E você contou algo? Você não bebeu, não é?
— Claro que não! Falei que era a primeira reunião e que não havíamos tido tempo de falar nada. Foi bizarro, ela ficou me incentivando a beber aquela porcaria de chá. Foi meio óbvio. E é claro que se ela fez comigo, fará com você.
— Obrigado por me avisar, Annelise. Eu n-
— O que está fazendo aqui?
A voz fria de Draco alta no corredor os fizeram se sobressaltar de susto. Ele vinha caminhando iluminado pela luz da lua, que deixava seus cabelos brancos e reluzia o broche de monitor no peito. Assim que chegou perto o suficiente, Annelise pôde ver a reprovação em seus olhos cinzas.
— Eu estudo aqui. — Respondeu ela, se arrependendo em seguida. Considerou uma resposta fraca demais para o tamanho do deboche que sabia vir de Malfoy.
— Já passou o toque de recolher. Veio dar um beijo de boa noite em seu namoradinho?
— Cala a boca, Malfoy. — Harry deu um passo para a frente, mas Annelise se meteu entre os dois.
— Quer perder mais pontos, Potter? Não me provoque.
— Tire quantos quiser!
— É mesmo?
— Chega! — Annelise segurou a manga do uniforme de Draco e começou a puxá-lo escada a baixo. — Harry, desculpe o incômodo. Nos vemos amanhã.
Ela continuou puxando Malfoy, que começara a rir. Só parou no quinto andar, finalmente irritada com as gargalhadas.
— Está rindo de que?!
— Você está sendo patética. — Declarou Draco, finalmente parando de rir e mantendo um sorriso sarcástico no rosto. Um grupo de garotas da Corvinal passaram por eles rumo à sua sala comunal, dando espiadinhas nos dois.
— Eu? — Dessa vez, quem riu foi ela. — Olhe para si mesmo, Draco! Você parece uma criança birrenta! Ah, espere um momento! Você é!
— Essa história sua de missão só pode ser desculpa! Você gosta deles!
Annelise o encarou, sem acreditar.
— Isso é problema meu! Inteiramente meu! Olha, eu não entendo o que se passa na sua cabeça. Você realmente acha que devo algum tipo de satisfação à você!
Draco bufou, cruzando os braços.
— Não sabe o que diz.
— Então me fala! O que é tudo isso? Nós não somos amigos! Você me leva para a floresta e me beija, faz joguinhos entre eu e Pansy!
— Pansy sabe que não temos nada sério.
— Isso não impede que ela sinta algo por você! — Acusou Annelise, vibrando de raiva. — Eu não aceitei ser parte disso!
— E eu nunca quis que fosse!
Os dois ficaram em silêncio, se observando. O tempo pareceu se arrastar, até que ele finalmente falou outra vez.
— Eu sinto muito. — Murmurou, se aproximando. Antes que ela o afastasse, Draco a abraçou. Era mais alto que ela, o que criava o encaixe perfeito para que ela descansasse a cabeça em seu ombro. Annelise não conseguia entender a loucura que era sua relação com Malfoy, mas quando ele a olhava daquela maneira intensa ou demonstrava fazer questão de estar por perto, mexia com ela. E enquanto ele a abraçava com todo o cuidado do mundo, como se segurasse um globo de vidro, Annelise engoliu as lágrimas que lutavam para subir. Erguendo os braços, o segurou pela nuca e o apertou ainda mais no abraço. Não era por causa dele.
Ela ia falhar e sabia disso.
Não enxergava saída e o tempo corria, lhe apertando cada vez mais. E suas esperanças estavam se esvaindo, dia após dia, enquanto cada vez mais se sentia sozinha e deslocada. Sentia que estava fingindo absolutamente tudo naquele lugar: a amizade com os grifinórios era falsa. Pansy decidida à infernizá-la. Blásio tinha outros amigos.
Ela não tinha um lar e a Califórnia parecia distante demais naquele momento, quase como se tivesse sido um sonho. Estava perdendo a cabeça.
Naquele turbilhão de emoções e sentimentos, Draco surgia desafiadoramente. Ora encrencando com ela, ora protegendo. E naquele momento, ela só queria morar naquele abraço e não sair nunca mais. Dentre todas as coisas em sua vida, Draco Malfoy era o único caminho que lhe parecia mais alcançável e capaz de lhe devolver a sanidade.
— Está chorando. — Sussurrou ele, a voz abafada pelo cabelo dela. Agora que não estava imersa em pensamentos, percebia os dedos dele acariciarem seu cabelo.
— Desculpe.
— Não tem problema. — Ele encostou sua cabeça na dela e eles continuaram se abraçando por uns minutos, até Annelise decidir que já passara dos limites. Aos poucos foi se soltando, ainda que com uma certa relutância da parte dele. Ela passou as mãos no rosto para se livrar dos vestígios de lágrimas e deu um sorriso fechado.
— Por favor, esqueça que me viu chorando. Eu não choro nunca.
— Vai ser nosso segredinho.
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Poder e Controle
FanficO ano é 1995. Lord Voldemort está muito satisfeito por Cornélio Fudge transformar Potter e Dumbledore numa chacota perante a população bruxa. No entanto, ele precisa de mais. Ele encontra uma brecha em Joseph Morgerstern, lhe ordenando que transfira...