Capítulo 16

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Annelise aguardou por quase duas horas sentada no sofá da sala de estar. Os braços cruzados e o pé balançando sem parar entregavam seu nervosismo.
Loki, com os olhos cheios de lágrimas, viera com uma xícara fumegante de seu chá favorito e o colocara na mesa de centro, enquanto a menina observava o elfo em silêncio. Ele saiu da sala, choramingando o nome de Madeleine em direção à cozinha.
Quando ela decidiu se levantar e terminar de organizar seu malão, duas leves batidas na porta da frente a fizeram ficar em alerta. Puxando a varinha das vestes, ela cruzou o cômodo e foi direto para o corredor, se preparando para um duelo.
— Deixa comigo, Loki, vai pra cozinha! — Murmurou para o elfo, que voltava para abrir a porta. Obediente, ele fez o que ela mandou.
Annelise girou a maçaneta e pulou para trás, a varinha no alto.
Do outro lado do batente, Alvo Dumbledore tinha as duas mãos juntas e um sorriso bondoso estampado no rosto. Parecia calmo e tranquilo, como se ainda fosse diretor de Hogwarts e nada tivesse acontecido. Annelise, por outro lado, estava numa batalha interna tentando decidir se mantinha a varinha posicionada ou se deveria baixá-la.
— Boa noite, Annelise. — A voz serena acompanhava a linguagem corporal de tranquilidade do diretor.
— Boa noite, professor. — Respondeu ela, depois de alguns minutos. Enfiou a varinha no bolso da calça e deu espaço para que ele entrasse.
— Obrigado. — Agradeceu, os olhos azuis observando cada detalhe da mansão por trás dos óculos meia-lua. — Uma bela casa, sem dúvida.
Annelise não respondeu nada, se encaminhando de volta para a sala de estar e indicando uma poltrona para Dumbledore enquanto se sentava onde estava antes. O professor se acomodou e sorriu, pegando a xícara quente de chá nas mãos enrugadas.
— Ah, chá preto com leite! Meu favorito! — Dumbledore mexeu a pequena colherinha dentro do chá e se esticou para colocar duas pedrinhas de açúcar dentro. — Agora sim, perfeito!
— Professor. — Annelise chamou, sem paciência de esperar que ele decidisse falar de uma vez sobre a mensagem de seu patrono e o motivo por trás dela.
Dumbledore a olhou, dando um gole na xícara.
— Senhorita, pode por favor me contar o que houve essa noite?
Annelise ficou quieta por uns instantes.
— Como assim?
— O que houve na Mansão Malfoy, senhorita. E não poupe detalhes.
— Eu... você.... como? — Gaguejou.
Não tinha certeza sobre como Dumbledore parecia saber de tudo e nada ao mesmo tempo, a forma com a qual ele falava e se comportava a faziam imaginar que o professor fosse uma espécie de Deus e não um bruxo. É claro, não um bruxo qualquer.
— Está tudo bem, Annelise. Não estou aqui para julgá-la. Sei que tomou decisões distantes de suas vontades. Quero lhe ajudar, mas só poderei se você me disser o que aconteceu.
Passado alguns minutos em que ela se manteve em silêncio e Dumbledore pareceu não ter pressa alguma, tomando seu chá e olhando os retratos na sala, finalmente seus lábios se partiram e uma torrente de palavras saíram de sua boca. Sem nem mesmo notar, Annelise detalhou tudo o que podia, até mesmo começara a chorar em determinado momento, em que Dumbledore conjurou um lencinho que flutuou até ela, fazendo a menina se sentir patética e envergonhada.
— Lúcio fez isso comigo. O senhor não pode tentar tirar? — Ela estendeu o braço, exibindo a Marca Negra para o diretor. Dumbledore não pareceu se abalar, mas seus olhos ficaram mais escuros. Ele olhou para Annelise, um rápido lampejo de pena em seus olhos.
— Receio que seja uma magia que só Voldemort pode desfazer.
— Preciso ir embora daqui. — Declarou ela, escondendo o braço outra vez. Sua voz voltara a ficar instável.
— Sei que quer voltar para Ilvermorny, Annelise, e entendo suas razões. A apoiarei se for sua decisão final, mas precisa saber que Voldemort tem planos para Draco.
— Que planos? — Perguntou quase imediatamente. Um medo a atingiu em cheio e seus pensamentos ficaram confusos.
— Eu não sei. — Dumbledore pareceu sincero, com uma honestidade que quase doeu. — Voldemort está sendo cauteloso.
Ela estremeceu ao som do nome dele, o professor parecendo ou fingindo não notar.
— O senhor não imagina o que pode ser?
— Talvez algo difícil, como foi pedido de você. Temo que esteja perdendo a paciência com os Malfoy assim como foi com seus pais. — Dumbledore se levantou, juntando as mãos novamente. — Infelizmente estou atrasado para um lugar onde eu já deveria estar, mas não se esqueça que Draco precisará de você, Annelise. — Ele se encaminhou até a porta da sala e se virou outra vez. — Mandarei uma chave de portal para você voltar para Hogwarts perto das onze da manhã.
— Como eu...
— Você saberá. — Dumbledore piscou e sumiu pelo corredor.

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