Capítulo 11

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A partida do jogo de quadribol dois dias depois foi a coisa mais estranha que ela assistiu na vida. O time da Grifinória estava completamente desestabilizado, mas Gina Weasley compensava bastante como apanhadora e eles haviam ganhado graças a captura dela. Naturalmente depois daquele fiasco, Sonserina virou a favorita. Na segunda, uma confusão na roda de Harry aconteceu graças ao correio coruja. Inúmeras cartas chegavam para ele e várias pessoas se juntaram, lendo tudo junto com ele. É claro que aquele burburinho chamou a atenção de todos os alunos e consequentemente, Umbridge, que saiu dali agarrada a uma revista, branca como papel.
No dia seguinte vários avisos estavam pregados por quase todos os corredores e em cada salão comunal.

POR ORDEM DA ALTA INQUISIDORA DE HOGWARTSO estudante que for encontrado em posse da revista O Pasquim será expulso.A ordem acima está de acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Sete.
Dolores Joana Umbridge, Alta Inquisidora.


— Bem feito pro Potter. — Draco comentou, dando risinhos. Estavam reunidos na sala comunal quando Pansy trouxe o assunto a tona. — Quis dar uma de espertinho...
— E foi mesmo. — Annelise sorriu e mordeu a ponta de uma varinha de alcaçuz. — Eu definitivamente não teria lido O Pasquim na minha vida até o momento em que esse decreto foi fixado em praticamente toda a escola.
— É. — Concordou Blásio, sentado numa poltrona. — Sei que as salas comunais estão entupidas com essa revista. Todo mundo já leu.
— E só leram porque foi proibido. — Completou Anne. — Foi uma jogada de mestre.
Parecia que todos haviam lido e inclusive andavam com a revista pela escola, e por isso Umbridge vivia mandando os alunos revirarem os bolsos para uma chechagem. É claro que estavam um passo a frente, tendo enfeitiçado as páginas para parecerem cópias de livro-texto ou apagadas. Até mesmo os professores demonstravam seus sentimentos em relação a entrevista. A Prof. Sprout, por exemplo, concedeu à Grifinória vinte pontos depois que Harry lhe passou o regador.
Malfoy, Crabbe, Goyle e Nott estavam espumando de raiva, é claro, já que Potter citou sem rodeios os pais deles como Comensais da Morte. Eles nem podiam contrariar, pois ficaria claro que tinham lido também.
Annelise ria abertamente da cara de Draco no jantar por esse motivo enquanto se servia de carne de carneiro. Ele fechou a cara, irritado.
— Fique feliz por ele não saber de seu pai. — Murmurou. — Ou seu planinho diabólico cai no mesmo instante.
— Ele não vai descobrir. — Annelise sorriu. — Meu pai não é burro.
Draco se virou para responder mas parou, se voltando para a porta de entrada. Pouco a pouco os alunos começaram a baixar suas colheres e largarem os pratos, concentrados no barulho que vinha do saguão de entrada. Quando um choro alto seguido de gritos foram ouvidos, os alunos começaram a se levantar e correr para fora. Annelise abriu caminho por entre os alunos e parou, chocada com a cena em sua frente. A Prof. McGonagall estava parada perto da escada, os olhos de águia indo de um lado por outro, seu rosto meio pálido parecia chocado. No meio do saguão se encontrava a Prof. Trelawney, a varinha em uma das mãos e uma garrafa vazia de xerez a outra, parecendo completamente surtada. Os cabelos estavam mais bagunçados ainda, os óculos meio tortos e os xales e cachocóis desalinhados dos ombros. O que mais chamava atenção eram os dois malões abertos no chão, jogados de uma maneira que davam a impressão de terem sido jogados ali.
— Você não viu que isso ia acontecer? — Perguntou a voz risonha de Umbridge, terminando de descer as escadas. — Incapaz como você é de prever até o tempo que vai fazer amanhã, certamente deve ter percebido que o seu lamentável desempenho durante as minhas inspeções e a ausência de melhoria, tornaria inevitável a sua demissão?
Cada vez mais alunos se juntavam para ver o que estava acontecendo, abandonando o jantar na mesa. Draco, parado atrás de Annelise, deu uma risadinha.
— Você não p-pode! — Berrou a professora, lágrimas grossas escorrendo pelo seu rosto. — Você não pode me demitir! Est-tou aqui há dezesseis anos! H-Hogwarts é a minha...c-casa!
— Era a sua casa.... — Umbridge sorriu, parecendo muito satisfeita. — ...Até uma hora atrás, quando o ministro da Magia assinou a ordem para sua demissão. Agora, tenha a bondade de se retirar do saguão. Você está nos constrangendo.
— Isso é maldade pura. — Murmurou Annelise, sentindo um aperto ao ver Trelawney se ajoelhando no chão e se debulhando em lágrimas.
— Mas Umbridge não está mentindo. — Draco retrucou, a voz serena.
— A aula dela é mesmo uma porcaria mas essa ceninha toda é desnecessária. — Annelise se virou para ele. — Maldade pura! — Repetiu, voltando a olhar para as duas.
Todos permaneceram em silêncio, algumas fungadas entre os alunos e o choro descontrolado de Trelawney era a única coisa que podiam ouvir. Finalmente, McGonagall saiu do choque e caminhou até a professora, lhe dando palmadinhas nas costas e puxando um lenço das vestes.
— Pronto, pronto, Sibila...se acalme...assoe o nariz no lenço...não é tão ruim quato você está pensando, agora...você não vai precisar sair de Hogwarts...
— Ah, é mesmo, Prof. McGonagall? — Umbridge deu um passo à frente, o tom de voz se afiando. — E a sua autoridade para afirmar isso é...?
— A minha.
As portas de carvalho da entrada haviam se aberto, os estudantes pulando para trás depressa e abrindo um enorme espaço. Dumbledore apareceu, largando as portas escancaradas atrás dele, atravessando o círculo de alunos e parando ao lado de Prof. Trelawney.
— Isso vai ficar melhor ainda. — Draco murmurou e Annelise pôde ouvir a risada abafada de Blásio.
— Sua, Prof. Dumbledore? — Umbridge deu outra risadinha.
— O show vai começar. — Disse Blásio, em algum lugar atrás dela.
— Receio que o senhor não esteja entendendo a situação. Tenho aqui... — Ela puxou um pergaminho das vestes. — uma ordem de demissão assinada por mim e pelo ministro da Magia. De acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Três, a Alta Inquisidora de Hogwarts tem o poder de inspecionar, colocar sob observação e demitir qualquer professor que ela, isto é, eu, ache que não está desempenhando suas funções conforme exige o Ministério da Magia. Eu decidi que a Prof. Trelawney está abaixo do padrão esperado. Eu a demiti.
Para a surpresa de todos, Dumbledore sorriu.
— A senhora está certa, é claro, Prof. Umbridge. Como Alta Inquisidora, a senhora a senhora tem todo o direito de despedir meus professores. No entanto, não tem autoridade para expulsá-los do castelo. Receio que o poder de fazer isso ainda pertença ao diretor, e é meu desejo que a Prof. Trelawney continue a residir em Hogwarts.
— Não...não, eu v-vou, Dumbledore! V-vou embora de Hogwarts.
— Não. É meu desejo que você permaneça, Sibila. — Dumbledore se virou para McGonagall. — Será que posso lhe pedir para acompanhar Sibila de volta aos aposentos dela?
— É claro. — Disse McGonagall. — Vamos, levante-se, Sibila.
A Prof. Sprout correu do meio dos alunos e segurou o outro braço de Trelawney e juntas passaram por Umbridge e subiram a escadaria. O Prof. Flitwick se apressou em segui-las, levando as bagagens de Trelawney com magia.
Umbridge parecia espumar de raiva, paralisada encarando Dumbledore, que ainda sorria bondosamente.
— E o que você vai fazer com Sibila quando eu nomear uma nova professora de Adivinhação e precisar dos aposentos dela?
— Ah, isso não será problema. — Respondeu Dumbledore num tom agradável. — Sabe, já encontrei um novo professor de Adivinhação e ele prefere ficar no andar térreo.
— Você encontrou? — Umbridge parecia prestes a explodir de nervoso. — Você encontrou? Permita-me lembrar-lhe, Dumbledore, que de acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Dois...
— O ministro tem o direito de indicar um candidato adequado se, e apenas se, o diretor não puder encontrar um. Tenho o prazer de lhe informar que desta vez o encontrei. Posso apresentá-lo a você?
Surpreendentemente, Dumbledore se virou para as portas abertas. Os alunos mal respiravam, temendo perder alguma coisa, então ouviram um ruído de cascos. Um murmúrio de espanto correu pelo saguão e os que estavam perto das portas recuaram. Em meio à névoa noturna surgiu um rosto com surpreendentes olhos azuis, cabelos louros-prateados, a cabeça e o tronco do homem se completavam com um corpo de cavalo.
— Esse é Firenze. — Disse Dumbledore, feliz, a uma assombrada Umbridge. — Creio que você o aprovará.

A aula de Firenze, mais tarde naquele dia, fora surpreendentemente interessante. A sala 11 havia sido completamente transformada, o chão coberto de musgo e grama, árvores espalhadas e o céu noturno no lugar do teto do castelo. Os alunos deitaram-se no chão e observaram as estrelas com o centauro, ouvindo suas instruções. A sabedoria que emanava de cada palavra de Firenze deixava Annelise abismada. Ela ouviu tudo atentamente e quando o sinal soou anunciando o fim da aula, a menina suspirou pesadamente.
— Bom, a aula foi legal, né? — Blásio cutucou Draco com o cotovelo.
— Hum, foi. — Concordou o outro, os olhos parecendo pesados de sono. — A atmosfera da sala me deixou cansado.
— Fala sério! Ele é incrível! Mas é estranho, não? É um centauro! — Retrucou, animado.
— Como assim, Blásio? — Annelise o encarou.
— Um centauro nos dando aula! Um mestiço! É estranho, se parar pra pensar...
— Somos bruxos, Zabini. Nós somos o estranho.
Os três seguiram para uma aula de Feitiços onde mais uma vez Annelise efetuou os encantamentos de maneira perfeita, fazendo o professor Flitwick conceder quinze pontos para a casa. Mais tarde, dando uma olhada na sua lista de afazeres, ela decidiu ir para a biblioteca e ler todos os livros possíveis sobre a poção que estudavam na aula de Snape. Ela estava tendo uma dificuldade que começara a irritar o professor.
Escreveu em cinco pergaminhos as coisas mais importantes que encontrou nos livros e decidiu que iria lê-los até a próxima aula, e se não conseguisse, pediria ajuda a Draco. Não entendia como ele podia ser o melhor aluno da sala, ficando atrás de Hermione Granger apenas. Annelise mal o via estudar, mas lá estava Draco, tirando as maiores notas nas aulas.
Tirando a cabeça dos pensamentos, ela guardou suas coisas e se despediu de Madame Pince, que parecia ansiosa para trancar as portas tanto quanto ela queria chegar logo ao salão comunal.
— Ei, Annelise.
Ela estava quase correndo, ansiosa para chegar logo nas masmorras e se deitar em sua cama macia de dossel quando ouviu uma voz sussurrar. A menina se virou, os cabelos loiros batendo em suas costas com o movimento brusco da cabeça. Harry acenou para ela.
— Oi. — Sorriu quando chegou mais perto.
— Talvez você queira comparecer ao nosso próximo encontro — Falou baixo, os olhos verdes olhando ao redor com atenção. — Vamos trabalhar com o feitiço do patrono. E já tem um tempo que espero você aparecer. — Ele retirou um pergaminho do bolso, junto com uma pena. — Assine a nossa lista de presença, vamos! Só essa aula. — Insistiu.
— Feitiço do patrono? — Arregalou os olhos, curiosa. Apoiou o pergaminho na perna e assinou seu nome com uma caligrafia um pouco torta por conta da superfície onde estava apoiada. — Estou assinando só para o caso de eu ir, mas não acho que serei bem-vinda.
Ele sorriu.
— É minha convidada. Estarei te esperando, sério. — Ele se afastou com Rony assim que o amigo o chamou, subindo as escadas e sumindo de vista. Quase no mesmo instante ela sentiu seu bolso esquentar e tirou o falso galeão do bolso, que carregava consigo o tempo todo. A data acabara de mudar, e era no dia seguinte.
Annelise precisava se infiltrar e sabia disso. Decidida a marcar presença no encontro, se dirigiu para a sala comunal da Sonserina em silêncio.

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