Capítulo 9- Quarto de hotel

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Eu estava sentada no sofá do pequeno quarto de hotel que eu tinha inteirinho pra mim, olhando as fotos do dia anterior no perfil de algum amigo da Toni, quando alguém bate na porta. Estranhei o fato e caminhei devagar até lá.

-Cheryl! – minha voz demonstrava surpresa.

- Olá, estranha. – Cheryl me deu um beijinho no rosto e entrou no quarto, sem muitos rodeios.

- Como você conseguiu subir? Eles nem telefonaram da recepção. – eu disse sentando-me de novo no sofá, enquanto ela se jogava na minha cama ainda desarrumada.

- Eu tenho meus dotes. – Cheryl revirou os olhos rindo – Disse que era um assunto sério.

- E é? – perguntei me arrumando no sofá.

- Nem tanto. – ela deu de ombros. – Só queria saber como você está.

- Estou bem, quero dizer, estou tentando. – me encolho.

- Foi o Jughead?

- Foi tudo, Cheryl. Parece que tudo virou uma gigante bola de neve, que pode explodir bem em cima da minha cabeça a qualquer momento.

- Ele voltou a questionar o por quê de você ter saído daqui de Riverdale?

- Sim, mas não foi só isso. Eu bebi e acabei falando demais.

- E como ele reagiu a tudo isso?

- Mal. Na verdade eu não sei. Estava tão perdida em meus pensamentos conturbados que acabei nem prestando atenção nisso. Nós dois estamos muito machucados, Cheryl. E depois que tudo que aconteceu comigo, eu não sei se posso...

- Você não me contou ainda. – Ela me interrompeu.

- Como? – demorei a entender do que ela estava falando.

- O que aconteceu com você naquele dia. Você me ligou desesperada, falando meia dúzia de palavras desconexas e disse que me explicaria mais tarde. – ela faz uma pausa e limpa a garganta. – Você ainda não me contou.

- É difícil. – meus olhos ficam marejados.

- Você sabe que pode falar pra mim, Betty. Eu te amo muito e vou estar aqui sempre que precisar, mas eu quero saber o que aconteceu e o que está acontecendo com você.

- Tudo bem. – aperto os olhos. – Eu tinha chegado em Montreal faziam umas três semanas. Eu estava péssima, afinal, não é tão fácil assim desistir de algo que você acreditava ser para a vida inteira. Eu estava acostumada com a minha vida em Riverdale e me vi sozinha em um apartamento e em uma cidade gigante e completamente desconhecida. A minha situação começou a piorar, o que era apenas choro, virou uma tristeza profunda, eu não queria sair da cama, muito menos do apartamento, então eu comecei a sentir alguns sintomas físicos muito estranhos. Tonturas, enjoos e um cansaço excessivo, achei que era algo relacionado á depressão ou síndrome do pânico, já que tenho um histórico familiar bem complicado. – olhei com o canto dos olhos para Cheryl antes de prosseguir. – Então comecei a tomar remédios controlados, descontroladamente. Eles me mantinham dopada, totalmente alheia á realidade. Então, certa tarde, comecei a sentir fortes dores abdominais. Corri pro hospital, óbvio, então... – por um instante, perco a força da fala. – Constataram que eu estava grávida. – Cheryl me olhou assustada, e eu afirmei com a cabeça. – Eu estava grávida de 4 meses. Nós fizemos de tudo, mas não conseguimos, os remédios controlados agiram como abortivos e eu perdi o meu bebê.

As palavras saíam ásperas da minha boca. Um misto de tristeza e amargura se fez em mim. Falar disso pela primeira vez foi horrível, e lembrar-se de tudo naquele dia é como reviver um terror. Por incrível que pareça, não soltei nenhuma lágrima ao contar tudo para Cheryl. Ao contrário, por todo o tempo meus olhos permaneceram fixos em um ponto específico do quarto de hotel, o que me fez passarem despercebidas muitas das reações de Cheryl ao ouvir a história. Volto com o olhar para ela, que me olhava assustada. Uma única lágrima escorria pelo seu rosto.

- Meu Deus, Betty. – ela passa a mão pelos cabelos. – Eu não sei o que te dizer.

Permaneci estática, observando cada movimento dela.

- Eu sinto muito. – ela se aproximou de mim. – Muito mesmo. – ela me abraçou. – Me desculpa por não estar com você num momento desse. Eu não acredito que isso pôde acontecer, você estava sozinha, B. Você passou por tudo isso sozinha. Me desculpa, por favor.

Cheryl passava a mão pelos meus cabelos enquanto chorava. O seu olhar se resumia a pena e remorso. Eu não falei nada, apenas a olhei.

- Eu ainda tive coragem de colocar a culpa nele, sendo que quem começou com isso fui eu.

- A culpa não é sua, Betty. –ela disse segurando o meu rosto.

- Eu fugi dos problemas, eu me isolei do mundo, eu me entupi de remédios. Eu causei isso.

- Isso foi mais uma das consequências de uma série de coisas que aconteceram com vocês. Vocês precisam conversar, Betty.

- E você acha que já não tentamos? Depois de explodir com ele eu me dei conta que não estou preparada para ter essa discussão. Não com Jughead. Nós dois estamos cheios de perguntas não respondidas, estamos com um vão entre nós.

- Vocês são adultos o suficiente para isso, mas de jeito nenhum deve haver pressão, ou então vocês vão acabar brigando, e vamos retornar para o início de tudo. Vocês tem que ir devagar, Betty. Não tratem isso com rancor, o tempo já passou e isso faz parte da história da vida de vocês.

- Eu sei, Cheryl. Mas você nos conhece. Nós somos dois cabeças-duras e atropelamos toda a ordem das coisas. – suspiro – Você não imagina o mal que isso me faz.

- Eu posso ver em você, nos seus olhos. – ela me observa. – Vem cá. – Cheryl abre os braços, me convidando para um abraço. Vou até a cama e me junto a ela, que me abraça, num ato de consolo. – Só não se preocupem em encontrar um culpado. Eu acredito em vocês e sei que o que tiver que acontecer, vai acontecer, e vai ser bom. Eu só quero te ver feliz.

Sorrio para ela, fechando os olhos e encostando a cabeça no seu peito. Como eu te amo, Cheryl Blossom.

Between Us ▶ Bughead |CONCLUÍDA|Onde histórias criam vida. Descubra agora