Epílogo

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 – Tudo está pronto, Vinícius? - perguntou Robertinho, enquanto terminava de se arrumar no escritório. Como anfitrião, estava uma pilha de nervos, tendo em vista a importância do evento, mas achava que conseguiria dar conta. Na verdade, quem deveria assumir essa função era Enrique, mas o marido lhe disse que nada mais adequado do que uma cara jovem comandar tudo. Esperava que ele estivesse certo...

– Tudo pronto, Robertinho. Está todo mundo esperando por você lá fora. - respondeu o capataz com um sorriso.

– Bem, então vamos.

Após vários meses de planejamento, o aniversário de fundação da Jequitibá Rei seria comemorado com uma exposição solene, nas próprias instalações da fazenda, que compreenderia documentos, objetos de valor, inclusive alguns dos livros raros da Biblioteca, e, no que seria o grande destaque, Enrique tomou a iniciativa de abrir pela primeira vez o estúdio com as obras de sua mãe. Com efeito, "A arte de Mariana Alcântara Leal" seria o destaque da mostra, mas isso só ocorria graças à importância dela para a fazenda, embora as peças fossem expostas ao mundo, devido ao seu caráter único ele continuava sem permitir a saída delas dali. Tanto que depois da solenidade alguns itens ficariam expostos no IPHAN por volta de um mês, mas as esculturas não, sendo representadas apenas por fotografias.

Na abertura da exposição, realizada diante do jequitibá, estavam presentes algumas autoridades civis, incluindo membros do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro e do IPHAN, além de diversas turmas de alunos de escolas infantis, incluindo uma da Passista e as de Marcelinho e Mariano, as famílias dele e de Enrique, que estava ao lado do pai, e, por último, alguns jornalistas.

Após algumas músicas serem entoadas pela banda de música do Exército, uma cortesia intermediada por Rui, Robertinho começou a falar:

- Este é um dia especial para nós, pois marca mais um aniversário desta que é uma das fazendas em atividade mais antigas do Rio de Janeiro. Há 200 anos que a Jequitibá Rei e outras fazendas da família Leal têm se empenhado em fornecer produtos de qualidade para as famílias estaduais e nacionais, e isso acontece principalmente porque nos empenhamos em honrar tanto o nosso quadro de empregados quanto os nossos clientes. Nesta exposição, vocês terão a oportunidade de ver retratos, documentos e obras que contam a história desta fazenda, espalhados em vários locais, inclusive algumas das peças esculpidas pela falecida senhora desta fazenda, Mariana Alcântara Leal, mostradas pela primeira vez com a autorização dos seus filhos. Vocês conhecerão a casa grande, a capela e o lago, além dos currais dos animais e algumas plantações, e observarão que valorizamos a tradição, sim, mas também temos os olhos abertos para o novo, pois precisamos conhecer o passado para construirmos um futuro melhor. Nossa história é familiar, mas no sentido de que procuramos ser não apenas sólidos mas principalmente acolhedores, como uma boa família deve ser.

Essa fala foi aplaudida com entusiasmo, e depois todos acompanharam a primeira parte da exposição, que ocorreu dentro da casa-grande. Repentinamente, Marcelinho desvencilhou-se de seus colegas, e foi para os braços do irmão, que o abrigou.

– Robertinho, você me leva junto?

– Tudo bem, mano, mas você está ficando pesado, heim? Acho que daqui a pouco não vou mais conseguir lhe segurar. - e colocou a criança com cuidado no seu ombro, observando que Enrique fazia o mesmo com o sobrinho. Não duvidava nada que as duas crianças, sempre muito próximas, provavelmente tinham combinado isso.

– Dando uma de São Cristovão? - perguntou-lhe o marido.

– Sim. E pelo visto você também.

– De fato. Mas enfim, eles são o futuro da Jequitibá Rei, não é mesmo? Nada mais justo que sejam os protagonistas desse evento.

– De fato – e numa inspiração repentina, fez um gesto para Enrique descer Mariano, fazendo o mesmo com Marcelinho – Vamos subir essas escadas juntos?

– Vamos! - responderam em uníssono, e os quatro subiram a escada de mãos dadas.


Depois de percorrerem diversos cômodos da casa-grande, chegaram ao estúdio de dona Mariana, naquela que seria a primeira vez que Felipe, que juntou-se a eles, entrava lá em mais de 30 anos. Ele chegou a se sentir uma pequena fraqueza, mas foi amparado pelo filho e pelo genro antes de todos adentrarem o recinto. Foi inevitável ele se sentir emocionado ao rever a arte da esposa, depois de tanto tempo.

– Isso tudo foi a vovó que fez, vovô? - perguntou Mariano.

– Sim, meu neto, ela era muito talentosa. E como seu nome foi herdado dela, tenho certeza de que você também o será. - respondeu para o menino.

– Exatamente, Mariano. O que não necessariamente quer dizer que você será escultor, existem outras formas de exercitar o talento, até tocando um berrante. - palpitou Robertinho.

– Eu gosto de tocar berrante – e nesse momento o menino pegou um berrante de brinquedo e começou a assoprá-lo, causando risos em todos.

Para Enrique era uma experiência diferente entrar naquele quarto sem sentir tristeza nem desgosto, mas deu boas-vindas às risadas. Se alguns anos antes dissessem a ele que um dia estaria casado, feliz e com seu pai fazendo parte de sua vida novamente, provavelmente teria mandado a pessoa pra locais inomináveis, mas ainda bem que a vida era imprevisível. E tudo porque, para agradar ao tio, resolvera aceitar em sua vida um rapaz que não conhecia, sem saber que aquele simples gesto mudaria as vidas de tantas pessoas.

– Pensando alto? - perguntou-lhe o marido.

– Não, estava pensando em você e no quanto sua vinda mudou tantas vidas.

– Mudou a minha também, mas eu faria tudo de novo. - e abraçou-o.

– Eu também não mudaria nada. - e retribuiu o abraço numa súplica para que outras histórias semelhantes às deles também tivessem finais felizes, já que ninguém deveria ser obrigado a amargar solidão e infelicidade só por amar quem amava.

Fim.

E é isso. Agradeço a todos que acompanharam este pequeno romance nas últimas três semanas, e espero que não se esqueçam de votar, comentar e ler as fanfics de "Finais alternativos". Quando eu tiver alguma ideia para uma nova história, vocês saberão, talvez eu resgate tramas que apenas esbocei mas estão inacabadas há um bom tempo.

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