A fazenda dos amantes

Capítulo 10

 Ao chegar em casa, Robertinho foi muito bem recebido pelos pais, que lhe perguntaram como foi a experiência de trabalhar na fazenda. Ele respondeu que fora satisfatória, mas que agora queria se concentrar em resolver assuntos pendentes. Eles sentiram que havia mais coisas ali, principalmente porque ele não tocou no nome de Enrique, mas preferiram não pressioná-lo.

No dia seguinte ocorreu a reunião com toda a família, iniciada por um jantar na casa deles. Depois que todos se serviram Mirella disse que tinha um anúncio a fazer e declarou:

– Presumo que vocês estão curiosos pelo motivo porque nós os convidamos, mas é porque as novidades que compartilharemos são grandes demais para um anúncio pequeno. Há uns dois meses comecei a sentir meu estômago embrulhado, e fiquei com receio de estar com um problema de saúde. Contudo, quando procurei minha ginecologista, ela ficou desconfiada e, depois de fazer algumas perguntas, prescreveu um exame de sangue, que coletei ali mesmo. O resultado ficou pronto um pouco depois e, para minha surpresa, eu estava grávida! Só não anunciamos antes porque queríamos esperar até o bebê completar três meses para termos certeza. - era nítida a emoção dela, bem como de seu marido, ao anunciarem que seriam pais de um temporão.

Todos ficaram surpresos, bem como maravilhados, e o primeiro a abraçá-la foi exatamente Robertinho, seguido do seu avô. Estela perguntou se eles tinham algum palpite sobre o sexo da criança, no que responderam que não, e a sobrinha Alana, famosa por sua língua sem freios, disparou:

– Mas vocês ainda podem ter filhos?

– Alana! Seus tios estão maduros, não decrépitos, e gravidez tardia não é nenhum bicho de sete cabeças, já aconteceu muito no passado, numa época em que a ginecologia nem era avançada como hoje. - repreendeu Gerson, seu pai.

– Certo, eu já entendi. Então quando você e a mamãe vão me dar um irmãozinho?

– Isso você vai ficar querendo, minha filha, decidimos fechar a fábrica quando tivemos o Júlio. Mais de três não dá! - respondeu ele enquanto fazia um carinho na cabeça dela e olhava os demais com uma cara de "perdoem os arroubos da minha menina".

Enquanto observava a mãe ser paparicada pelos familiares, sempre com um dos braços do marido protetoralmente sobre seus ombros, o rapaz não deixou de se encantar, mais uma vez, com a dinâmica da sua família. Podiam ter suas diferenças e até soltarem algumas faíscas eventualmente, mas se gostavam, se respeitavam e principalmente, se apoiavam. Ninguém ali falava que aquela gravidez, com certeza, teria de ter um acompanhamento mais rigoroso do que o normal, visto que a mãe já tinha 46 anos, mas o que em outros núcleos seria visto como preocupante ali era só um fator a ser observado, porém não incomodava a felicidade com aquela benção. Observou ainda que o tempo não diminuíra em nada a beleza dos pais, transformando Mirella numa senhora esguia e majestosa, que vestia-se com apuro e cortava o cabelo curto, e acrescentando fios brancos aos cabelos e à barba de Marcelo, que só o tornavam mais másculo. Por incrível que pareça, não parecia estranho eles terem um bebê, mesmo quando ele e Marininha estavam praticamente saindo de casa.

– Ah, Enrique, como eu queria que você estivesse aqui comigo nessa reunião. - pensou – Você adoraria conhecê-los.

Nesse ponto, Sérgio aproximou-se do afilhado e dirigiu-lhe a palavra:

– Robertinho, você não para de olhar pros seus pais e até agora não falou nada sobre sua saída da Jequitibá Rei. Você e o Enrique estão em bons termos?

– Mais ou menos, padrinho. É que tomei uma decisão que ele não aprovou, e acabou me dizendo coisas que me magoaram. Ele insinuou que eu era imaturo e disse que eu fugia dos problemas, então me irritei e disse que voltaria pra cá exatamente para resolver esses problemas e dar um rumo à minha vida. Estou muito chateado, porque as pessoas machucam aquelas que dizem amar?