Capítulo 12

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Na hora marcada o coronel Rui já estava diante da estátua de Tom Jobim, na orla de Ipanema, esperando que Maurício aparecesse com Robertinho. Assim que saíram da casa dos pais dele, ele contatou o sargento Moacir Melo, um policial de sua confiança, e os dois foram buscá-lo, separando-se quando chegaram à praia. Contudo, antes o sargento Melo colocou nele um mecanismo de escuta, escondido na lapela de seu uniforme, para que ele e Enrique pudessem escutar seu diálogo com os dois, e, na hora certa, agirem.

- Você tem certeza que isso vai dar certo, senhor Enrique? - ele perguntou antes de seguir no seu próprio carro para o local, enquanto o fazendeiro iria no dele com o policial, por outro caminho para o recruta, escondido sabe-se lá onde, não desconfiar.

- É a melhor maneira de resolvermos essa história sem nenhum de nós se ferir, coronel, incluindo o bandido que sequestrou o Robertinho. Tendo em vista a possibilidade de feras atacarem os meus rebanhos, mantenho sempre no meu carro uma arma com dardos tranquilizantes, de última geração, com direito a uma mira superprecisa. Quando eu atirar nele, e eu atiro muito bem, modéstia à parte, ele vai cair no chão sem sequer perceber.

- Bem, espero que dê certo, porque eu mesmo não tenho nenhuma outra ideia a não ser chamar um atirador de elite, mas há o risco do Robertinho ser atingido. Vamos esperar e rezar.

Agora, estava esperando seu ex-amante aparecer, junto com o único rapaz por quem realmente se apaixonara. Por que as pessoas cometiam tantos erros? Se não tivesse sido tão insensível e preconceituoso, talvez hoje ele e o ex-cadete estariam juntos, e ainda por cima o Exército não perderia um jovem tão promissor. Esperava que tudo terminasse bem, pois não deixaria Robertinho pagar por um erro que foi única e exclusivamente dele, mesmo que tivesse de arriscar sua própria vida para isso.

- Maurício, as coisas não precisavam ser assim. Você acha que realmente vai escapar impune? - disse enquanto saía do carro do ex-amigo e tentava convencê-lo a desistir.

- Talvez não, mas se eu tiver de me ferrar antes vejo seu ex-namorado sofrer. Você não tem ideia do que eu passei depois que você deixou o quartel. Ele me descartou como se eu fosse uma puta barata, e pra completar a história, graças àquele olho roxo que você me deixou, nosso caso se espalhou entre a tropa e todo mundo me olhava com desprezo. Ele vai pagar pelo que me fez da pior maneira, que é vendo eu lhe matar na frente dele.

- Olha, eu não tive culpa se a história de vocês não deu certo. Vocês é que começaram errado, traindo minha confiança. Honestamente, você achava que algo com um começo tão ruim ia prosperar? Eu não mereço pagar por algo que não fiz, já tenho até um namorado, há muito tempo que sequer penso no coronel Rui.

- Cala a boca! Carinhas como você sempre tiveram uma vida privilegiada, educados em bons colégios e protegidos pelos seguranças dos paizinhos ricos! Eu cresci na favela, batalhando por cada oportunidade que surgiu, e só porque não recusei que um homem bonito e importante se deitasse na minha cama e talvez me abrisse algumas portas todo mundo se acha no direito de me julgar. Mas agora nem que eu vá pro inferno perco a oportunidade de ver duas pessoas que se acham tão superiores a mim se ferrando! - e começou a empurrá-lo em direção à praia, de maneira discreta, apenas com o revólver levemente encostado nas suas costas mas oculto dos olhares alheios.

Enquanto era conduzido pelo outro, Robertinho rezou pedindo a Deus que o salvasse. Ainda não era o tempo dele morrer, tinha muitas coisas pra fazer e queria desfrutar plenamente da vida em família, principalmente do irmãozinho que nasceria em breve. Por que não ligara logo pra Enrique? Ao menos dissera a ele que o amava, tomara que tivesse oportunidade de repetir isso.

Logo chegaram no ponto combinado, e viu o coronel Rui, ainda com o uniforme que usara no jantar, posicionado diante da estátua de Tom Jobim, retratado ainda jovem com o violão às costas. Tentou dizer a ele que era uma armadilha, mas Maurício deu-lhe um safanão e o manteve como escudo.

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