Felipe Inocêncio Leal
Aproximadamente uma semana depois, num dia de sábado, Robertinho aproveitou que Enrique fizera uma viagem para o interior do estado e retornaria logo para dar um passeio no lago. Isso porque, como parte de uma iniciativa tanto de boas relações com a comunidade como uma publicidade diferenciada dos produtos que eles forneciam, havia o costume de, uma vez por mês, conduzirem grupos de turistas a visitas guiadas pela Jequitibá Rei, mostrando não só a sua beleza histórica como as atividades que eram conduzidas ali. A maioria dos trabalhadores já estava habituada com esse tipo de coisa, mas não era o seu caso, pois embora reconhecesse o valor daquela iniciativa não tinha muita paciência para lidar com pessoas de diferentes tipos, pois ainda que a maioria dos turistas fossem educados não era alheio ao fato de que havia não poucos inconvenientes, especialmente crianças não-controladas pelos pais. Sem mencionar que estava um pouco preocupado pois o namorado dera a entender que os dois teriam uma conversa quando ele retornasse, esperava relaxar um pouco antes que o lago também fosse visado pelos visitantes.
E talvez isso ocorresse mais cedo do que imaginava, tendo em vista que viu aproximar-se dele um senhor que nunca vira antes, aparentando uns 70 anos e vestido de camisa longa e calça jeans, com um chapéu cobrindo seus cabelos brancos. Ainda tentou se levantar para ir embora mas o estranho fez um sinal para que parasse.
– Por favor, rapazinho, não vá embora. Só quero conversar um pouco.
Em geral, o jovem não era fã de conversar com estranhos, mas além de ser acostumado a respeitar os mais velhos teve curiosidade em saber o que o homem queria com ele e por isso esperou. À medida que ele se aproximava, estudou-o com discrição e pareceu-lhe que o cara não combinava com um turista: seu rosto era moreno e as faces cobertas por uma barba e bigode bem-aparados, e apesar da idade e de estar acima do peso era um homem ainda atraente. Suas roupas por outro lado, tinham um estilo semelhante às dos peões, mas transpareciam uma qualidade que não se via neles, assim como seu andar lembrava mais uma pessoa de mando que um empregado. Não sabia por que, mas teve a impressão de que seus traços lhe eram familiares.
– Pois não, senhor, o que deseja? - perguntou sem oferecer a mão, não sabia o que ele pretendia e achava melhor se certificar disso antes de ser amigável.
– Você é o namorado do Enrique Alcântara Leal, não é? - ficou chocado com a pergunta, pois mesmo que o relacionamento deles fosse público não queria expô-lo dessa maneira. - Será que é algum repórter? - pensou, enquanto o encarava.
– Sim, mas não vejo no que isso possa lhe interessar. Como o senhor entrou aqui? Espero que não esteja atrás de mexericos, caso contrário vou lhe pedir que se retire.
– Não se preocupe, meu jovem, apenas quero conversar um pouco com você. Entrei aqui junto com os grupos de turistas, mas não vim aqui para visitar a fazenda. O que eu preciso é que você me ajude. - nesse momento o homem assumiu uma expressão mais humilde, como se o resultado daquela conversa fosse extremamente importante para ele.
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A fazenda dos amantes
RomansaSpin-off de "O general da minha vida". Roberto de Castro Lopes Neto, ou Robertinho, como é chamado pela família e pelos amigos, tem 20 anos e sempre se considerou um privilegiado. Criado num lar acolhedor e intelectualmente estimulante, cercado por...