Capítulo 61 - "Ninguém disse que tinhas de ouvir"

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Sara’s POV:

- Sara! – Ouvi a minha mãe gritar o meu nome, no fundo das escadas.

Franzi as sobrancelhas, larguei o livro que tenho andado a ler em cima do conforto da minha cama, antes de me atirar com os pés para o chão.

- Sim, mãe? – Gritei agarrando na porta, pondo a cabeça de fora do quarto.

- Anda cá abaixo, o teu pai gostaria de te dar uma palavrinha – pude sentir a tensão na voz, sabendo o que sentia neste momento pelo meu pai, mas por ela, pus o meu ódio de parte.

- Está bem, estou a ir! – Fechando a porta, pus uma sweater por cima do meu top, antes de voltar a abrir a porta, correndo devagar e descendo as escadas. Dando o meu último passo, virei-me para a esquerda para ver o meu pai perto da mesa do café. Tanto ele como a minha mãe pararam os sussurros.

- Olá pai – resmunguei desajeitadamente, sem saber se ele continuava ou não chateado comigo. Mexi com os pés, evitando contacto com os olhos.

- Sara! – Respirou. Surpreso por eu ter aceite descer para falar com ele – Como é que estás?

- Estou bem – respondi monotonamente, se ele pensa que o desculpei pelo fez, está muito enganado.

- Eu sei que estás zangada comigo, mas eu gostaria de falar contigo...

- Ok – levantei os ombros, apontando as mãos para ele – Fala.

- Sara… – A minha mãe murmurou suavemente, abanando a cabeça, mas o meu pai falou antes de ela ter a oportunidade de dizer alguma coisa.

- Não faz mal, Melissa – o meu pai virou o olhar fixo que tinha na minha mãe e olhou para mim com um olhar triste, olhando para os meus olhos cor de chocolate – Ela tem todo o direito de estar chateada comigo.

Cerrei lábios, criando uma linha firme, sem saber como reagir com a calma dele. Esperei que ele gritasse comigo ou no mínimo um rosnar saído dos seus lábios mas tudo o que via era um suave sorriso de quem não entendia.

Olhei para o lado, não conseguindo aguentar a pressão sobre os seus olhos.

- Podemos sentar e falar? – Sentando-se, ele apontou com a sua mão esquerda para o lugar ao lado dele, esperando que eu me sentasse a seu lado. Hesitei, antes de assentir e de andar para perto dele. Sentando-me a uns poucos metros de distância dele, brinquei com os meus dedos nas pernas.

A minha mãe observava-nos de onde estava, com os olhos a brilhar de esperança e eu sabia que ela queria que fizéssemos as pazes.

Parte de mim o fez.

- Do que é que queres falar? – Resmunguei quebrando o silêncio, esperando que isto acabasse depressa. Odeio ter de estar sentada a olhar à volta, à espera que alguém dissesse alguma coisa.

Foi uma enorme perda de tempo.

O meu pai mexeu-se no lugar, mantendo a postura, passou a língua nos lábios e engoliu em seco.

- Gostaria de falar sobre ontem à noite.

- Pai… – Comecei a falar, mas fui interrompida pelo meu pai, levantando a mão com o sinal de me calar.

- Não Sara – abanou a cabeça – Temos de falar sobre isto.

Assenti, deixando-o a saber que podia continuar.

- Eu tinha a cabeça fora do lugar. Nunca te devia ter posto uma mão em cima. Tu és a minha filha e eu amo-te. Nada o irá mudar. Nós fizemos más decisões, mas no final do dia, piorei a situação. És parte de mim e eu nunca devia ter deixado acontecer o que… Aconteceu – a tristeza ocupou-lhe o olhar, deixando as lágrimas apoderarem-se e enevoar a sua visão – Desculpa – sussurrou olhando para as suas mãos.

A minha mão levou as mãos à boca formando uma concha, enquanto as lágrimas também lhe escorriam.

- Desculpa – fiz uma careta, pondo as minhas mãos sobre as dele – Se eu não tivesse gritado, nunca me terias batido. Não estava a pensar e tinha a cabeça a mil com tudo o que aconteceu.

- Querida… – Tirou a sua outra mão e cobriu as minhas, enquanto fazia pressão sobre as minhas que estavam no meio – Não tens nada de que te desculpar. Estavas a defender aquilo em que acreditavas. Se eu estivesse no teu lugar e me dissessem que não poderia ver a tua mãe, eu teria reagido da mesma maneira – um leve sorriso escapou dos seus lábios.

Sorri, pondo uma madeixa de cabelo atrás da orelha antes de falar.

Danger [Português/Adaptada]Onde histórias criam vida. Descubra agora