JADE NARRANDO
Eu não pude ver o Gustavo daquele jeito, e parece que simplesmente todas as minhas forças foram embora no exato momento em que vi Diego o arrastando, feito um nada pelo colarinho de sua camisa. Tentei alcançá-los, e felizmente não foi em vão. Quando cheguei ao local, Gustavo já tinha sangue espalhado por todo rosto, e um sentimento de dor, misturado com ódio pôde instalar-se ainda mais em mim.
Por mais que eu gritasse, me esperneasse, Diego não parava de bater nele, e muito menos seus vapores de perderem a oportunidade de encostarem em mim. Eu me senti uma fraca, e a única coisa que pensei no momento foi em implorar para que Diego o deixasse ir embora, e que apenas descontasse todo o ódio em mim. Mas pelo contrário, ele decidiu que não! Apontou uma arma no rosto da única pessoa que ficou comigo esses anos todos, e eu não consegui pensar em outra coisa a não ser usar todos os dons policiais que tinha. Empurrei Henrique que me agarrava com força e entrei na frente de Diego implorando ainda mais pela sua misericórdia. Gustavo olhou para mim e pediu para que fosse embora. Mas ele sabia tudo o que tava passando naquele momento. Ele me conhece mais do que eu mesma.
Dou um chute em Diego e sua arma cai no chão. Pego a mesma e aponto para ele.
-Acabou a palhaçada, solta ele agora ou quem morre é você.
Todos os vapores apontam as armas para mim, mas mal eles sabem que não tenho nada a perder. A única coisa pela qual prezo nesse momento é a vida de Gustavo.
Diego levanta do chão e me agarra, pressionando seus braços fortes contra meu pescoço.
-Eu imaginei essa cena de outra forma. Mas como sempre, fui decepcionado. Desculpa, Jade. Agora dê adeus ao seu amiguinho.
-Adeus é o cacete. Você acaba de ser distraído, otário!
Dou um chute pra trás que eu tenho quase certeza que bateu nas bolas de Diego. Pego a arma novamente e disparo uns 6 tiros no chão, levantando poeira. Amadores idiotas.
Gustavo já estava desamarrado e olho para ele em um sinal de: "ainda bem que você me conhece". Dou mais 3 tiros contra o chão levantando mais um pouco de poeira, e finalmente corremos dali. Graças aos dias que passei por aqui, pude pesquisar muito bem esse local, e quase sei todas as saídas que os vermes utilizam.
Olho para gustavo apreensiva.
-Eu conheço você mais do que ninguém, Jade. E sei que você não vai querer partir. Mas é muito arriscado, não posso te deixar aqui sozinha.
-Gustavo, eu tenho uma missão. Arriscado seria deixá-la de lado. Eu vou me virar sozinha! Ainda mando notícias, por favor, vá...
-Eu não vou te deixar aqui.
-Você vai sim!
Empurrei Gustavo pra dentro do duto de esgoto, e acionei a equipe pelo botãozinho que havia escondido em meu colar. Avisei às pressas onde Gustavo estaria e o tenente disse que já havia pegado-o.
Fui correndo em direção contrária, quando bato de cara com o Diego.
-Sua cadelinha, acha que pode fazer isso comigo? Acha que pode sair dando tiros no meu morro, me fazer de idiota e ainda sair impune disso tudo? Você acha isso, Jade? Ele grita me deixando totalmente assustada e em silêncio.
Eu não posso esperar menos que uma tortura, uma morte bem violenta ou até mesmo uma surra. Eu tava assustada e só queria ir pra casa. Mas eu precisava terminar isso dignamente, não fugindo.
Diego sai me puxando pelo braço por todo o morro, e pude ver vários moradores olhando, inclusive seu Severino, que estava com uma expressão triste e cabisbaixa. Mandei um olhar pra ele e joguei no ar um "vai ficar tudo bem", o mesmo apenas assentiu com a cabeça e vi seus olhos encherem de lágrimas.
Diego arrasta-me até chegarmos em um sobrado. Ele abre a porta, sobe as escadas e entramos em um quarto. Logo Diego me joga na cama e me olha furioso, e se eu pudesse ler a mente dele, teria um grande e enorme ódio.
-Jade, Jade. O que fazer com você, hein? Diego diz e engulo em seco. -Você me desrespeitou, me bateu, salvou uma pessoa que deveria estar morta, utilizou uma arma em MEU morro, e ainda por cima voltou como se nada tivesse acontecido. Abaixo a cabeça e esboço uma expressão triste. -OLHA PRA MIM, JADE, OLHA PRA MIM. Diego agarra suas mãos em meu rosto e senti uma dor terrível. -Você merece uma surra, sua piranha.
Assim que ele levanta, sinto um estalo em meu rosto. E nossa, como doeu. Eu queria revidar, mas meu medo maior era dele ir atrás de Gustavo novamente. Então apenas assenti e continuei deixando.
Diego me deu uma surra. Meu corpo estava dolorido e meu braço roxo. Estava com algumas marcas em meu rosto, mas nada muito intenso, apenas uns vermelhidões. Já era dia e levanto da cama com bastante dificuldade. Olho ao redor e vejo que Diego não está aqui. Vou até o banheiro, faço minhas higienes matinais e tomo um longo banho. A água quente espalhando-se pelo meu corpo parece que me relaxa. Saio do banho e caminho até a cama. Coloco umas roupas que haviam em cima da mesma e desço as escadas a fim de ir embora. Assim que piso no primeiro degrau pude ver Diego sentado lendo um jornal. Uma dor imensa invadiu todo o meu corpo e eu senti uma vontade enorme de vomitar. Engoli em seco e fui descendo. Diego fecha o jornal e se aproxima de mim para me ajudar a descer. Eu faço um sinal de pare e ele fica no meio do caminho me olhando confuso. O mesmo volta para o lugar e levanta-se imediatamente. Franze o cenho, e coça os cabelos.
-Jade...me desculpa por ontem. É...eu não sou assim. Não sei o que deu em mim. Eu nunca, em hipótese alguma machucaria uma mulher. Muito menos você. Ele se aproxima e eu me arrepio com seu toque. Afasto-me com dificuldade e fico em silêncio. -Por favor, me desculpa...todos os vapores estavam dizendo que eu deveria tomar uma providência, e toda a raiva naquele momento me deixou cego.
Começo a chorar baixinho e vejo que Diego se aproxima, o mesmo me vira para ele e pude ter uma visão de seus olhos arrependidos.
-Ei, desculpa, não chore, por favor...
-Não chore? Não chore? Você tem noção do quanto sofri ontem? Você ameaçou matar o meu melhor amigo, a única pessoa que ficou comigo esse tempo todo. Digo em meio de gritos e choros. -E eu tentei salvá-lo, nada mais do que isso. Não iria vê-lo morrer na minha frente.
-Jade...
-Cala a boca! Você me espancou, você tirou o pingo de dignidade que ainda havia dentro de mim. Você me deixou indefesa, com medo, sentindo dor. Você não merece a compaixão, e o sentimento de nenhum ser humano. Você é um monstro. Olha o que você fez comigo, olha as marcas que você me deixou. Aponto para os meus braços e Diego está com lágrimas nos olhos. - Como pôde bater em uma mulher? Em mim? Eu te odeio, Diego, com todas as forças desse mundo. Eu nunca mais te verei com outros olhos, você pra mim é um monstro. A pior pessoa que conheço! Eu sairia desse morro ainda hoje, se pudesse. Mas não tenho outro lugar pra ir, e eu preciso continuar. Por favor, me deixa em paz. Não troque se quer alguma palavra comigo, apenas servirei para ser sua puta, como diz sempre.
Diego puxa meu braço, e sinto uma dor invadindo-me. Olho nos seus olhos, e desvio para sua boca.
-Jade, me desculpa...deixa eu fazer diferente.
-Não, tira a mão de mim que tá machucando. Sai de perto.
Saio daquela casa com lágrimas nos olhos e apresso o passo o mais rápido que posso.
Chego na casa rosa, e quando entro, todas as meninas esboçam um rosto surpreso. Menos a Juliana, que começa a rir e apontar para minha cara.
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Fora da lei
RomantikJade, uma policial que está passando por problemas em seu distrito resolve ter a ideia de se infiltrar no morro do alemão e fazer a maior operação da sua carreira. Até conhecer Diego, dono do morro. Todas as diferenças entre eles interferirá nesse r...