PARTE II CAPÍTULO 2

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JADE NARRANDO
4 anos atrás

Acordo em uma casa desconhecida e não sei ao certo onde eu to. Abro meus olhos e tento levantar, mas não obtenho nenhum êxito com o esforço que faço, sinto uma dor imensa invadindo meu peito. Eu tomei um tiro, aquilo foi real. E o meu filho?! Olho atentamente e assustada para o local, mas não vejo ninguém.
-Socorro! Alguém me ajuda!- grito tentando fazer com que alguém me ouça. Eu preciso sair daqui. Preciso salvar meu filho.
-Calma, Jade, não se mexa, vai piorar tudo.- olho em direção a voz que tenta me acalmar e vejo Seu Sivirino. O que ele tá fazendo aqui?
-Seu Sivirino? O que faz aqui? Onde eu to? Cadê o Diego? Meu filho tá bem? Como vou sair daqui?- indago com a voz cansada.
-Se acalme, menina. Está tudo bem agora. A bala já foi retirada de você. O seu filho está em ótimo estado, nada ocorreu com ele. Não estamos mais no morro, e precisamos conversar. -Seu Sivirino me olha com a cabeça baixa e tenta esconder seu nervosismo, mas ele não consegue fazer isso muito bem. Eu ainda percebo.
-É...pode falar. O que houve?- me ajeito na cama e o olho atentamente.
-Bom, você precisa sair do Brasil. O cara que deu um tiro em você é dono de praticamente todos os morros do Rio de Janeiro, ele é altamente poderoso. Com certeza se souber que você está viva, virá atrás de ti e te matará, agora sem erros. O Diego tá bem, mas ele descobriu que você é uma infiltrada, com certeza sua morte não valeu de nada pra ele. Ele também vai querer vir atrás de você. Jade, me escuta, tu precisa sair daqui. Você não pode morrer...
-Não, o Diego nunca viria atrás de mim e me mataria, ele me ama, ele me pediu em casamento. Eu carrego um filho dele, nosso filho. Ele é minha família, minha única família. Por favor, não me peça isso.- digo totalmente desesperada e com lágrima nos olhos.
-Jade, tente entender, ele não tá mais nem aí pra isso. O morro sempre vem acima de qualquer outra coisa. Como seria pra ele ficar com uma policial infiltrada? Com certeza geraria muitos problemas para ele, ainda mais como dono do morro. Ele nunca te aceitaria. Me desculpe, mas você precisa ir. 

Eu me desabo em choro. Não posso acreditar que quando tudo tava indo bem entre eu e o Diego, algo desse tipo acontece. Estávamos tão apaixonados, felizes. Nós teríamos um filho. Meu deus, ele ficaria tão feliz em saber. Escolheríamos o enxoval, eu sei que ele faria dessa criança um príncipe ou uma princesa, ele seria um bom pai, tenho certeza disso. Saio de meus devaneios e percebo que essa não é a realidade em que me encontro. Eu vou ter que criar essa criança sozinha, mas ele ou ela será feliz, será sim. 
-Tudo bem...não tenho outra escolha, não é mesmo?!- faço uma pergunta retórica, mas Seu Sivirino me responde com um aceno.- Pra onde eu vou?
-Pro Canadá. Sua passagem já está comprada. Eu tenho um amigo que mora lá, ele é de confiança, vai te ajudar em todas as coisas que forem necessárias, tenha certeza.
-Canadá? Mas tão longe assim? Eu vou ter que deixar minha vida toda aqui?- falo um pouco assustada.
-Jade, você já não tem mais nada aqui, me desculpe. Mesmo se você voltar pro distrito e contar tudo, quem te garante que te ajudarão? Que o tal tenente não te matará? Você precisa ir. Não pode correr esse risco.
-Bom...é verdade. Obrigada então. Eu vou quando?
-Hoje mesmo. O avião sairá às 22h.
-Já são 20:00, preciso arrumar minhas coisas.
-Ja está tudo arrumado, tudo encaminhado. Você só precisa de uma bolsa com suas coisas mais pessoais. Como celular, carteira e afins. Suas roupas já foram pegas.
-Entao tudo bem. Obrigada, Seu Sivirino, de verdade, você tá salvando meu filho.
-De nada, menina, saiba que sempre poderá contar comigo, pra tudo.
-Tudo bem. É...desculpa talvez estar sendo indiscreta com essa pergunta, mas por que o senhor está me ajudando tanto?
-Eu gosto de você, Jade. É uma menina boa, é sim, não quero que você morra. Agora vai descansar, já são 20:00 e precisamos sair daqui as 21:00, felizmente estamos perto do aeroporto.
-Ok, muito obrigada mesmo. Boa noite. - Seu Sivirino acena pra mim e sai do quarto. Viro-me na cama e sinto uma dor horrível no peito. Droga, tinha até esquecido desse tiro. Fecho os olhos  e deixo-me invadir pelo sono.

-Jade, acorda, está na hora de irmos. - abro os olhos ainda sonolenta e levanto da cama com dificuldade, meu peito ainda dói, que droga. Saio do quarto e vou até o banheiro, tomo um banho rápido e escovo os dentes, visto uma roupa e pego minhas coisas. -Vamos?!
-Sim. O táxi já nos espera.

Entramos no táxi e fizemos uma viagem um tanto curta, não achei que estaríamos tão perto do aeroporto assim. Em 30 minutos chegamos no nosso destino, descemos do táxi e Seu Sivirino pega minhas coisas. Vamos fazer o check-in e logo logo vou embarcar.
-Conseguiu?- pergunto um pouco aflita.
-Sim.
-Nunca viajei de avião, estou nervosa...
-É claro que já viajou, tu era bem pequena.
-Como? Como o senhor sabe disso?- pergunto estranhando sua resposta. Nem eu sabia disso.
-É...falei brincando. Foi só pra descontrair o ambiente. Não fique nervosa, menina, tudo vai dar certo. - Seu Sivirino tenta disfarçar, mas ele não me convenceu. Prefiro deixar para lá, com certeza essa não é uma de minhas preocupações no momento.
-"O voo 157 decolará em breve. Por favor, senhores passageiros, encaminhem-se para o portão de embarque."
-Tá na hora, Jade. Você precisa ir.
-Preciso...- esboço uma cara de choro e lágrimas começam a brotar nos meus olhos.- Obrigada, Seu Sivirino, por tudo.- abraço-o e logo sou retribuída.
-Não tem de que, eu desejo que você seja muito feliz, muito mesmo. Adeus, menina. Espero te ver em breve.
-Adeus, Seu Sivirino.- Ando em direção ao portão de embarque. Acaricio minha barriga e dou uma última olhada para trás. -É, meu amor, parece que agora só somos eu e você, mas eu prometo te fazer a criança mais feliz do mundo.

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