Fora da lei

Capítulo 23

A cada momento que fico mais neste local, mais me assusto com a expressão do tenente. Ainda não entendi o que ele tá fazendo aqui, oras, estamos em um leilão beneficente em São Paulo, ele deveria estar no distrito, não aqui.
-É...Jade, não é mesmo?
-Tenente?
-Cala a boca- ele disse baixo- Me acompanhe por favor, senhorita. Será que poderia rouba-la por um minuto, cavill?
-É claro que sim! Preciso encontrar com um dos organizadores, não queria deixá-la sozinha novamente mesmo!
-Ok, me acompanhe então, senhorita.
Andamos até uma parte silenciosa e pouco frequentada do enorme salão de festas, continuei em silêncio, eu não estava entendendo nada. Tenente estava totalmente esquisito!
-Jade, o que faz aqui?- ele diz olhando para os lados-
-Tenente, eu to saindo com o Cavill, e ele me trouxe até aqui. Mas e você? O que você esta fazendo aqui? Está agindo de uma forma estranha...
-É apenas uma investigação, Jade. Parece que esse leilão arrecada fundos para o tráfico.
-Oi? Como assim? Como vim parar aqui?
-Bom, não posso te dizer que tenho a certeza de que todos aqui estejam envolvidos, principalmente o Cavill, ele faz parte da investigação junto comigo.
-Bom, entao ele não é piloto de corrida, mas sim um infiltrado?
-É...podemos dizer que sim. Agora volta pra lá e finge que nada aconteceu. Invente que sou um velho amigo de seu pai, ou algo do tipo. Ele não pode desconfiar de jeito nenhum que você é uma policial, ainda mais uma infiltrada no morro, ouviu bem?
-Sim, tenente, pode deixar, isso não sairá daqui.
Troco mais algumas palavras com o mesmo e logo me dirijo ao encontro do Cavill. Tenente está estranho, agindo de forma esquisita. Nesse angu tem caroço, pode apostar, e eu com toda certeza irei descobrir.

Ficamos mais longos minutos andando por todo aquele salão cumprimentando todos os amigos de Cavill. Eu sinceramente já me sinto cansada, não aguento mais. Com fome, esse salto me matando, olhando centenas de rostos estranhos, essa máscara me apertando, olha, cada vez que passa, pior fica. 

Depois de eu reclamar horrores na minha cabeça, finalmente Cavill decide meter o pé. Vou ao banheiro pela última vez, e quando saio, ouço uma gritaria enorme. As pessoas estão correndo, outras caídas no chão, e quando olho ao redor, vejo a polícia federal.
-POLÍCIA, MÃOS NA CABEÇA! TODOS QUE ESTÃO NESSE SALÃO DEVEM PERMANECER QUIETOS, SEM FAZER QUALQUER MOVIMENTO BRUSCO, OU SE NÃO, MORRE!
Olho de relance e encontro os olhos azuis de Cavill. Ele sorri pra mim, e faz um movimento esquisito, como se estivesse chamando alguém. Quando vejo, Cavill está em cima dos policiais, socando um deles, enquanto os outros caras estão com armas apontadas. Fecho os olhos, e ouço um barulho, quando olho, vejo Cavill e seus companheiros mortos no chão.
-EU DISSE QUE QUE
SE MEXESSE TOMARIA TIRO NA CARA. AGORA, COLABOREM!
Corro para o banheiro novamente, e deixo a máscara cair, deixando à mostra todo o meu rosto.
-Meu deus, não pode ser. O que eu to fazendo aqui? O que está acontecendo?
Como assim o Cavill morreu?
Sento no chão e começo a chorar, o que está acontecendo? Eu preciso sair daqui. Assim que abro a porta, dou de cara com o Diego.
-Jade, vem, anda logo, a gente tem que sair daqui.
-O que você tá fazendo aqui? Como assim?
-Jade, você entrou em uma cilada. Esse leilão era uma reunião de todos os chefes de morro do Rio de Janeiro. O Cavill estava mentindo para você esse tempo todo...
-Como assim? Isso é mentira! Ele era piloto, disse olhando nos meus olhos.
-As pessoas mentem, Jade, todas elas. Mas agora eu preciso que você confie em mim. Eu necessito te tirar daqui, temos que fugir.
-Meu deus, Diego, onde eu fui me meter?
-Só vem comigo, por favor. 

Minha mente é um turbilhão de emoções. Tenente disse para mim que era infiltrado, e Cavill também, mas como ele morreu? Os policias sabem, a invasão teria com certeza sido bem mais amigável. Isso tá bem esquisito, eu preciso descobrir quem tá mentindo aqui.
Despeço meus pensamentos quando Diego me chama, ele segura na minha mão e me leva para fora do salão, passamos por uma porta secreta que dava de cara com o jardim, onde se encontrava todos os carros de polícia, e dos "convidados" do leilão.
-Se abaixa, Jade.
-Eu to abaixada, pode ter certeza que sei bem mais do que você.
-Até parece. Vem, vem logo, a gente vai ter que roubar um carro.
-Caceta, quanto mais o tempo passa, mais fudida eu fico.
-Hã?
-Nada não. Vamos logo, não da pra ficar dando muita bandeira aqui não. Eles com certeza têm contagem, vão saber que saímos de lá.
-Tem razão. Precisamos ir logo.

Diego quebra um dos vidros do carro, e entra devagar no mesmo. Faz ligação direta, e agradecemos aos céus esse carro não estar com o alarme ativado. Com toda certeza esses bandidos pensaram em uma invasão. Ele arranca com o carro, e eu finalmente me vejo indo embora daquele local.
-Conseguimos, conseguimos!
Diego sorrir de uma forma tão doce pra mim, e eu pude retribuir na mesma altura.
-Ai, que bom, agora da certo. Vamos logo, Diego.
Ouço sirenes e quando olho para atrás, vejo a polícia nos perseguindo.
-Porra, Jade, o boca que tu tem hein, puta merda.
-Ai caceta, despista eles. Merda!
-PAREM O CARRO E SAIAM DO MESMO, VOCÊS SABEM QUE NÃO TEM PARA ONDE FUGIR. É MELHOR PARA OS DOIS!
-ANDA LOGO, DIEGO, PORRA.
-Calma, a gente vai conseguir.
-Calma? Calma? Como você pede pra eu ter calma em uma situação dessa? Estamos em uma PERSEGUIÇÃO POLICIAL, CARALHO! Isso pode arruinar minha vida de uma forma tão grande.
-Pensasse nisso ao se envolver com qualquer pessoa.
-Sério que você tá falando isso? SÉRIO MESMO?
-Você nem conhece o cara direito e já tava vindo para um leilão em OUTRO estado, onde você não conhece absolutamente ninguém. Você é louca?
-REALMENTE, eu devo ser muito LOUCA, pra tá no carro com uma pessoa que só consegue me magoar cada vez mais. Se você não tivesse me dispensado, estaríamos no morro agora, como um casal normal.
-Nós NUNCA poderíamos ser normais. Por que você não tira isso da sua cabeça, Jade. Você sabe que eu não posso te proporcionar o que você precisa.
-Claro que pode, e você sabe disso, aliás, você é a única pessoa que pode.
Diego me olha, e sua raiva transforma-se completamente.
-DIEGO, CUIDADO! OLHA O POSTE.