O jardineiro e a Violeta

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Era uma vez um jardineiro. Em seu jardim sempre existiram plantas carnívoras e espinhosas.

Essas plantas eram um meio de proteção, para que ninguém descobrisse que ele era um jardineiro sensível. Um amante de belas flores.

Quando andava pelas ruas só via mato. Aquele tipo mais vagabundo mesmo, que nasce em qualquer terra, em qualquer lugar, e de tão comuns, não despertavam nenhum tipo de atenção.

Nessas andanças, notou numa casa aparentemente vazia, uma plantinha que se diferenciava totalmente de tudo que já vira.

Sim. Era uma violeta.

Linda! Exuberante, escondida entre o mato e suas próprias folhas.

Mas, o jardineiro perito em plantas ficou maravilhado com a beleza e colorido, que mesmo camuflados estavam lá.

No dia seguinte teve coragem de pular o muro e se aproximar da violeta. E nada do que pensara ou imaginara o decepcionou. Pelo contrário! O jardineiro tinha encontrado o porquê de ter-se tornado jardineiro! E ficou horas e horas ao lado dela, contemplando e admirando.

A noite caía e teve que se despedir. E o que fez logo que amanheceu?

Destruiu seu jardim de plantas carnívoras, espinhentas e procurou a violeta.

Com muito carinho tirou o mato que crescia ao redor dela, para que ela pudesse mostrar toda sua beleza e raridade.

E teve uma idéia, já que a casa parecia vazia, quis morar nela para cuidar da linda plantinha.

Qual foi sua surpresa quando soube que a casa tinha dono! E que ele estava invadindo terreno alheio.

Ironicamente, o dono da casa que vivia viajando, passou a residir mais na casa. E isso causou no jardineiro uma tristeza profunda. Passava em frente ao jardim rapidamente só para admirar e ver se mais algumas florzinhas tinham nascido.

O jardineiro procurou todo tipo auxílio para viver ao lado da violetinha. Tentou comprar a casa ou alugá-la, mas não conseguiu, pois o dono parecia gostar muito também daquela residência.

Nas ocasiões em que o dono raramente viajava, ele pedia à violetinha:

— Vem para o meu jardim... Vou cuidar de você! Regar-te todos os dias, conversar com você, te colocar no sol quando necessário. Vou te colocar numa terra gostosa, e prometo que te cercarei de amor e compreensão. Eu sou um jardineiro, sei que nunca encontrarei uma flor tão linda quanto você.

Mas a violetinha, ao mesmo tempo em que se alegrava, ficava com as florzinhas murchas, como se pensasse consigo mesma:

— Puxa, estou aqui desde que era só um brotinho. Conheço cada polegada desse jardim, minha raiz está fincada nesse terreno e me sinto segura. Sei que o dono da casa gosta de mim. Mas... o jardineiro me livrou dos matos que me cercavam, e me mostrou que sou linda e posso crescer muito mais. Que confusão!

E assim continuou a vida de ambos. O jardineiro com a terra preparada para receber a violetinha. E visitando-a raramente, somente quando era possível.

E ela, abrindo belas flores, apesar de ter pétalas tristes sentindo saudade do jardineiro.

Quando não suportou mais ficar longe da violetinha, decidiu deixá-la plantada no lugar de sempre.

Decidiu não mais visitar a violetinha e somente lembrar com todo carinho o que foi vivido entre ambos. Sabia que ela nunca mais seria a mesma depois dele. E ele, nunca mais seria o mesmo sem ela.

Não posso dizer que ele não chorou. Seria impossível dizer que ele não olhou para os céus e perguntou:

— Hei mãe natureza, porque ela não nasceu no meu jardim?

O jardineiro teve que superar tudo isso, lidar novamente com os matos e as plantas carnívoras e espinhosas que insistiam em crescer no lugar reservado à violeta.

Porém, uma coisa ele não percebeu. Um pólen da violetinha tinha sido depositado por ela em seu cabelo.

Ao chorar e segurar a cabeça sobre a terra, deixou o pólen cair.

E depois de alguns meses, para sua surpresa, uma violeta nasceu em seu jardim, só para provar que o amor sempre acha um caminho.

Nem todas doenças são crônicasOnde histórias criam vida. Descubra agora