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As primeiras lembranças de Harry eram das duas mangueiras nos fundos de sua casa. Lembrava-se de muito pequeno deitando no gramado e tentando ver os frutos maduros no alto. Ali construíram seu primeiro balanço. Ali também colocaram a rede onde ele se deitava junto com o pai no final de tarde, quando este chegava do trabalho e contava como foi o seu dia.

Aquelas árvores também lhe garantiram o primeiro braço quebrado. E foi ali atrás que deu os seus primeiros beijos na prima da vizinha que morava ao lado.

Ele foi um garoto muito feliz. Seu melhor amigo na infância foi seu pai, teve sua cota de mimos e de castigos, mas era feliz. Um garoto muito sensível, perspicaz, que percebia que nem tudo era um mar de rosas a sua volta.

Aprendeu a reconhecer o olhar de tristeza que sua avó paterna às vezes adotava. Tomou para a si a obrigação de ser tão bom garoto, que tiraria a aflição do semblante da mulher que tanto amava. Nem sempre conseguia fazer tudo certo, mas acertava na maioria das vezes.

Aprendeu que quando confessava que a amava, o sorriso nascia em sua face, por isso, repetia sempre, em qualquer oportunidade, com beijos e abraços. Levou anos para ele saber que não era a causa do sofrimento da avó. E mesmo quando soube continuou inventando jeitos de fazê-la feliz.

Talvez por isso se tornou o adulto centrado, sensível e bom leitor de pessoas na maior parte do tempo. Assumia a responsabilidade de tornar as coisas mais fáceis e simples na vida das pessoas a sua volta. Quase sempre conseguia.

Com o tempo Harry tornou-se um especialista em esconder a si mesmo. Fazia isso com tanta propriedade que às vezes ele mesmo tinha dificuldade de saber quem era o homem que via no espelho. Era capaz de fazer exatamente o que era esperado dele, sem se lamentar ou reclamar.

Tinha a rara capacidade de observar sempre as necessidades dos outros antes das suas. Talvez por isso quase nunca fizesse algo que fosse apenas para si.

Órfão de mãe aos dois anos de idade cresceu sabendo que não se podia ter tudo.

Tinha muitos amigos e a vida confortável de um garoto de classe média alta, ainda assim não cresceu acreditando que o mundo estava a seus pés.

Passou a infância numa casa grande com um pequeno pomar no quintal. Atazanava o juízo da avó com suas "invencionices".

Quando o garoto tinha sete anos o pai mudou de cidade para assumir os negócios da família, até então, nas mãos do avô, que se encontrava doente. Desmond Styles saiu de casa ainda quando o filho era adolescente. Reconstruiu sua vida em outro estado, com outras mulheres, mas não deixou de administrar os bens da esposa, até mesmo quando se divorciou dela anos mais tarde.

Quando tomou a difícil decisão de ir cuidar dos interesses da mãe, Des Styles pediu ao filho que tomasse conta dela, pois precisaria de um homem que a protegesse. Ele nunca questionou isso, nem mesmo na adolescência, quando essa responsabilidade lhe custou caro.

Aos oito anos conheceu seu melhor amigo, Zayn Malik. O menino era um novo rico, filho de um sujeito que construiu sua fortuna de forma duvidosa. Os Styles acolheram o garoto desde o primeiro momento, a ponto das duas crianças fazerem tudo juntos. O que era bom e ruim. Foi Zayn que convenceu o amigo a dar a primeira tragada. Foi também Zayn que decidiu que Harry já tinha passado do tempo de dar o primeiro beijo. Foi ele que o levou a descobrir sua sexualidade. Também foi com o amigo que numa festa tomou o primeiro porre da sua vida.

A diferença de dois anos entre eles nunca foi um problema. Harry não sabia, mas seria com Zayn que compartilharia os segredos que nunca conseguiria dividir com mais ninguém. Que aquele sujeito presenciaria a maioria de suas bebedeiras, as de alegria e as de tristeza, sem julgamentos, que estaria ao seu lado nos bons e maus momentos. O único que teria liberdade eterna de abusar da sua paciência com o seu distorcido senso de humor.

Thirty Days With LouisOnde histórias criam vida. Descubra agora