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Era o sábado em que deveria ter acontecido o casamento. Passou o dia inteiro arrumando, atualizando e adiantando alguns projetos inacabados. Muita coisa tinha sido deixada de lado com os preparativos para o enlace, porém agora precisava pôr tudo em ordem.

Se quisesse por o pé na estrada com a consciência tranquila, precisava ao menos arrumar a bagunça na vida profissional.

O desfecho de sua história de amor, ou desamor, vai entender, seria cômico, se não fosse trágico. Estava triste, mas não por ter sido abandonado, mas por que enfim se dera conta que seu destino era à solidão. Nem mesmo seria capaz de viver uma relação de mentira como tantas pessoas conseguiam. Se fosse sincero consigo mesmo, entenderia que a vida a dois não era algo que lhe fora destinado.

O problema de se amar sem ser correspondido é que você está sempre sozinho, mas nunca disponível. Toda pessoa que passou por sua vida, irremediavelmente entendeu isso da pior forma.

Nick entendeu isso, mas ao contrário dos outros, soube dar o troco.

Harry jamais poderia em sã consciência dizer que não mereceu o que o noivo lhe fez. Depois do primeiro momento de raiva, tudo o que sobrou foi uma onda de alívio. Nada devia a Nick. Uma culpa a menos para carregar.

Além disso, estava livre. Ou quase.

Fraco? Sim, quando se tratava do seu coração era um molenga.

Abandonado e roubado. No fim das contas Nick havia se vingado onde mais doía: em seu orgulho e em seu bolso. Era a maior fofoca do momento na cidade. Logo Zayn saberia.

"Não haveria limite para o inferno astral na vida de uma pessoa?"

O seu melhor amigo iria debochar dele até a próxima encarnação, depois de alguma tentativa de consolo possivelmente mal sucedida. Talvez nem isso.

Des Styles era outro ponto tenso daquela história. Ele se culpava pela fuga do seu noivo, por causa da briga no jantar dias antes. Poderia ter desfeito a confusão, mas não conseguiria conversar com ele sem ter as emoções sob controle. O que obviamente era improvável num curto espaço de tempo.

Na segunda-feira partiria. Viajar por uns tempos sem destino. Esquecer as coisas, tomar algumas decisões difíceis. Ainda estava com o firme propósito de ir para bem longe e nunca mais voltar. O que fosse preciso para encontrar a paz de espírito outra vez.

Livre.

Harry nem se lembrava como era a sensação de estar livre. Teria que reaprender a ser só. Certo, agora estava se iludindo. Ele era uma dessas pessoas com o maravilhoso talento de viver na mais completa solidão, mesmo estando rodeado de gente em cada momento de seu dia. Era do tipo que sempre queria mais do que poderia ter. Estava afundando em auto piedade.

"Perfeito!"

Bem, ele poderia se concentrar na única coisa que lhe dava felicidade: trabalhar. Trabalhar e trabalhar, até estar tão cansado a ponto de desmaiar sobre a cama.

Antes tiraria férias da própria vida, mas quando voltasse iria trabalhar. No momento pensava em viajar pela Índia ou talvez Tibet. Renascer espiritualmente. Aprender a conviver com a dor. Sim, a dor o escolhera para companheiro, quanto mais rápido aceitasse melhor poderia lidar com essa realidade.

"Auto piedade era mesmo uma droga."

Quase ao meio dia, uma movimentação suspeita na sala de seu pai lhe fez constatar que não estava sozinho. Não queria enfrentar ninguém ainda, seu celular estava desligado por isso, falara com Des mais cedo afirmando que estava bem. Que precisava apenas ficar um pouco sozinho. Mas que seja! Quando mesmo o acaso respeitou o seu desejo? Sim, nunca.

Thirty Days With LouisOnde histórias criam vida. Descubra agora