Carta de um Indivíduo Umbrático

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Meu quarto está azul escuro, ligo-o, isto quer dizer, ligo o botão. Ou melhor ligo o interruptor. 

A lâmpada se encontra fraquíssima, praticamente uma luz cinza pronta pra desencadear um vácuo.

Porém o que escuto são apenas sons, sons de moscas a rodear, moscas que não estão lá. 

Bebo de meu sangue, extraído com um corte feito de navalha, corte da palma de minha mão direita.

Sangue corre num copo americano e desce, desce, desce célere até chegar acima de meio copo. Misturo açúcar pra ficar mais suculento.

Dessa vez, corto uma parte da sola do meu pé, sola de meu pé com recheio de carne. Fatio como se fosse um pedaço de presunto. Tenho várias feridas que se transformam em cicatrizes. Retiro-as, retiro as cascas pra comê-las também.

Então as abençoei dizendo: 

'Este é sangue do meu sangue, carne da minha carne. Eu como, eu bebo em memória de mim.' 

Neste quarto de luz azul morbífico, este quarto em que estou, me despeço. Estico a corda, corda longa, corda longa que vai desembocar numa morte suja. 

POETIZA-ME OU TE DEVOROOnde histórias criam vida. Descubra agora