Metamorfose Ambulante

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Lá vem o negão, negão de cabeleira, cabeleira, cabeleira crespa, dura, verdadeiramente palha de aço. Portentosa cabeleira que parece um cotonete de orelhão.

Lá vem o negão, igual, igual escuridão. Nas andanças belo-horizontinas, não teme a ninguém, ninguém! Nem mesmo o sol escaldante do além. 

Lá vem o negão, igualzinho, igualzinho carvão. Molecada ao vê-lo blasfema: 'Olha o Oxum! Olha o Oxum!' Molecada ao vê-lo zomba: 'Olha o tiziu! Olha o Tiziu!'

Entretanto, estiloso negão não se rendeu a provocação. Soltou estrondoso berro a todos os cantos: 'Não sou Oxum pois este tal de Oxum é coisa do cão tinhoso, coisa-ruim. Também não sou tiziu pois não sou passo preto e sim gato preto.'

Lá vem o negão com sua negona e os seus três neguinhos, família preta retinta.

Lá vem o negão com sua negona e os seus três neguinhos, família preta retinta a esnobar tudo e a todos. Família preta retinta, negão com sua negona e os seus três neguinhos, todos eles foram à praça. Chegando lá, usufruem dela. Ao lado direito deles, estão a brincar uma família de primatas bípedes acéfalos de pelugem branca e um deste primatas bípedes, a do sexo feminino com tatuagem no peito duma cruz quebrada. Vulgos: - branquelos, leites azedos, alvejantes leitosos. Estes onívoros de quatro olhos, empalamadas figuras a assemelhar-se a bonecos de neves. Na cesta de piquenique deles, estão bananas, bananas que parecem grãs supositórios que cada um a enfiar no rabo um do outro ou no rabo dos outros sem nenhum constrangimento. Do lado esquerdo deles, estão a brincar uma família de caiporas e curupiras preguiçosos com seus caciques e penduricalhos. E lá no centro do olho dum fiofó em ebulição, veadinhos e alces a trotar desfilando entre plumas e paetês. 

O circo está pronto! Faunas e lendas se misturam e se metamorfosearem numa, numa metamorfose ambulante. Metamorfose ambulante cheia, cheia de balangandãs e patuás. 


POETIZA-ME OU TE DEVOROOnde histórias criam vida. Descubra agora