Existe Cadáver em mim?

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Existe cadáver em mim? 

Em mim...

... existem cadáveres?

Sob ergástulos subterrâneos, zumbi metade vivo metade morto levanta-se pro anoitecer do novo amanhã.

Este cadáver sou eu?

Sou eu este cadáver?

Ressuscitado ele vai em direção a terra árida. Árida terra que a gente chama de selva urbana.

Ratos, baratas, escorpiões, piolhos, pulgas, carrapatos, aranhas são vistos e ouvidos. Não se encontram formigas e nem abelhas.

Ressuscitado ele vai em direção ao deserto do opróbrio, oásis de impigens, bactérias pululantes. Chafariz a urdir regozijos de mendigos, meretrizes, defloradores, ladrões, homicidas, teocidas. Este zumbi putrefato de pele a se desfazer igual areia. Vísceras a aparecer, cérebro pra fora a sair do crânio já gaseiforme.

Este cadáver sou eu?

Sou eu este cadáver?

Inópia do surrado corpo decrépito a buscar alimentar aos filhotinhos e não se encontra alimentos pros filhotinhos. Famintos, tais filhotinhos, os gusanos comem-no,devoram-no. Porventura eu seja este cadáver, consumido por filhotes de cadáveres humanos dentro de mim?

Não obstante, ser como um podredouro em que podricalhos, pústulas sobrevivem.

Não obstante, ser como um livro velho, inquilino de porão, comido por traças.

Este cadáver sou eu?

Sou eu este cadáver?

Por causa duma sociedade egocêntrica. Por causa duma sociedade puritana. Sociedade sectária de doenças que me contaminou e a peculiar sociedade expurgou a dizer: "T'ESCONJURO!" 

O que antes contaminou.

POETIZA-ME OU TE DEVOROOnde histórias criam vida. Descubra agora