C A P I T U L O S E I S

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Caminhamos lentamente pela rua, em uma noite fria de inverno, o vento gelado soprava o meu rosto causando arrepios e meus cabelos voavam com facilidade, enquanto meu corpo reagia de diferentes formas a sensação de ver Gabriel e mais ainda, tê-lo tão próximo a mim, segurando minha mão, ao mesmo tempo que um calor percorria pelo meu corpo, meu coração não parava de bater bem forte, parecia que ia sair do meu corpo  a qualquer momento, de repente comecei a sentir  um incomodo tão grande, então soltei da mão dele e continuamos andando até o meu restaurante favorito.

-Aqui continua do mesmo jeito - Gabriel diz olhando por todo local , assim que entramos e nos sentamos.

Olho em volta, o chão com azulejos brancos, que agora estavam encardidos já, depois de anos, as paredes com um papel de parede azul bebê, descascando em algumas partes, um lustre enorme e elegante no centro do restaurante, que era bem pequeno e aconchegante, envolta do teto várias outra luzes, os bancos eram acolchoados e as mesas em formato quadrado, no máximo cabiam um total de dez mesas nesse estabelecimento e apesar da aparência um pouco velha, o local estava sempre limpo, cheio e convidativo principalmente em ocasiões como esse, um frio de um sábado a tarde, além dos donos e funcionários serem super simpáticos e simples, o que tornava tudo muito melhor.

-Sim, nada mudou - eu digo sorrindo.

-Tem certeza? - ele pergunta olhando bem fundo dos meus olhos e sei que essa pergunta tem um duplo sentido.

Com essa pergunta, a minha cabeça volta ao passado, depois do dia que nos conhecemos, no dia da minha apresentação do trabalho de conclusão de curso e todo meu passado vem a tona, se fazendo mais presente do que nunca.

SETE ANOS ATRÁS

-Ate mais Manuella - ele disse após me beijar pela primeira vez.

Ele diz e sai andando em direção ao seu carro, sem olhar para trás, fico encarando-o sem esboçar qualquer reação, sem ao menos dar um tchau, ele entra no carro e sai, sumindo do meu campo de visão, enquanto eu fico parada vendo ele sumir diante dos meus olhos.

Entro na minha casa, ainda com coração acelerado pela adrenalina do momento, subo as escadas até meu quarto, mais feliz do que nunca, ainda conseguia sentir a sensação dos lábios dele movendo-se nos meus lentamente, gentis e doces, aquilo me despertou um tesão que eu nunca tinha sentido em toda minha vida, poderia beija-lo várias vezes seguidas sem cansar, só para apreciar essas sensações todas que despertou em meu corpo e na minha mente, talvez tenha sido o fato dele ser mais velho e da posição que ele ocupa (cargo dele ) que deixou tudo muito mais excitante.

-Manuella, já chegou? - minha mãe bate na minha porta após alguns minutos, me fazendo sair dos meus desvaneios.

-Sim mãe, faz quase uma hora - respondo me recompondo.

-Posso entrar ? - ela pergunta.

-Mas é claro - respondo, ainda acho engraçado ela perguntando se pode entrar no meu quarto, que ela paga, na casa dela.

-Filha, você está tão feliz, como foi sua apresentação?- ela pergunta entrando no meu quarto, me dando um abraço apertado e sentando do meu lado na minha cama, observando meu seblante feliz.

-Melhor impossível mãe- digo suspirando e levantando meus braços até em cima da minha cabeça, me espreguiçando.

-Tem mais alguma coisa para me contar ?- ela pergunta, sempre persuasiva, realmente quando dizem que mãe tem intuição eu acredito, ela sempre sabe de tudo antes mesmo que eu conte ou pelo menos suspeita de algo .

-Nada demais- respondo dando de ombros.

-Então diga - ela insiste.

Contei para ela como foi meu dia, como foi minha apresentação, como estava assustada com a banca bem na minha frente e de como todos gostaram e aplaudiram.

-Só isso? Tem certeza que não tem mais nada para me contar ? - ela pergunta olhando desconfiada.

-Colocou uma câmera em mim? - pergunto rindo.

-Fala logo Manuella.

Comecei a contar de como Gabriel chegou em mim e como nos conhecemos, também do desfecho da nossa noite.

-Fico feliz que tenha sido ótimo filha, quero conhecê-lo - ela diz animada.

-Mãe, nós só nos beijamos, nada demais - eu digo sem graça.

-Jovens - ela diz virando os olhos.

-Jovens nada, a senhora bem que podia beijar na boca também - eu digo sorrindo, mas no fundo falando sério.

-E eu lá tenho idade para isso Manuella ? - ela diz ofendida, colocando a mão direita no peito.

- Óbvio que tem, a senhora não está morta - eu digo.

Assim que eu pronunciei essa frase, senti que ela ficou esquisita, de repente ficou tensa, olhando para os lados, incomodada com algo, com um olhar triste .

-Aconteceu alguma coisa hoje mãe?  - perguntei preocupada chegando mais perto dela.

-Não é nada filha,  só estou cansada porque hoje o dia foi cheio.

-Esta se sentindo bem? - pergunto ainda preocupada.

-Fiquei triste de não ter ido te ver hoje, só isso, não se preocupe.

-Poxa, era fechado ao público, eu bem que tentei te levar, insisto na verdade, mas só podia estudante de psicologia e a banca - eu disse

-Foi até bom eu não ter ido, pelo menos você conheceu o Gabriel - ela diz levantando as sobrancelhas.

-Já disse que foi só um beijo - digo dando de ombros.

- Até agora .... - ela diz piscando - Vou fazer a janta - ela diz me dando um beijo na testa e sai do meu quarto.

Levanto da minha cama, me espreguiçando mais uma vez e vou tomar um banho bem relaxante quente pensando no meu dia de hoje, fico de baixo do chuveiro enquanto a água passeia por todo meu corpo, me trazendo tranquilidade.

Gabriel tinha um olhar penetrante, impressionante que nos cinco anos que estive naquela faculdade nunca o tinha visto antes e logo no último dia eu o vejo, tem coisas que acontecem da forma que devem acontecer, pelo menos me despedi daquela faculdade da melhor forma possível.

De volta ao passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora