De volta ao passado

C A P I T U L O Q U A T R O

Esse último ano foi bem cansativo, aumentei minha carga horária na faculdade em que dou aula,  tudo para não pensar nos acontecimentos ruins da minha vida que aconteceu nos últimos anos, estava  no mês que mais me trouxe tristeza em toda minha vida, o mês de julho, mês que levou a minha mãe para longe de mim, para sempre, hoje faz um ano, um ano que eu não tenho minha melhor amiga do meu lado, ainda assim a saudade ainda aperta fazendo doer meu peito.

Me lembro que após a partida do meu pai minha mãe ficou bem triste, mas ela tentava demonstrar para mim que estava bem, estava sempre com sorriso no rosto, com o tempo ela conseguiu se reerguer, mas em nenhum momento ela deixou de trabalhar para sustentar a casa toda, ela só pedia para que eu estudasse que ela dava o jeito dela, assim ela o fez, nunca a ouvi se lamentando por ter sido abandonada .

No dia da minha colação de grau, lembro ter visto minha mãe chorar, orgulhosa, de alegria, foi o dia que eu mais a vi emocionada, por ter conseguido dar conta de tudo e ter visto sua única filha se formar e encaminhada, naquele momento eu não sabia, porém meses depois descobri algo que mudaria para sempre a minha vida.

No dia da colação de grau, minha mãe já tinha descoberto o câncer no estômago, porém ela não tinha me dito até então porque não queria estragar meu dia, isso há sete anos .

Um mês após minha formatura, ela me chamou e contou o que estava acontecendo, disse para eu não me preocupar porque ela já estava em tratamento e que ficaria bem, porque descobriu no começo, mesmo ela tentando me tranquilizar meu coração estava aflito, porque ela estava com a pior doença que existe, que é o câncer.

Fiquei ao seu lado durante o tratamento que durou alguns meses e comecei minha especialização em psicologia organizacional, quando o médico disse que ela estava curada, saímos para comemorar, eu pedi para que ela escolhesse algumas roupas e sapatos e paguei, é o mínimo que eu podia fazer pela mulher que me deu de tudo.

Mas infelismente nossa felicidade não durou muito tempo, após quatro anos da cura do câncer, ele voltou e com força total, todo aquele medo, desespero e tristeza voltou junto com ele, mas o pior é que virou metástase, o câncer que antes só estava no estômago, se alastrou para o intestino e fígado rapidamente, mesmo minha mãe fazendo o tratamento, fazendo as seções de quimioterapia, as células cancerígenas continuavam se reproduzindo mais e mais, a quimioterapia não conseguia conte-las e foi ai que o médico decretou que minha mãe estava no estágio 4 do câncer, o estágio mais temido pelos pacientes e familiares, o terminal.

No dia que fui com a minha mãe em uma consulta e o médico disse que não podia mais fazer nada, que o corpo não estava mais reagindo aos tratamentos, meu mundo desabou, enquanto minha mãe olhava para o médico petrificada eu chorava igual uma criança, eu que sempre odiei o câncer iria perder minha mãe para ele.

Após a consulta, minha mãe durou mais uns seis meses e depois se foi, para sempre. Esse mês de julho, faz um ano que eu não a vejo, que não sinto seu abraço, não vejo seu sorriso, nem ouço a sua voz, foi o ano mais difícil da minha vida, o ano que mais trabalhei, que mais  fiquei com homens, que mais sai, tudo isso para manter minha mente ocupada e fazer com que eu não pensasse nela ou sentisse sua falta, mas era impossível, por mais coisas que eu fizesse eu sempre sentiria falta dela e nada nunca iria substituir a presença e lugar dela na minha vida .

Eu sempre fui forte ou pelo menos tentei ser forte, mas esse mês é impossível não deixar que a fraqueza tome conta de mim, nem que seja por algumas horas ou dias, hoje faz um ano que minha mãe faleceu e ela nunca mais voltará, isso dói muito em mim ainda.

Lembro-me das últimas palavras que ela disse antes de falecer " você é o meu orgulho", eu sorri com aquilo e sempre que me lembro ainda sorrio, eu prometi para ela que honraria com tudo que ela fez por mim e fico feliz que ela tenha reconhecido isso.

Mesmo doente, mesmo fragilizada, minha mãe nunca deixou de sorrir e ser minha amiga, mesmo com diversos problemas, com muita dor, ela sempre queria saber de mim, como estava meu emprego, minha vida amorosa, sempre ouvia meus desabafos, como estava me sentindo.

Caminho lentamente até a janela do meu quarto e olho para o céu, sorrio olhando para uma estrela brilhante, mais brilhante do que todas no céu, sei que é ela, sempre foi uma pessoa cativante, onde chegava fazia amizade, todos a amavam, olho para céu novamente e sinto paz, não importa aonde ela esteja, sei que está bem e descansando.

- Para sempre vou te amar mãe- digo em voz alta enquanto a estrela brilha mais ainda e sei que aonde quer que ela esteja, está olhando por mim e me protegendo, isso conforta meu coração.