C A P I T U L O Q U I N Z E

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Conforme o tempo foi passando, cada vez mais eu cuidava da minha mãe, a acompanhava na quimioterapia, fazia com que a vida dela fosse muito mais alegre para que ela conseguisse passar por essa fase difícil de cabeça erguida.

Já tinha começado a trabalhar na multinacional e confesso que estou gastando bastante da experiência e mais ainda do salário e benefícios, realmente vale a pena estudar para obter uma estabilidade financeira e eu devo tudo isso que está me acontecendo a minha mãe.

Como de rotina, mais uma terça a noite acompanho a minha mãe ao tratamento. Ela já está no tratamento há meses, lutando bravamente contra o câncer.

-Bom dia senhora - disse a médica assim que entramos no consultório e sentamos.

-Bom dia - nós duas respondemos juntas.

-Tenho uma notícia para vocês - a médica diz.

Ela olha hora para mim e hora para minha mãe, seu olhar é sério, o que faz com que meu corpo todo enrijeça. Os segundos que ela nos olha mais parecem horas e não posso deixar de respirar ofegante, enquanto meu coração palpita com força total dentro do meu peito, sentindo medo.

-Diga logo doutora, por favor! - eu digo desesperada, sentindo minhas pernas tremeram.

Ela para seu olhar na minha mãe, estala os dedos e o pescoço, sem desviar da minha mãe um segundo sequer.

-A senhora conseguiu passar com êxito  nessa fase do tratamento, não precisa mais das quimioterapias - ela disse de uma vez só.

Mal posso acreditar, essa é a melhor notícia que eu poderia receber. Viro para mim mãe e percebo uma lágrima caindo dos seus olhos de emoção, finalmente aqueles meses de torturas chegaram ao fim.

-Conseguimos - eu digo a ela.

Nos abraçamos e ficamos um tempo assim, ela havia emagrecido bastante com o tratamento, ainda assim  a abracei com muita força. A felicidade tomava conta de mim e dessa vez meu coração batia forte, mas de alegria e emoção.

-Então acabou essa tortura ?- perguntei a médica, mal podendo conter a felicidade que transbordava em mim.

-Conseguimos vencer essa batalha, porém ela terá que ficar vindo fazer exames de rotinas de tempos em tempos, vamos torcer para que o câncer não volte - a medica diz.

-Então não estou curada para sempre doutora ? - minha mãe consegue falar, pela primeira após receber a notícia da cura.

-Seu câncer está em remissão, o que significa que não há sinais de atividades dele no seu organismo, mas não é possível que eu diga que você está curada porque o câncer tem risco de recidiva tardia ou seja, pode voltar, mas vamos torcer para que isso não aconteça - a médica diz.

Minha mãe olha para baixo e denovo vejo aquele semblante triste em seu rosto.

-Ei- eu digo levantando seu queixo.

Ela me olha, com aquele mesmo olhar triste de quando me contou da doença, eu ainda não me acostumei de ver uma mulher que sempre foi forte como ela estar desse jeito devido a uma maldita doença.

-Estou do seu lado, independente do que aconteça, ainda estarei do seu lado, para sempre, vamos passar por isso juntas - eu digo e ela me abraça.

Ficamos abraçadas durante um tempo e naquele momento a única coisa que eu queria é que ela durasse por toda minha vida, não queria nem imaginar a dor que seria perde-la.

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Após alguns dias, chega sábado, o dia mais esperado por mim desde que eu o conheci. Chegando na sala me deparo com seus braços torneados sob a blusa social azul, seu olhar  coberta por seus longos leques de cílios pretos e grossos, o sorriso largo destacando as covinhas  fundas de que tanto gosto em suas bochechas, o cabelo molhado o deixava com um ar sexy e tive que me concentrar para não imaginar tomando banho, sem sombras de dúvida eu poderia ficar olhando para ele o dia todo, sua beleza era diferenciada devido ao seu jeito de ver e levar o mundo.

Quando ele me vê, eu dou bom dia, como se não tivéssemos a intimidade que temos e ele responde um bom dia seco, sem sorrir, o que eu acho bem estranho.

Durante a aula ele me olhava pouquíssimas vezes, sem demorar os olhos em mim, rapidamente os desviava. Quando finalmente chega o intervalo, me levanto rapidamente, arrumo minhas coisas e saio porta a fora, dessa vez sem que ele me peça para espera-lo para almoçar comigo.

Sigo por aqueles corredores sozinha, o que era incomum, visto que ele sempre fazia questão de me acompanhar.

Chegando no restaurante que vou todo sábado almoçar, peço lasanha a bolonhesa e suco de uva, aguardo enquanto meu prato não fica pronto e começo a mexer no celular, acessando minhas redes sociais.

Após alguns minutos minha comida fica pronta e eu começo a comer, a cadeira a minha frente permanece vazia, como em silêncio durante alguns minutos. Após comer tudo, fico uns minutos ainda esperando por ele e nada dele chegar, por fim levanto e vou sozinha até o "nosso canto" para apreciar um pouco a paisagem e fazer com que o tempo passe mais rápido.

-Sim- eu ouvi Gabriel dizer assim que me aproximei do "nosso lugar".

Quando olho em volta me deparo com uma mulher alta, bonita, magra, mais velha, com um vestido longo florido e cabelos loiros percorrendo por toda extensão das costas, ela esta com as mãos em seus ombros e perto, perto demais, não consigo evitar de sentir raiva diante dessa cena e o ciúme me corrói por inteiro, dou uns passos para ficar atrás de uma árvore e não ser vista, esbarro em uma pedra fazendo barulho .

-Manu- Gabriel diz olhando para o lado e se soltando da mulher.

-Oi- respondo como se aquela cena não me afetasse em nada- Desculpa atrapalhá-los - digo e saio andando rápido no sentido oposto.

Ando mais rápido que eu posso, tento tirar da minha cabeça aquela cena, meu coração bate tão rápido e só consigo sentir tristeza, então era por isso que ele estava dia todo estranho comigo.

-Manu- ouço a voz dele me chamando.

Viro em sua direção enquanto ele vem correndo ao meu encontro e logo atrás dele, vem a mulher loira também.

-Manu, não é isso que você tá pensando - ele diz.

-É mesmo ?Então o que estou pensando ?- pergunto irônica.

-É isso mesmo pirralha - a mulher diz.

-Fica quieta Sheila, já chega- Gabriel diz

-Eu não acredito que você está brigando comigo por causa dessa pirralha- ela diz.

-Essa "pirralha" é a mulher que estou apaixonado - ele diz

-Ela é só uma aventurinha, como sempre, já já você  volta correndo para mim - ela diz olhando para minha cara e rindo.

-Professor- eu digo respirando fundo- se resolva com ela, vou indo, tenho que voltar para sua aula - digo tentando ser forte.

-Pegando aluna? sabe que isso é proibido né? se o nosso chef descobrir, despede você - ela diz debochando ainda mais.

-Licença - digo e saio andando, ainda mais chocada ao saber que eles trabalham juntos .

-Manuella- ele diz me alcançando de novo.

Olho em seus olhos e seguro ao máximo para não derramar as lágrimas que estão nos meus olhos, seu olhar é tão intenso que causa um aperto ainda maior no meu peito.

-Oi- eu digo e paro de andar, ficando de frente para ele, encarando-o.

-Já estamos ficando há quatro meses, eu terminei com ela há três meses, quando percebi que tinha me apaixonado por você - ele diz .

-Bastante tempo, não precisa me explicar nada- eu digo.

-E...- ele diz.

-E?- pergunto.

-Não da mais para continuar com essa relação - ele dispara.

-Como assim Gabriel?- pergunto surpresa.

-Desse jeito não dá mais, chega- ele repete me olhando sério.

-Então é por...-  começo a dizer e a tristeza toma conta do meu ser e meu coração permanece acelerado.

-Não da mais para continuar assim Manuella, namora comigo? - ele dispara.

E meu coração explode em um mix de surpresa e alegria, mas o que eu não sabia era que aquele pedido pudesse fazer no futuro um estrago muito grande na minha vida afetiva.

De volta ao passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora