31º Capítulo

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C. 31 - Depression

POV Ana On

Era de manhã. Não, não acordei. Porque não dormi. Liam também não dormiu. Pelo menos em casa, não passou a noite. Sentia-me vazia. Não tinha vontade de fazer nada, de falar com ninguém. Nada me fazia sorrir, chorar. A minha reacção era nula. Todas as coisas que me faziam continuar a viver, já não tinham o mesmo efeito. A dor desapareceu, ou transformou-se em fantasma. Era isso que eu me sentia. Um fantasma.

Levantei-me da cama. O meu corpo doía. Caminhei até à casa de banho, ninguém andava pelo corredor. Tranquei a porta atrás de mim e olhei-me no espelho. A minha face simples, branca; os meus olhos avermelhados, escondendo o verde baço; o meu cabelo loiro atacado por uma tempestade constrange. O meu corpo magro e frágil apenas protegido pela camisa de noite azul-bebé, seco. Agarrei as pontas da camisa de noite e puxei-a para cima, libertando-a do meu corpo. Deixei-a cair no chão e olhei para mim novamente. Olhei para uma criatura sem utilidade, repugnante, podre. “Quem sou eu, afinal? O que faço no mundo? Faço alguém feliz?” Magoo quem amo. Disso tinha consciência. “Mas afinal, amo alguém? O que estou a sentir? Estou vazia, não sinto o meu batimento cardíaco. Não sinto o peso do meu corpo. Apenas sinto o peso do meu pensamento e as ligeiras mas incomodativas dores de cabeça, e o ardor dos olhos inchados.”. Onde estava Liam? Eu precisava dele naquele momento. Mas eu afastei-o. Eu afastei toda a gente. Eu precisava de alguém, mas não queria falar. Eu precisava de ajuda, eu gritava de ajuda por dentro. Mas não queria ser ajudada. Apenas queria extinguir-me, parar de sentir, parar de sofrer, parar de magoar, parar de respirar.

A raiva invadiu o meu espírito e num impulso nervoso os meus dedos dobraram-se e encostaram-se à pele da minha barriga, deslizaram pressionando com força, muita força. As minhas unhas perfuraram a pele. Soluçava, caiam lágrimas repetidamente. Gemia, gritava baixo. Quando a dor se tornou maior do que o sofrimento, tirei a mão da barriga. Limpei os olhos rapidamente. Vi-me ao espelho. Um arranhão vermelho, doloroso, enfurecido cobria a minha pele abdominal. Ao chorar faltava-me o ar. Inspirava bem forte, tentando receber oxigénio. Gemia ao chorar. Escorreguei pela parede e desfaleci no chão, chorando, vulnerável. O arranhão ardia, mas esse ardor não era nada comparado com a dor do vazio que sentia.

Ouvi passos no corredor. Levantei-me rapidamente do chão, limpei as lágrimas pressionando os dedos nos olhos. Passei o pulso pelo nariz e entrei rapidamente na banheira. Calei-me, chorei interiormente. Tomei um duche, lavando o meu corpo com a água canalizada, e lavando o meu rosto com as minhas lágrimas salgadas.

POV Ana Off 

{http://www.youtube.com/watch?v=ywyTXSgin6c} (Don't You Worry Child - Conor Maynard)

POV Andreia On

Uma luz forte e quente incomodou os meus olhos. Abri-os. Mais uma manhã de Verão – aquele Verão inesquecível. Apertei os olhos com força, espreguiçando-me ainda deitada. O braço de Zayn abraçava-me calorosamente enquanto ele ainda dormia. Passei a mão pelo seu braço, fazendo ligeiras carícias na sua pele. Pensei em tudo o que tinha acontecido desde que Gonçalo morrera. Episódio que me passava ao lado a maior parte das vezes. Quando me lembrava do seu rosto moreno, da sua voz grossa e arrepiante o meu coração dava um impulso, uma espécie de dor. Dizem que é saudade.

Zayn mexeu-se na cama, travando os meus pensamentos correntes. Com cuidado, retirei o seu braço da minha cinta. Pousei-o na cama suavemente. Beijei a testa de Zayn e, de seguida, os seus lábios quentes.

Saí da cama. Não me dei ao trabalho de trocar de roupa. Desci mesmo assim, em camisa de dormir. Ninguém tinha acordado, como sempre, fui a primeira.

Entrei na cozinha coçando o olho direito e bocejando. Abri o frigorífico e tirei um iogurte morango-kiwi. Quando estava a desapertar a tampa do iogurte, ouço o meu telemóvel tocar. A minha mãe!

- Mamã!, como estás, como estão todos? – Perguntei libertando toda a minha alegria na minha voz.

- Olá filha. – A voz da minha mãe soou ao meu ouvido, não tão alegre quanto eu esperava.

- Que voz é essa? – Perguntei engolindo em seco.

- Andreia, tenho uma notícia horrível para te dar.

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