30º Capítulo - Parte II

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C. 30 - Mistake

Parte II

Peguei nas chaves do carro e saí de casa dando um jeito ao cabelo. Liam não teria ido longe.

Rodei a chave no carro e coloquei a primeira mudança. Arranquei e segui pela rua procurando Liam nos passeios. Trocava os olhos, às vezes. Trocava de passeio em cada minuto que passava. Andava a uma velocidade de 30 quilómetros por hora para puder observar as ruas. Mesmo fazendo figura de velhinho com carta, não via Liam em lado nenhum.

Decidi estacionar e andar a pé. Tinha uma vaga ideia de onde ele poderia estar.

Tempo depois encontrava-me na rua da praia. Lá estava Liam sentado nas arribas a deprimir.

Sentei-me ao seu lado, apoiando as mãos no chão. Sacudi-as da areia depois. Não disse nada e olhei para o horizonte, enquanto ele olhava para as mãos mortas entre as pernas.

- Encontraste-me. – Ele falou rouco.

- É. – Respondi. – Ou te ias embebedar, ou então ias para um sítio onde te lembrasses dela. Elas meio que tem razão, somos iguais.

Liam sorriu. Falsamente.

- A minha intenção não era que ela berra-se contigo. – Continuei.

- Eu nunca a tinha visto assim. Ela é tão calma… - Falou ele, nunca tirando os olhos das mãos paralisadas.

- Como falaste com ela?

- Falei-lhe da adopção, que não me importava se adoptasse-mos… Ela não estava a ficar mais contente, por isso reforcei a ideia…

- Mas tu não devias ter insistido! – Exclamei. – Ouve, a miúda está magoada, está com medo que tu a deixes, se insistires no assunto ainda é pior!

- Mas foi o que me disseste para fazer!

- Não. Eu disse para lhe dizeres que não te importavas de adoptar. Não para a pressionares a adoptar!

- Fiz borrada Lou. – Ele passou as mãos pela cara, carregando na pele. – O que faço? – Perguntou ele, deixando cair as mãos novamente nas pernas, mas desta vez, olhando para mim.

- Não sei bro. – Respondi. Queria ajuda-lo, mas não podia mudar os sentimentos da Ana. – Deixa a Nádia conversar com a Ana. Elas convencem-se umas às outras.

- Esperemos que sim… - Ele suspirou. Voltou a baixar a cabeça.

- Não vais ficar aqui a deprimir. Isso é que era doce. – Disse-lhe, dando-lhe um empurrão leve. – Anda daí, vamos desanuviar.

- Não me apetece…

- Eu sei que anoitece, mas essa é a parte melhor. Levanta-te moço.

Ele sorriu. Lá acabou por se levantar com movimentos de morto.

POV Louis Off

POV Nádia On

Subi a escadaria. O meu coração sentia que Ana estava a sofrer naquele preciso momento. Cheguei à porta do quarto dela e bati. Bati. Bati novamente.

Não obtive resposta.

Voltei a bater e chamei por Ana. E o único som que ouvi foi uma mosca que passou no corredor. Decidi abrir a porta sem autorização. Queria lá saber.

Rodei a maçaneta e abri a porta lentamente. Quando coloquei a cabeça dentro do quarto mergulhei na escuridão. Sentia sofrimento. As persianas estavam fechadas, as janelas fechadas, as luzes apagadas. Apenas consegui ver um brilho: os olhos de Ana que luziam molhados. Ela estava sentada na cama olhando para a frente. Não reagiu à minha entrada, não reclamou por ter entrado sem autorização, não piscou os olhos.

- Ana?! – Foi o que me saiu pela boca fora. Nunca tinha visto Ana naquelas condições.

Ela não se mexeu, não falou, voltou a não reagir. Parecia uma estátua. Uma estátua que respirava. Um respirar inaudível.

Acendi a luz do candeeiro e sentei-me ao seu lado.

- Queres me dizer o que aconteceu? – Perguntei, afastando uma mecha de cabelo da frente do seu rosto.

Ela não respondeu. Tentei novamente.

- O que o Liam disse que te pôs assim? Queres contar-me? – Esperei pela sua resposta. Esperei bastante. Quando a minha boca se ia abrir para lhe fazer outra pergunta insistente, a dela abriu-se também.

- Não. – Foi a única palavra que falou.

- Mas tu tens de falar, desabafar. Vais sentir-te melhor!

- Sai.

- Ana?! – Repeti a mesma pergunta, sem palavras. Não sabia o que dizer, apetecia-me chorar ao ver Ana naquele estado.

- Quero estar sozinha. Não quero magoar mais ninguém. – Desenvolveu Ana.

- Apenas te estás a magoar a ti própria. Fala comigo, por favor. – Insisti. A minha voz tremia um pouco. Ana, reage.

- Sai.

Não tive coragem de insistir. Eu sei que era meu dever fazê-lo, mas não consegui. Apenas a abracei, sem receber o mesmo dela, e levantei-me. Saí e fechei a porta. Olhei para a fechadura: a pequena luz do candeeiro apagou-se. Ana estava novamente na escuridão.

POV Nádia Off

Save You Tonight [EDITING]Onde histórias criam vida. Descubra agora