1º Capítulo - Parte II

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C. 1 - Dissillusion

No dia seguinte.

Uma luz embate contra o meu rosto, sinto a necessidade de abrir os olhos. Encontro-me num quarto desconhecido e o desconforto invade o meu ser. 

   - Onde estou? O que se passou? – Não sei porque estou a falar sozinha. É um ato inútil combinado com o meu batimento cardíaco descontrolado.

Alguém abre a porta do quarto, entrando. Erguo a cabeça para encontrar um rapaz alto, de rosto moreno, lindo… e muito bem constituído.

  - Bom dia, já acordas-te? 

   - Quem és? – Questionei, ainda assustada. Os meus pulsos tremiam.

   - Sou quem te salvou a vida. Quem te salvou de seres atropelada.

A noite anterior emerge nos meus pensamentos e lembro-me de tudo o que mais queria esquecer.

   - Porque fizeste isso? 

   -  Achas que te ia deixar no meio da rua, sozinha e à chuva? – Apesar de intimidante, a sua forma de me encarar diretamente nos olhos é bastante... interessante.

   - Obrigada. – O rapaz sorri perante o meu agradecimento. Olho bem para ele. É lindo… e tem o sorriso mais bonito do mundo.

   - Bem, - Prossegue ele, com um ligeiro ataque de tosse. -  mas nem sequer sei o teu nome. – Senta-se na beira da cama. - Chamo-me Zayn. E tu?

   - Andreia.

   - E queres contar-me porque fizeste aquilo ontem à noite?

   - Mas nós nem nos conhecemos! Somos estranhos!

   - Todas as amizades começam com duas pessoas estranhas. – O facto de ele ter razão forçou-me a calar as minhas opiniões. Fez-se um pouco de silêncio. - Mas se não quiseres contar estás a vontade. 

   - Talvez seja boa ideia... - O meu rosto baixa para as pernas cruzadas e paro de observar as feições de Zayn.

   - Força.

 Provavelmente não deveria tê-lo feito, mas exponho toda a história ao moreno. Estou a impressionar-me a mim própria, sendo que choro novamente. 

   - Eu compreendo-te. – Diz Zayn, com um semblante triste. - Aconteceu-me a mesma coisa.

   - A tua namorada traiu-te? - Erguo a cabeça subitamente.

   - São recordações que prefiro esquecer. Com o tempo isso vai passar, acredita. – Com um suave toque das suas mãos, limpa as lagrimas que lentamente secam na minha cara.

   - Obrigada por me estares a aturar mesmo sem me conheceres. – Curvei um sorriso nos lábios, deslumbrantemente retribuído por Zayn.

   - Não te conheço, mas quero conhecer. – Não estava à espera, mas admito que a sua afirmação me agrada e me entala sem reação.

  - Eu... também. – Voltamos a ficar a olhar um para o outro, calados. Um momento bastante constrangedor entre dois estranhos que estão, na verdade, a cuspir as sua intimidade um para o outro.

O meu telemóvel vibra. Sofia.

   - Desculpa, é a minha melhor amiga, ela deve estar preocupada.

   - Não faz mal, atende. - Ele coça a nuca e eu noto o seu nervosismo.

- Estou.

- Onde andas? Estás bem? – Pergunta Sofia, com voz agitada.

- Sim, estou bem.

- Mas onde estás?

- Eu vou já para casa e conto-te tudo, O.K.?

- O.K., mas despacha-te, estou muito preocupada contigo!

- Está tudo bem, eu estou já aí. Até já!

- Até já!

   - Desculpa Zayn, mas vou ter de ir para casa. – Saio da cama de repente, sentindo uma tontura ligeira consequente do movimento brusco.

   - Eu levo-te.

   - Não é preciso! Eu vou sozinha. – Tentei convencê-lo.

   - Nem penses que vou te deixar ir sozinha para casa. Eu levo-te, não me custa nada. – Sorriu de novo. O seu sorriso era contagiante, perfeito. Comtemplá-lo estava a ser maravilho, até sentir picadas no nariz originando um espirro terrível. - Ainda por cima estás constipada! – Falou ele, arranjando forma de me levar a casa.

   - O.K., ganhaste! – Rimos alto.

Em casa.

Rodo as chaves, trancando a porta da entrada. Sofia aparece logo desparada à minha frente, e começa a bombardear-me com perguntas.

   - Andreia estás bem? Aconteceu alguma coisa? Porque não dormiste em casa?

   - Ai, tantas perguntas para a minha cabeça. – Respondo-lhe, pousando as chaves no móvel da entrada. - Sim, estou bem. – Fiz uma pausa. - Quer dizer, não, não estou bem.

   - Porquê? – pergunta Sofia, franzindo a sobrancelha.

   - Anda para cima, eu conto-te tudo.

 (...)

   - Porque não quiseste ir para o teu quarto? – Sofia questiona-me, sentando-se na sua cama enorme.

   - Porque foi lá que tudo se passou. - Copiei o seu gesto, permanecendo ao seu lado.

   - Tudo? Mas tudo o quê? – Ainda mais confusa ficou. 

A história que contei a Zayn repetiu-se para Sofia. 

   - Andy... Eu sabia que vocês se iam desentender de qualquer maneira, mas desta forma drástica… Nunca pensei.

   - Devia ter vos dado ouvidos. - Ela tomba a cabeça, concordando silenciosamente com a minha afirmação.

   - Já falaste com o Gonçalo?

  - Falar com ele?! Não o quero ver mais à frente nem pintado de ouro! Aquele homem para mim morreu. - Fez-se silêncio perante a minha exaltação.

   - Tu ainda o amas? – A pergunta que eu mais temia. Não podia mentir.

   - Sim. – A minha voz falhou. Sofia envolveu-me num abraço.

    -  Ó Andy… Sabes o que tens de fazer? Esquece-lo.

O carinho de Sofia confortou-me, porém admito que me emocionou ainda mais. As bordas dos meus olhos humedeceram.

   - Mas afinal onde dormiste?

   - Ah, isso… - Funguei, libertando-me do abraço de Sofia. - Um rapaz “salvou-me” de ser atropelada. Eu desmaiei e ele levou-me para casa dele. Chama-se Zayn.

  - Ui ui, que entusiasmo a falar do “rapaz que te salvou”! Isso ainda vai dar coisa…

  - Sofia! – Ri, ainda com os olhos luzentes. - Eu nem sequer o conheço! Provavelmente não o vou voltar a ver.

   - Não ficaste com o número dele? – Perguntou ela, piscando-me o olho.

   - Nem me lembrei disso.

   - Só tu para te esqueceres do mais importante. – Os seus olhos avelã rolaram. - Bem, mas queres trocar de quarto?

   - Se não te importasses, acho que me faria bem.

   - Claro que não me importo! Vou mudar as minhas coisas para lá e trazer as tuas para aqui.

   - Eu ajudo-te. – Levantámo-nos. Ela pegou na minha mao e caminhamos para o corredor. Estava mesmo receosa de entrar ali. Aquelas imagens não me saiam da cabeça.

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