VINTE E DOIS

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Com um último salto planejado, Adrien adentrou a sua tão espaçosa suíte, caindo de pé suavemente no carpete do quarto e apoiando-se no bastão que tinha na sua mão direita esquerda. A água da chuva havia molhado o seu impecável traje preto, laje parecia ter sido perfeitamente desenhado para seu corpo, dos cabelos molhados caíam pingos da chuva que o-deixara naquele estado. O loiro chacoalhou os fios loiros, a água espalhando pelo quarto.

Olhou para o relógio em seu quarto. Não fazia nem sequer uma hora que havia saído daquele quarto e lá estava ele novamente ali. No lugar onde ele nunca devia ter saído, talvez se tivesse deixado Marinette sozinha, espairecendo e refletindo, ele não teria levado um “pé na bunda”. Suspirou.

Plagg — O loiro murmurou o nome do kwami em uma voz baixa, quase inaudível. — Guardar as garras.

Em um passe de mágica, um brilho envolveu o corpo do modelo, e o traje preto que o embalava dos ombros até o dedinho do pé, não mais ali estava. Ele vestia novamente as mesmas roupas que usara naquela maldita festa de Chloe. O terno e a camisa estavam molhados da água da chuva, a gravata presa no colarinho da camisa estava frouxa. E Plagg estava mais uma vez ali a sua frente falando abobrinhas sem parar.

— Burro, burro, burro, burro! — O pequeno kwami preto de gigantescos olhos verdes disse, uma vez fora do miraculous. — Caramba, Adrien, como você consegue ser assim tão burro? — Plagg disse. Era óbvio que aquilo era uma pergunta retórica, então Adrien não se deu o trabalho de tentar responder. E mesmo que tivesse tentado, é claro que a criaturinha o teria interrompido; sua paciência estava esgotada. — Por que você simplesmente não contou a ela que você é o Cat Noir Por que não deixou a porcaria da máscara cair? Por que você — literalmente — não disse as palavras mágicas que fariam você se transformar bem ali na frente dela? E, por favor, em nome de tudo aquilo que há de mais sagrado neste imenso universo, nesta galáxia, não venha alegar que o motivo de você manter a sua boca calada fora devido ao fato da confidencialidade ser crucial. Você mesmo já sabe a verdadeira identidade dela, qual a diferença? — Dizia Plagg preenchendo o silêncio do quarto em uma tagarelice que não parecia ter fim.

— Eu não posso, Plagg! — A voz de Adrien saiu exaltada e irritada. Ignorar o falatório de Plagg, esta noite seria impossível. O loiro respirou fundo procurando calma no fundo de seu ser, para manter a voz controlada da próxima vez que fosse abrir a boca. Ele desabotoou cada botão da camisa branca, devagar e com calma, preparando-se para falar quando estivesse mais calmo. — Eu não posso contar a ela que sou Cat Noir porque — ele começou a falar — Seria egoísta da minha parte. Mais egoísta ainda do que já fui. — A mão percorreu o cabelo loiro antes do garoto jogar a camisa social ao lado da porta de madeira do seu quarto. Afogou o rosto nas mãos molhadas e as levou ao cinto de couro depois para tirá-lo dali. — Contar a ela seria machucá-la ainda mais do que já a machuquei. Seria causar mais dano. Seria pisar no coração dela para vê-la sangrar ainda mais do que ela já está sangrando. — Adrien jogou-se na beira da cama ao sentar, enrolando o cinto de couro na palma da mão. — Ela terminou comigo, Plagg — Adrien disse as palavras baixo demais, o som que saiu de sua boca foi quase inaudível. Era como se estivesse falando sozinho e não com o kwami. — A vida da Marinette está uma zona. Um imenso caos. É como se um furacão tivesse passado e destruído o seu coração em pedacinhos e eu sou o culpado. O furacão sou eu, Adrien Agreste. Ela terminou comigo essa noite, mas ela só se envolveu comigo porque estava com o coração partido. E quem quebrou seu coração foi eu. Eu! — As lágrimas de nervoso começaram a brotar nos olhos de Adrien e em um segundo, Adrien não estava mais sentado na cama e sim de pé com o punho cravado na parede do quarto. — Eu sou o culpado por tudo isso. Eu fui egoísta e ganancioso. Uma pessoa com um bom coração teria deixado Marinette se curar antes de enfiá-la de cabeça em outro relacionamento que não a levará em lugar nenhum. Então, você queria que eu, o cara que quebrou o coração dela e depois se envolveu com ela, usando minha identidade secreta, deixasse a máscara cair e que ela pudesse ver que eu e Cat Noir somos a mesma pessoa. Tem certeza que era isso que você acha que eu devia ter feito?

Miraculous - Um amor InimaginávelOnde histórias criam vida. Descubra agora