VINTE E UM

746 71 36
                                    


Como uma espada de dois gumes enfiada em seu peito, a dor passava cortando no coração de Marinette, abrindo mais uma ferida que sozinha Marinette teria que dar tudo de si, para que a ferida que agora ainda jorrava sangue fresco, um dia se tornasse apenas uma cicatriz. A lembrança de uma dor sufocante que ela teria sido capaz de superar. Mas, agora Marinette não conseguia pensar em nem sequer uma coisa que a pudesse fazê-la ser curada. A mente da garota estava uma bagunça, um turbilhão de pensamentos eram introduzidos em sua cabeça, como em um vagão lotado, eles se apertavam para dar espaço a mais um integrante que entrara, mas no caso da mente de Marinette, não eram seres humanos, eram sentimentos e pensamentos dolorosos e torturantes que a seus olhos eram simplesmente enlouquecedores.

A garota de cabelos azulados corria pelas ruas de Paris, segurando em uma das mãos o par de salto alto que ela usara naquela maldita festa — festa da qual, cuja agora ela desejava nunca ter posto seus pés que agora iam em contato com o chão de concreto. Com a outra, ela mantinha o vestido pouco acima do chão, para facilitar a corrida à sua casa. As lágrimas que Marinette insistia em manter em seus olhos com as poucas forças ainda restantes em seu corpo, escapavam de seus olhos azuis como preciosos cristais. A tempestade que caía do céu não incomodava ao entrar em contato com a sua pele fria, molhando-a cada vez mais, misturando-se com as lágrimas salgadas que uniam-se na ponta do queixo da garota e caía no chão, com uma cor mais escura que o normal devido ao rímel que rapidamente escapava de seus cílios, escorrendo por seu rosto e banhando a sua face.

As pessoas olhavam para a azulada enquanto ela corria pela cidade, mas os olhos já não mais a incomodavam. Pelo menos, não tanto quanto lhe incomodava antes. A ideia de viver sob a vigília dos holofotes, antes poderia parecer estranhamente intimidador, mas hoje simplesmente não lhe surtia mais tanto efeito. Afinal, durante as 24 horas, 1.440 minutos e 86.400 segundos que um dia possuía, Marinette era cercada pelos holofotes. Quando estava vestida no traje vermelhos com bolas pretas espalhadas pelo tecido elástico — um pouco mais colado que Marinette achava, sempre delineando muito bem as curvas de seu corpo, os seios e sua bunda —, ela estava sempre sendo vigiada por tudo e todos, as vezes até sentia que os seres inanimados estivessem a espreita, esperando ansiosamente para ver qual seria o próximo passo de Marinette. Afinal, as pessoas lhe idolatravam. Seu rosto estava registrado em outdoors, estampando panfletos, havia até bonecas dela em todas as lojas infantis. Ela era uma deusa e os cidadãos eram seus servos, era uma Rainha e Paris era o seu reino. Mas, quando não estava mais usando o traje de heroína e a garota que corria elegante como uma gazela e lutava suavemente como se estivesse dançando dava espaço a uma garota estabanada e desajeitada, as pessoas ainda olhavam para ela — Chloe, especificamente —, ansiosa para a próxima oportunidade que tivesse para humilhar a sua colega de classe.

Mais lágrimas escorreram pelos olhos de Marinette empurradas para trás dela, quando correu ainda mais rápido e a força do vento fez as lágrimas passarem de raspão por seu rosto. Mas um sorriso tomou conta do rosto de Marinette quando seus olhos foram de encontro com o edifício de madeira branca em uma esquina: sua casa. Pela janela, podia ver um pouco de seu quarto, com tudo que havia passado nos últimos dias, não passou pela cabeça de Marinette que seu quarto podia novamente se tornar o seu refúgio. Mas, estranhamente, era isso o que o local havia novamente se tornado.

Sua mão foi contra a superfície de vidro da porta, empurrando-a, fazendo ela imediatamente se abrir. O sino no batente da porta tocou, indicando a sua entrada. A porta ainda estava aberta, mas a padaria já estava fechada. As luzes da padaria estavam apagadas, a porta de aço da frente já estava trancada e apenas a portinha de vidro pela qual havia passado, ainda estava aberta, mas com a placa escrita “FECHADO” em letras maiúsculas para o lado de fora. O lugar estava úmido devido a chuva e mesmo que seu pai já não estivesse mais , o lugar ainda não estava totalmente vazio. Ainda haviam dois funcionários na loja, um garoto e uma garota, pessoas que Marinette conhecia, mas que nunca realmente parou para conversar e ter amizade. O seu pai contratou os dois há apenas três e dois meses, quando o ritmo da padaria estava maior que ele e Sabine pudessem lidar. Marinette os apanhou no flagra em uma situação constrangedora. A loira estava com as costas encostadas na parede do canto, ainda usando o seu avental, enquanto o moreno que tinha um braço estendido como que empurrando a parede, beijava a garota, enquanto com a outra mão, ele segurava a garota pela cintura. O beijo foi cessado e seus olhos foram de encontro com a porta, quando a azulada entrou. Em qualquer outra situação, Marinette se importaria com o que seus pais iriam achar sobre o relacionamento de dois funcionários, mas isso simplesmente não lhe despertou interesse, e convenhamos, a azulada bem sabia que não era a pessoa adequada para dizer quem devia namorar quem, certo? Mesmo com sua visão ainda turva, devido as lágrimas que jorravam em seu rosto, ela ainda pôde ver a surpresa, o espanto e a vergonha dos funcionários estampado no par de olhos que a encaravam. Ela não se deu o trabalho de abrir a boca e rezava para que não tivessem notado que haviam lágrimas pelo seu rosto e não apenas a água da chuva.

Miraculous - Um amor InimaginávelOnde histórias criam vida. Descubra agora