Anjo azul_ parte 4

694 48 34
                                    

Meu corpo parecia voar, a música tocava lenta, a ponta dos pés fincadas no chão, os braços no ar, enquanto rodopiava em ritmo da melodia. Esse ritmo aumentou e fiz rodopios mais rápidos, fazendo meus cachos se desprenderem do coque.

A música parou, dando fim a tudo, então parei lentamente, as pernas em um xis e os braços ainda no ar, enquanto olhava o vazio. Suspirei, abaixando os braços e voltando a uma posição normal, assim encarando meu reflexo no espelho.

Precisava me esforçar mais para conseguir o papel de Odette no recital de balé, aquele era o sonho da minha mãe pra mim, mas primeiro precisava dar um jeito nos cachos, porque ela exigia que eu tivesse os cabelos lisos, assim como o corpo esquelético.

Não a culpava por exigir tanto de mim, pois não estava me esforçando o suficiente e isso devia ao fato do passado conturbado. As noites mal dormidas eram as piores e do espelho se podia ver as olheiras profundas na minha pele que estava mais pálida do que antes.

Os lábios esbranquiçados, sem vida, os ombros caídos mostravam o quanto não suportava aquele peso, assim como o corpo magro doentio, divergente do que fui um dia. Aquela não era eu, não a que conhecia, mas pelo visto aquela que estava vendo ficaria por mais tempo.

Caminhei para mais próximo do grande espelho do salão de treino da academia de dança, precisava ver se aquilo que eu via era real. Sim era real, meus olhos azuis perderam o brilho por causa deles, os responsáveis da minha queda.

Caí do palco e não posso me erguer.

[...]

TRÊS ANOS ANTES

A Mandy havia se ido, assim como a Mel e até mesmo a Fanny, sem contar com as outras que iam e vinham o tempo todo para o porão. Eu sabia que minha vez estava próxima, era questão de tempo.

A porta rangeu e ouvi um "hey loirinha!" vindo dos bandidos, então fiquei de pé, nem fazendo questão de me debater, pois era em vão. Ver Fanny voltar quase morta foi o cúmulo para que eu temesse até a alma aqueles homens.

"__ Postura ereta, Camila! Uma bailarina se mantém sempre firme, cabeça erguida e coluna reta."

A voz da minha mãe sempre estava lá, avisando que manter as aparências era a solução, mesmo que estivesse no ninho de cobras assassinas. Meus pés descalços mostravam feridas antigas, sacrifícios para um bem maior, o bem da perfeição.

Eu era perfeita?

Nenhum ser humano era perfeito, estava longe disso e nem que eu nascesse de novo seria perfeita, porque imperfeição estava na carga genética dos humanos. Para alguns eu até podia ser considerada perfeita, mas não era meu caso, não naquele momento.

A cada passo dado em direção ao meu destino, era como se o coração fosse pular para fora do peito, eu estava nervosa e quase caí por conta da tremedeira nas pernas

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A cada passo dado em direção ao meu destino, era como se o coração fosse pular para fora do peito, eu estava nervosa e quase caí por conta da tremedeira nas pernas. Aqueles corredores pouco iluminados pioravam minha aflição, pois já imaginava ser torturada.

You Can Call Me Monster (Livro 7)Onde histórias criam vida. Descubra agora