Catorze

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Eu gostava de vê-la sorrir

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Eu gostava de vê-la sorrir. Gostava de ver a curva que seus lábios faziam rosados em contorno aos dentes branquinhos.
Gostava de ouvi-la gargalhar, mesmo que havia sido a primeira vez. Gostava de vê-la dançar como se não houvesse medo, insegurança, culpa, dor.
A verdade era que ela me quebrava cada vez que chorava e quisesse morrer. Ela era uma estranha que eu havia trazido para minha casa, dando abrigo e oferecendo tudo o que precisasse e não importava a quantia monetária, nunca seria um desperdício.

Hope era totalmente diferente do que eu procurava antes de Malia. Ela apresentava uma fragilidade que minha namorada não mostrava. Ela chorava e não tinha medo de o fazer. Ela era o tipo que eu não procurei e talvez, ela tivesse mais que me mostrar. Talvez ela não fosse tão frágil assim.

Hope Warn era o nome dela. Eu já havia escutado esse nome em algum lugar, mas ela me aparentava totalmente desconhecida.
Desde o momento em que eu a tirei da água e encarei sua face pálida eu sabia que ela era um terreno para explorar. E daí eu descobri que ela tentou se matar e o motivo daquilo não se encaixou até descobri que ela estava grávida. Talvez podia ser o choque da gravidez aos vinte anos e o provável abandono do pai do bebê. E havia a possibilidade de ele estar morto?! Mas agora as hipóteses eram mais amplas a me levarem a pensar que poderia ser isso e mais alguns.
Então ela era uma desconhecida que eu havia salvado de uma tentativa de suicídio, grávida, fugitiva, com uma enorme carga emocional que a fazia entrar em surto psicótico e que no final, chorou até me fazer trazê-la de Califórnia para o Nebraska a abrigar.

Várias perguntas se formavam em minha mente como o porquê dela fugir; de quem exatamente ela fugia; quem era William; quem havia morrido por sua culpa; e quem era realmente ela.
Eu queria saber mais do que ela me mostrava.

— ei!— ela chamou sorrindo.— vai ficar ali?

Eu estava pensativo. Quem ia para uma boate e ficava encarando todos dançarem enquanto pensava?

Ela andou até mim e me puxou para a pista dançando comigo.

Hope me chamava a atenção. Ela me deixava curioso, intrigado, duvidoso entre outras coisas estranhas. Tinha momentos em que ela parecia uma menina e noutros, uma mulher.

— está calado. Acho que passou da idade de se divertir.— ri.

— você nem sabe minha idade!

— hummm…—ela fez uma careta pensativa.— você tem vinte e quatro.

Fiz cara de surpreso e ela riu.

— isso é bruxaria!

— ou talvez eu tivesse encontrado sua identificação sobre a mesa da cozinha. Nunca saberemos.

Eu ri dela e comecei a me mexer menos travado.

— não era melhor a mamãe dar uma descansada?— Liv apareceu com Milles atrás. Ele fez uma careta e eu ri.— são meia noite e quinze.

— boa ideia, ruivinha.

— ah, não gente! Eu nunca havia visto para uma boate antes. Vamos voltar mais tarde.

— nunca foi numa boate?— Olívia arregalou os olhos.— onde esteve sua adolescência inteira?

— trancada na torre com a bruxa.— ela respondeu e Milles me encarou.— estou com sede.

— ah, água ou sumo natural.— ele a encarou com a cara de médico e ela bateu continência.

Ela foi e puxou Olívia com ela. Andei até as poltronas e me joguei com meu amigo.

— e aí?

— ela é dura na queda.— ele respondeu.

— vai investir?

— não sei. A conheci hoje, então talvez.— tentei encontrar a cabeleira ruiva no meio das muitas pessoas.— e a ruiva. Ela foi mantida na torre pela bruxa.— fez aspas com os dedos.

— está tentando juntar as peças desse quebra cabeça?— o olhei e ele deu de ombros.— eu também, cara. Está difícil.

— é. Essas mulheres se juntaram para dificultar nossas vidas.

Elas se aproximaram de nós enquanto bebiam água e se sentaram no meio.

— eu quero ir mesmo, gente. Meus pés já doem.— ela falou.

— sua barriga ainda é pequena. Quanto tempo tens?

— quase quatro.

— Jajá vamos saber o sexo. Seja uma menina, oiça a tia!

— ela disse que será um menino.— falei e eles me encararam.

Hope deu de ombros e sorriu tocando a barriga.

— eu senti.

— e se não for?

— se não for, vai ser amada da mesma forma.— ela falou.

Sua atenção durou para sua barriga. Ela colocou o cabelo atrás da orelha e sorriu de deixando preso naquela visão.

— vamos?— Olívia falou se levantando.

Eu a deixei em casa e depois o Milles. Já no caminho, Hope falava comigo no banco da frente quase como uma robô de tão sonolenta.

— eu vou ter que te carregar mesmo assim ruiva.— falei enquanto ela teimava e dizer que conseguia dormir.

Quando a resposta não veio eu sorri. Entrei na garagem do prédio e deixei o carro a tirando e caminhando até o elevador.

— oh, menino Kyle. Boa noite.

— boa noite, senhor Torres.

— a menina dormiu, foi? Desculpe perguntar, mas ela é sua nova namorada?

— não, ela é só uma amiga. — o elevador chegou e a porta se abriu.— boa noite mais uma vez.

Abri a porta com dificuldade e tomei cuidado para que ela não batesse. A coloquei em sua cama e tirei as sandálias a cobrindo com o lençol.
Todo o quarto já tinha o seu cheiro e mesmo com as poucas coisas dela lá, já tinha a sua cara.
Hope se virou fazendo o lençol se enrolar em seu corpo e deixar suas pernas descobertas. Encarei a pela branca e alva subindo até o início de sua bunda coberta pelo vestido.

Meu celular tocou me despertando e eu corri fora do quarto tentando atender e cessar o barulho de uma vez.

— Martin.— falei.

— está feito. Já não há nada nas revistas e jornais tanto digitais. Elas foram retiradas e morreram de medo do mais novo famoso advogado, Kyle West. Você sabia que eu poderia arrancar uma graninha de todos não é?

— eu não quero isso.— falei.

— tudo bem, criança. Mas não se esqueça que mesmo fora de circulação, muitos já sabem, então ou você manda uma nota para a imprensa ou fica calado e descobre quem foi que vazou do hospital.

— vou pensar, Martin. Muito obrigado por isso.

— disponha, chefe.

Pelo menos aquilo estava resolvido.

HOPE || Primeiro LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora